Porventura pode
um cego guiar outro cego? não cairão ambos no barranco? (Lucas, VI, v.
39)
Sabes que os
fariseus, ouvindo o que disseste, ficaram escandalizados? Mas ele respondeu:
Toda a planta que meu Pai celestial não plantou, será arrancada pela raiz.
Deixai-os; são cegos, guias de cegos. Se um cego guiar outro cego, cairão ambos
no barranco. (Mateus, VI, 12-14)
INTERPRETAÇÃO
Que o Divino Rabi vos ilumine para todo o sempre.
Meus irmãos, minhas irmãs! Depois de tantas
parábolas, vem esta, pequenina e humilde, trazer ao mundo as palavras do Mestre
de grande e reconhecido proveito.
Dizeis ser impossível um cego guiar outro cego, mas
nós dizemos que no planeta Terra, infelizmente, isto é um fato, porque, como
sabeis, há duas cegueiras: a do corpo material e a do corpo espiritual.
A do corpo material pertence àquelas almas que vêm
à Terra liquidar pesados débitos ou àquelas que acolhem esta privação de
sentido como um caminho mais rápido para chegar ao ponto desejado, isto é, à
sua elevação espiritual.
Esta cegueira, meus irmãos, minhas irmãs, é
momentânea; termina com o corpo físico ou se assim a vontade do Pai determinar,
numa operação ou num passe magnético.
Muito maior, como sabeis, é a outra cegueira;
aquela contraída por espíritos que, dominados pelas suas imperfeições, não
querem ver a verdade verdadeira que é Deus, porque, para chegarem a Ele, terão
de se transformar, terão de se despojar das vestes da maldade, do orgulho,
renunciar a si mesmos, para poderem ver a luz do Supremo Sol.
Esta
cegueira, meus irmãos, minhas irmãs, é a mais difícil de ser debelada, porque
para dela se livrar, a alma terá de ter força de vontade, usar de esforço
próprio para superar a si mesmo. O nosso maior inimigo não está naquele que nos
ofende, naquele que não nos compreende e, sim, dentro de nós mesmos, com raízes
profundas em nossa mente, em nossos corações, dominando os nossos sentimentos,
não permitindo que avancemos em nome da Verdade.
Esta
cegueira, meus irmãos, minhas irmãs, quantos na Terra a têm! E, por serem
cegos, são dominados pelos sentimentos de prepotência; querem chefiar sem
estarem, para este posto, preparados. Daí, usarem da maldade, da prepotência,
procurando, através do sofrimento imposto aos seus irmãos, elevar-se, porque
eles, por si próprios, não têm meios para fazê-lo. São dominados pelo egoísmo,
não se importando ferir a quem quer que seja, contanto que subam, conquistando
altos postos.
E
o que acontecerá?
Se
não enxergam o seu próprio caminho, não poderão saber escolher o que é certo ou
errado; não saberão distinguir o verdadeiro do falso. Fazendo-se passar por
líderes, conseguem dominar as massas, arrastando-as para os abismos profundos
do egoísmo e da vaidade.
A
História está aí, para provar que esses povos feneceram com os seus líderes,
porque foram cegos, guiando outros cegos, ao passo que se a criatura,
investida, por mais humilde que seja o cargo, a assumir ou o mais importante,
invejado por toda a humanidade, procura ver que por mais que suba, esta subida
é efêmera, porque pertence ao mundo material; se, de olhos abertos, contemplar
aqueles que afastou de si, então, com amor, carinho e compreensão, será amado e
o seu esforço será correspondido.
Poderá
ele guiar cegos, porque saberá escolher os caminhos, evitando os precipícios,
as amarguras, as decepções.
Eis
porque, meus irmãos, minhas irmãs, o Divino Rabi, por muito enxergar,
compreendia a pequenez dos sentimentos humanos, a fragilidade daqueles que, ao
seu lado, conviviam e para isto não perdia uma oportunidade para lhes ensinar,
tocar em suas almas ainda cambaleantes.
Viera
ao mundo numa mensagem de amor e de paz.
Teria
necessidade de cumpri-la, não importando sacrificar até a sua própria vida.
E,
assim, de parábola em parábola, de ensinamento em ensinamento, dando o seu
exemplo, deixava marcada no caminho, a sua elevação e aqueles que O quisessem
seguir, que enxergassem o amanhã como Ele enxergava, teriam de se despojar de
tudo aquilo que os impedisse de pleitear e abandonar todas as ilusões à beira
da estrada. Seguiu Ele à frente, carregando a sua cruz, para que do alto do
monte a sua palavra, os seus ensinamentos, ficassem plantados para todo o
sempre.
A
sua bondade, porém, irradiou-se por toda a humanidade e aqueles que O feriram,
aqueles que concorreram para que expirasse o seu último suspiro, receberam o
seu amor, uma palavra de perdão e, através deste perdão, foram saindo da
cegueira das suas paixões e, por meio de outras encarnações, levaram ao Gólgota
de suas vidas a sua cruz, espalhando o perdão, o amor e a tolerância, porque,
empunhando a cruz da fé, puderam vencer a si próprios, tornando-se guias
daqueles que, cegos, ainda permaneciam.
Que
o sublime Rabi vos oriente e que possais ver, ouvir e calar, servindo sempre ao
Pai.
(Extraído do livro: As Divinas Parábolas – Autor:
Samuel (Espírito), médium: Neusa Aguiló de Souza – Centro Espírita Oriental
“Antônio de Pádua”, Recife, PE – 1982, p. 105-108).
JULIO FLÁVIO ROSOLEN é Espírita, participa da
Sociedade Espírita Casa do Caminho (SECCA), em Piracicaba, Estado de São Paulo,
é Coronel (da reserva) do Corpo de Bombeiros e colabora com o nosso Blog.
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