Neófito
que sou (apenas cinco meses) nas lides de doutrinação (ou como alguns denominam,
esclarecimento) na Sociedade Espírita Casa do Caminho (SECCA), aqui em
Piracicaba, juntamente com os confrades Paschoal Nunes e João Ramalho, veteranos
com os quais muito tenho aprendido, intrigava-me o fato de irmãos desencarnados
que se manifestavam em uma reunião mediúnica, extremamente agressivos,
ameaçadores, endurecidos no mal, retornarem na semana seguinte (ou na outra),
bastante modificados, mais calmos, mais racionais, melhor compreendendo sua
situação no mundo espiritual.
Perguntava-me: como e porque acontece
com eles tão rápida modificação de pensamento?
Assim, instigado a pesquisar o assunto, encontrei no livro O Céu e o Inferno (FEB. 34ª ed., p.
293) uma pergunta dirigida ao Espírito São Luís que me esclareceu. Tomo a
liberdade de transcrevê-la ipisis litteris,
bem como a sua resposta:
“Pergunta (a S. Luís).- Qual a causa de a educação moral dos
desencarnados ser mais fácil que a dos encarnados? As relações pelo Espiritismo
estabelecidas entre homens e Espíritos dão azo a que estes últimos se corrijam
mais rapidamente sob a influência dos conselhos
salutares (grifo nosso), mais do
que acontece em relação aos encarnados, como se vê na cura das obsessões.
Resposta
(Sociedade de Paris).- O encarnado, em virtude da própria natureza, está numa
luta incessante devido aos elementos contrários de que se compõe e que devem
conduzi-lo ao seu fim providencial, reagindo um sobre o outro.
A matéria facilmente sofre o predomínio
de um fluido exterior; se a alma, com todo o poder moral de que é capaz, não
reagir, deixar-se-á dominar pelo intermediário do seu corpo, seguindo o impulso
das influências perversas que o rodeiam, e isso com facilidade tanto maior
quanto os invisíveis, que a subjugavam, atacam de preferência os pontos mais
vulneráveis, as tendências para a paixão dominante.
Outro tanto não se dá com o
desencarnado, que, posto sob a influência semimaterial, não se compara por seu
estado ao encarnado. O respeito humano, tão preponderante no homem, não existe
para aquele, e só este pensamento é bastante para compeli-lo a não resistir
longamente às razões que o próprio interesse lhe aponta como boas.
Ele pode lutar, e o faz mesmo
geralmente com mais violência do que o encarnado, visto ser mais livre. Nenhuma
cogitação de interesse material, de posição social se lhe antepõe ao
raciocínio. Luta por amor do mal, porém cedo adquire a convicção de sua
impotência, em face da superioridade
moral (grifo nosso) que o domina;
a perspectiva de melhor futuro lhe é mais acessível, por se reconhecer na mesma
vida em que se deve completar esse futuro; e essa visão não se turva no
turbilhão dos prazeres humanos. Em uma palavra, a independência da carne é que
facilita a conversão, principalmente quando se tem adquirido um tal ou qual
desenvolvimento pelas provações cumpridas.
Um Espírito inteiramente primitivo
seria pouco acessível ao raciocínio, o que aliás não se dá com o que já tem
experiência da vida. Demais no encarnado como no desencarnado, é sobre a alma,
é sobre o sentimento que se faz mister atuar.
Toda ação material pode sustar
momentaneamente os sofrimentos do homem vicioso, mas o que ela não pode é
destruir o princípio mórbido residente na alma.
Todo e qualquer ato que não vise aperfeiçoar a alma, não
poderá desviá-la do mal.
S. Luís.”
Como consequência dessa pesquisa
concluí que o doutrinador (ou esclarecedor) deve primeiramente procurar identificar
o núcleo principal da problemática do Espírito comunicante e, a partir desse
ponto, procurar dar-lhe conselhos salutares e mercê da superioridade moral do doutrinador,
o Espírito vislumbrará um melhor futuro para ele próprio seguindo-os. O
esclarecimento do espírito comunicante, entretanto, não se dá nesses poucos
minutos de conversação com o doutrinador. É, como diz S. Luís, o contato entre
os encarnados e os desencarnados, ou seja, o contato entre o perispírito do
desencarnado e o perispírito do médium encarnado (o choque anímico) que
propicia essa rápida mudança dos padrões
morais do Espírito, além da ausência da influência da matéria sobre o espírito
desencarnado. Não nos esqueçamos, entretanto, que o grande trabalho de
doutrinação ocorre no plano espiritual, o qual poderá contar, inclusive, com o
concurso do médium (ou até de todo o grupo mediúnico) durante o seu
desdobramento pelo sono físico.
Quanto
a nós, encarnados, a resposta de S. Luís também nos serve como guia para
explicar porque as nossas mudanças são mais difíceis e trabalhosas. A causa é,
segundo ele, esse constante choque entre o Espírito e a matéria e se aquele não
reage com todo o seu poder moral, deixa-se dominar por esta última, através das
influências perversas, insufladas pelos desencarnados ainda aferrados ao mal,
que tiram proveito dos nossos pontos vulneráveis os quais sabem, como ninguém,
identificar e explorar em nosso prejuízo; ataques, diga-se de passagem,
intensificados quando o encarnado predispõe-se à elevação, como ensina André
Luiz no livro Libertação: "Enquanto a
criatura é vulgar e não se destaca por aspirações de ordem superior, as
inteligências pervertidas não se preocupam com ela; no entanto, logo que
demonstre propósitos de sublimação, apura-se-lhe o tom vibratório, passa a ser
notada pelos característicos de elevação e é naturalmente perseguida por quem
se refugia na inveja ou na rebelião silenciosa, visto não conformar-se com o
progresso alheio." (Obra citada,
cap. XVI, p. 204).
Também
nunca é demais relembrar a passagem do Evangelho de Jesus que diz: “E quando o Espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos,
buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para a minha casa donde
saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo
outros sete Espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali: e são os
últimos atos desse homem piores do que os primeiros" (Evangelho de Mateus,
cap. XII, vers.43 a 45). Por isso, seguir conselho de S. Luís de tomar decisões que visem
aperfeiçoar o nosso espírito (reforma íntima), além de sábio e salutar, com
certeza, tornará muito mais rápido o nosso progresso, como espíritos imortais,
ainda na presente encarnação. Assim, além de ter a minha indagação respondida
por esta obra básica da Doutrina Espírita, pude colher outros ensinos, que
espero, também lhes sejam úteis.
Julio
Flávio Rosolen
Espírita, faz parte da diretoria da
Sociedade Espírita Casa do Caminho de Piracicaba
É Coronel da Reserva do Corpo de Bombeiros
Sociedade Espírita Casa do Caminho de Piracicaba
É Coronel da Reserva do Corpo de Bombeiros
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