terça-feira, 30 de janeiro de 2018

OPERAÇÃO TALITA - Por Richard Simonetti


richardsimonetti@uol.com.br

- Talita tem um tumor na espinha dorsal. É pequeno, mas o bastante para pressionar o feixe de nervos que passa por ali, provocando as dores intensas que a afligem.


Luiz César ouvia consternado a revelação do doutor Orestes. Possuía suficiente conhecimento para saber que se tratava de um problema sério.


- Maligno?


- Provavelmente não. De qualquer forma só saberemos com certeza após o exame anatomopatológico.


- É preciso operar?


- Sim. Quanto mais crescer, mais complicada a remoção. As dores acentuar-se-ão e ela poderá experimentar uma paralisia das pernas.


- Há riscos?


- Toda cirurgia envolve alguns, embora tenhamos progredido muito. Vamos cortar uma região delicada e não sabemos exatamente até que ponto a tumoração entranhou-se no tecido nervoso. Impossível garantir que não haverá sequelas.


- Podemos esperar alguns dias? Gostaria de preparar minha esposa adequadamente. Ela confia muito nos recursos de ajuda que podem ser mobilizados no Centro Espírita que frequentamos. Sentir-se-á mais segura.


- Está bem. Marcaremos a cirurgia para dentro de duas semanas, mesmo porque há exames preliminares.


À noite, em reunião íntima no Centro, com a presença de tarefeiros ligados aos serviços de assistência espiritual, Luiz César expôs o problema, acentuando:


- Conto com a colaboração de todos. O caso é grave, mas tenho certeza de que se unirmos nossas vibrações criaremos condições ideais para que tudo corra da melhor forma possível, considerando, naturalmente, os compromissos cármicos de minha esposa, cuja extensão desconhecemos.


Elói, um dos diretores da instituição, sempre muito objetivo e dinâmico, sugeriu:


- Vamos todos colaborar, não apenas por exercício de caridade, mas, sobretudo, como intransferível dever. Talita é uma companheira dedicada e amiga. Sugiro que não fiquemos apenas em boas intenções. Vamos compor equipes que se revezarão. Nossa irmã receberá passes magnéticos pela manhã e à noite. Onde estivermos, formaremos uma corrente de vibrações no horário em que os passistas escalados estiverem realizando o seu trabalho. Será nossa “Operação Talita'', mobilizando todos os servidores desta casa.


A proposta foi recebida com entusiasmo. Durante duas semanas a programação foi cumprida fielmente, envolvendo dezenas de pessoas que, de longe ou de perto, garimpavam em seu tempo minutos preciosos de participação vibratória.


Quanto à paciente, comportava-se com serenidade e confiança, favorecendo a plena assimilação dos recursos mobilizados por benfeitores encarnados e desencarnados.


Na data aprazada a nova consulta.


- Então, Talita - perguntou o médico - está preparada?


- Sim, doutor, confiante em Deus e no senhor.


- Ótimo. Faremos hoje o último exame radiológico, confirmando a posição do tumor. Operaremos no início da noite.


Algumas horas depois era feita a internação hospitalar. Já acomodados no apartamento, marido e mulher receberam a visita do doutor Orestes, que trazia o resultado das radiografias. Muito sério, perguntou:


- Afinal, Luiz César, que tipo de preparo você fez em sua esposa?


- Nada que pudesse prejudicá-la. Apenas mobilizamos recursos espirituais em seu benefício. Algum problema?


- Sim. Não podemos operar.


Luiz César sobressaltou-se:


- Aumentou o tumor?


O médico abriu-se em largo sorriso:


- Pelo contrário: regrediu! Não há mais o que operar.


Tomados de emoção, marido e mulher abraçaram-se, enquanto o doutor Orestes despedia-se a dizer, com expressão marota:


- Não sei o que fizeram. Só lhes peço que não espalhem a fórmula ou terei que fechar meu consultório.


Os prodígios do Céu chegam, não raro, pela passarela da boa-vontade estendida pelos que vivem na Terra.




Richard Simonetti, 82, escritor, espírita, palestrante, e colaborador deste Blog, é um dos maiores divulgadores da Doutrina Espírita no Brasil de acordo a codificação de Allan Karde
c.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

PORQUE TODOS NOS CALAMOS! - Por Marcelo Henrique




Primeiro eles vieram com a exaltação à "santidade" e a "pureza", ou "perfeição" do homem de Nazaré. Deturparam textos de Kardec, com traduções bizarras. E você se calou! 
Depois, resolveram editar "Os quatro evangelhos" e, massificadamente, utilizaram o expediente da publicidade em sua "revista oficial", a da Reforma - não por acaso - divulgando a obra com seu epíteto "a revelação da revelação", porque "precisavam" de "novidades". 
E você se calou! Então, foram introduzindo livros, ditos psicografados ou escritos por literatos espíritas, editando-os em sequência, apresentando o Jesus-fluídico (sem sofrimentos físicos) e a virgindade de Maria, para celebrar os "mistérios". E você se calou! Elegeram um "anjo" - materialização de uma fábula católica - como "guia espiritual" do planeta e você achou sublime, porque a ideia da angelitude é uma metáfora em relação ao ápice do percurso espiritual. Você se deixou convencer, e se calou!


Adiante, aproveitando-se de uma prodigiosa (mas ingênua) mediunidade, que produzia muito, deram-lhe o caráter de "continuador" doutrinário, sem criticar os textos que provinham de um velho sacerdote católico, impregnado de suas crendices e visões igrejistas. E você, novamente, se calou! 

Dizem, até, que os originais das obras psicografadas foram todos destruídos. Porque não havia necessidade de mantê-los, pois tínhamos os livros editados, físicos. E o silêncio foi a sua resposta! Foram desistindo da filosofia e da ciência, entendendo que o edifício estava pronto e que as manifestações de espíritos eleitos e médiuns escolhidos, do ontem e do hoje, foram todas, sempre, autorizadas pela "Espiritualidade", e você silenciou novamente! 

Capciosamente, tocaram o teu coração com a simbologia da mensagem sublime, sobre amor e caridade, sobre perdão e não-discórdia, para tê-lo como cordeiro diante do Pastor, e você não esboçou qualquer reação! Resgataram velhos conceitos de temor e culpa, tão comuns entre as igrejas, desde Constantino, instituindo "prêmios" para bons comportamentos, bonificadores, definindo lugares imaginários para o regalo das almas submissas à meia-verdade, com departamentos e ocupações similares às da Terra, e você deixou "barato", porque desejava uma esperança de que, na outra vida, as coisas se parecessem com a "atmosfera" da vida física. E você se aquietou! 

Agora resgatam textos evangélicos diferentes dos escolhidos como relevantes por Kardec e pela Verdade, publicando oficialmente "O Novo Testamento" e projetando uma versão da Bíblia (Antigo Testamento), porque, afinal, um é a consequência do outro, e que voltar aos textos antigos é buscar a "sinergia" entre as mensagens. E você até está pensando, silente, em comprar as obras! Disseram-te, também, que o tal controle das mensagens só era necessário na época de Kardec, porque a doutrina estava iniciando e era necessário filtrar as muitas comunicações, evitando a desfiguração da "árvore cristã".

E você aplaudiu, inconsciente, entendendo que a diretriz vinha, mesmo, do Alto, e calar-se para aprender seria a única alternativa! E os pastores prosseguem, tangendo as almas pacatas, desfigurando a mensagem e aproximando-a das vaidades e das honrarias do mundo. Todos se maravilham ante os "dotes" artísticos, literários e de oratória de um ou outro virtuose, enquanto os grupos de aprofundamento espírita, de discussão e de promoção de saudáveis debates em busca dos conhecimentos progressivos, míngua  e se esvai, no tempo, contando com a tua aquiescência e timidez, silenciosas! Dizemos, por vezes, que não temos tempo, nem energia para gastar com contendas, que precisamos cuidar de coisas mais importantes, que não estamos no "movimento" para "procurar confusão", e os dias vão passando... E a você só resta o silêncio de sua intimidade, a conversa com seus botões, e aquela indignação quase morta, que não ultrapassa os limites de sua boca, de sua letra, ou de sua própria casa... Porque você, eu, todos nós... Nos calamos!.


Marcelo Henrique, é professor, advogado, espírita, escritor e palestrante, ex dirigente da FEB em Santa Catarina, é um pesquisador especialista em J.Herculano Pires, e Allan Kardec, um dos grandes divulgadores da Doutrina Espírita, nas redes sociais, vem realizando um trabalho do entendimento de Kardec, suas obras, e debates sobre a verdade do Espiritismo.

ABRAÇAR PARA VOAR - Por Richard Simonetti



                          

Marina ficou arrasada quando soube que estava com câncer no seio. Embora o médico lhe afirmasse que o tumor era pequeno e que com a cirurgia e a quimioterapia tinha excelentes perspectivas de recuperação, ficara muito deprimida. Sem filhos, o marido falecera. Nova na cidade, não tinha amigos. Sentia-se extremamente só, desolada, aflita e com muito medo. À noite, tentava distrair-se com a televisão, quando tocou o telefone.
– É Marina? – perguntou uma voz simpática.
– Sim.
– Sou Suzana. Integro um grupo de senhoras ligadas ao hospital de oncologia. Gostaríamos de visitá-la.
– Será um prazer. É algo relacionado com a cirurgia?
– Em parte, sim. Explicaremos depois.
No dia seguinte, conforme combinado, Marina recebeu Suzana e duas senhoras, um trio simpático e sorridente. Suzana foi logo explicando:
– Estamos aqui para manifestar nossa solidariedade, Marina, não apenas com a presença, mas também com o apoio. Estaremos juntas durante a cirurgia e a acompanharemos no tratamento. Não a deixaremos só. Haverá sempre alguém com você.
Marina, um tanto constrangida, comentou:
– Acho ótimo esse apoio, é tudo o que quero, mas infelizmente não tenho condições para arcar com as despesas. Vivo apenas com uma        pensão deixada por meu marido.
Suzana sorriu:
– E quem disse que vai custar alguma coisa? Não haverá  despesas. Estamos aqui como amigas.
Marina, olhos úmidos, emocionada, comentou:
– Deus lhes pague. Não podem imaginar como é terrível enfrentar essa doença.
Suzana sorriu  – Podemos, sim, minha querida. Todas nós tivemos câncer. Ouça bem, tivemos, não temos mais. Essa postura é muito importante para superar o medo. Levamos uma vida normal. Justamente porque sabemos o que é enfrentar essa barra, formamos nosso grupo para que todos os pacientes com quem lidamos saibam que não é um bicho-de-sete-cabeças. Você vai vencer essa, como nós vencemos! Estamos aqui para o que der e vier!
Graças ao apoio do grupo de senhoras, Marina submeteu-se à cirurgia, fez o tratamento, sempre acompanhada pelas novas amigas, e logo ligou-se àquele abençoado grupo de pessoas capazes de fazer de sua provação um instrumento de edificação para outras pessoas.


***


No domingo à tarde, ao sair da chácara cedida por um amigo, onde passara o final de semana com a família, Jonas não conseguia ligar o motor do automóvel. Simplesmente não funcionava. Para completar, seu telefone celular estava com a bateria descarregada. Deixou a esposa e o filho esperando e saiu à procura de socorro. Depois de uma hora de caminhada, chegou a um posto de gasolina.
Estava fechado. Não funcionava aos domingos. O vigia deu-lhe o número de um mecânico que morava em cidade próxima. Num telefone público fez a ligação. Quando atenderam, explicou seu problema, onde estava, bem como a localização do automóvel. Precisava de socorro.
O atendente logo informou:– Meu nome é João. Fique tranquilo. Normalmente não trabalho aos domingos, mas, tratando-se de emergência, posso chegar aí rapidinho. São apenas trinta quilômetros.
Jonas ficou aliviado e ao mesmo tempo preocupado. Não ficaria barato e ele não andava bem de finanças. Viera passar o final de semana na chácara justamente por não estar em condições de pagar hotel.Trinta minutos depois,  João chegou.  Jonas subiu em sua caminhonete e partiram. Quando chegaram verificou, espantado, que o mecânico tinha problemas nas pernas. Usava muletas.
Valendo-se delas, aproximou-se do automóvel, fez o exame e logo informou:– É apenas a bateria descarregada. Providenciarei uma carga.
João era de uma simpatia cativante. Sorridente, enquanto a bateria carregava, distraiu o filho de Jonas com truques de mágica e chegou a tirar uma moeda da orelha, dando-a ao garoto. Terminado o serviço, Jonas, preocupado, perguntou quanto era. Surpreso, ouviu a resposta:
– Não é nada.
– Nada?!… Não entendo... Você perdeu tempo, em seu dia de folga, usou o caminhão, gastou gasolina…
– Não é nada – confirmou ele.
– Não é justo. Por favor, é minha obrigação.
Jonas sorriu
– Olhe, meu amigo, há alguns anos alguém me ajudou a sair de uma situação muito pior, num acidente em que fiquei dependente de muletas. A pessoa que me socorreu, levando-me ao hospital e salvando-me a vida, simplesmente disse o mesmo: – Não é nada. Apenas lembre-se, quando tiver oportunidade, faça o mesmo, porquanto somos todos anjos de uma asa só. Precisamos nos abraçar para voar.

Nessas histórias, leitor amigo, temos exemplos marcantes de superação, tanto no aspecto material quanto espiritual. Pessoas que vencem suas provações sem cair no desespero ou na revolta, aprendendo, consoante o ensinamento do Cristo, que nossa cruz ficará leve se nos ajudarmos uns aos outros.
Há um problema a ser encarado. A tendência de imaginarmos que a nossa dor é maior do que a do vizinho.
É quando sentimos pena de nós mesmos e nos fechamos, acabrunhados. Nada mais longe da realidade. Há milhões de pessoas no mundo com problemas piores que os nossos.
Se nos sentimos o coitadinho, aos nossos olhos o problema ficará bem maior do que é, induzindo-nos ao desalento e à tristeza, maus conselheiros que paralisam nossa iniciativa.

Importante é não parar, seguir adiante, conservando o bom ânimo e o empenho de servir, de ajudar o próximo, fazendo sempre o melhor.Isso é fundamental para nossa felicidade. Lembrando o mecânico João, somos anjos de uma asa só. É preciso que nos abracemos para que possamos ganhar o Céu.


Richard Simonetti, 82, escritor, espírita, divulgador da Doutrina Espírita de acordo a codificação de Allan Kardec, é colaborador deste blog.