Não haverá futuro no estudo da Mente sem acrescentarmos o estudo do Espírito
O estudo da Mente
O avanço tecnológico que nos permitiu conhecer a intimidade da fisiologia cerebral permitiu, também, trazermos o estudo da Mente para o campo da Psicologia Cognitiva depois de séculos de discussões filosóficas e especulações empíricas.
Para qualquer um de nós é fácil percebermos que processamos fenômenos mentais relacionados com nossos comportamentos: o pensamento, a atenção, a imaginação, a percepção dos objetos, a noção de tempo, o cálculo mental, a tomada de decisões e, principalmente, as nossas memórias, especialmente aquelas que nos aborrecem e não desgrudam de nós
Uma pergunta é importante: já sabemos como funciona a Mente? – várias escolas do pensamento filosófico e científico se propuseram a responder a essa pergunta
Em primeiro lugar precisamos responder: existe realmente um “mentalismo”, uma atividade mental que seria independente de outras atividades fisiológicas, como é a visão, o movimento, a dor ou o simples palpitar do coração após um susto que nos emociona? Por incrível que pareça, ainda hoje não existe uma unanimidade sobre a existência ou não da Mente, o que torna o tema sempre muito instigante – a maioria dos neurologistas a considera um simples produto dos neurônios.
Fase filosófica
Na leitura de textos dos filosóficos clássicos e de médicos filósofos como Hipócrates e Galeno encontramos uma conceituação e um jargão próprios da época. De maneira geral, eles demonstraram uma convicção na existência imaterial da Alma e na sua competência para por em funcionamento nosso organismo. A Alma ou Psiqué seria, necessariamente, a responsável por nossas percepções e sensações. Havia, também, na discussão filosófica clássica, uma série de preocupações, em particular, com a localização da Alma, sua permanência após a morte do corpo físico e, até mesmo, sua existência prévia, antes do nascimento.
Para Sócrates, a Psyqué é a sede da inteligência e do caráter. Platão, ensinava que todo conhecimento é trazido pela Alma do “mundo das ideias” que é preexistente ao nascimento. Ele descreve a existência de 3 Almas, uma Alma Vegetativa, situada no fígado e responsável pela nutrição, o crescimento e as paixões inferiores como a luxúria e a ganância, a Alma Vital, situada no coração relacionada com a coragem, as paixões e as disputas e, finalmente, a Alma Imortal, que ele localizava no cérebro. Aristóteles, diferindo de Platão, aceitava a existência de Almas, cujo papel era dar funções e forma ao corpo físico, ele admitia, porém, que todo conhecimento provem dos sentidos, nada é sabido antes do nascimento, esse modo de pensar é precursor da “tábula rasa” que se encontra em Looke e Pinker – nascemos como uma folha em branco onde a experiência dos sentidos vai escrevendo o que progressivamente vamos aprendendo.
Alcameon de Crotona e Hipócrates não negavam a existência da Alma, mesmo assim, atribuíam ao Cérebro a causa de todas nossas sensações e percepções. O comprometimento dos olhos ou dos ouvidos obstruiriam os canais que levavam as sensações ao cérebro produzindo nossas perturbações mentais. Uma das mais importantes contribuições de Hipócrates foi a descrição dos “humores” tipificando com eles as nossas personalidades. Popularizou-se de tal forma essa conceituação hipocrática que, de certa maneira, costumamos usá-la até hoje na linguagem popular. Ele ensinava haver quatro humores: no fígado a bile amarela que produziria o humor colérico, no baço a bile negra, responsável pela melancolia, no coração o humor sanguíneo e, finalmente no cérebro o humor fleumático – todos nós conhecemos os coléricos, os melancólicos que sentem todos os males do mundo, os emotivos cujo sangue sobe fácil e, os fleumáticos, gelados e indiferentes ao sofrimento alheio.
No período romano, 150 anos após a morte de Jesus Cristo, destaca-se a figura mais brilhante de toda história da medicina - Cláudio Galeno (129-217 DC), cujos tratados foram estudados por 12 Séculos nas escolas médicas. Ele introduziu a noção de uma “substância imaterial” que daria a todo nosso corpo sua dinâmica de funcionamento. Foram descritos 3 “fluidos” ou “pneumas”: vital, animal e natural. Como a vida está relacionada aos batimentos cardíacos o fluido vital viria a se localizar no coração, e, corre com o sangue em nossas veias até alcançar o cérebro. Na “rede mirabilis”, um novelo de vasos snguineos situados na base do cérebro, encontraríamos o fluido animal, responsável pelas nossas atividades motoras, sensitivas e racionais. E, finalmente, estaria localizado no fígado o fluido natural, que faria a absorção dos alimentos adequados a nossa sobrevivência.
A visão eclesiástica da Mente – Idade Média
O conjunto de proposições “médicofilosóficas” dos clássicos gregos e romanos, foi de extremo oportunismo para a Igreja da Idade Média que o apoiou sem contestação fazendo apenas ajustes para adequá-los ao pensamento teológico que defendia.
Podemos resumir os tópicos principais que eram admitidos pela Igreja da época – de certa maneira ela adaptou muito bem os conceitos clássicos da filosofia grego-romana: possuímos uma Alma que é criada ao nascermos, ela é responsável pelos nossos sentimentos, memórias e pensamentos. Nasce ignorante e inocente, tudo aprendendo de acordo com os estímulos que atingem os sentidos. Nossas emoções estão ligadas aos humores que circulam em nosso sangue e, essa Alma sobrevive à morte do corpo físico com o qual está fortemente ligada, seguindo o destino que o julgamento de Deus determinar. Toda a atividade do nosso corpo resulta da presença dessa Alma que o sustenta
Rompendo com o passado
Não foi nada fácil romper com os 1200 anos de Galeno e as proposições dogmáticas da religião sacerdotal dominante nesse período. O primeiro passo para a rotura foi dado pelo filósofo francês, René Descartes, que sabiamente conseguiu se livrar da perseguição religiosa criando uma teoria dualista muito inteligente – ele separou a Alma do Corpo, abrindo a possibilidade de se estudar a máquina corpórea humana em separado de suas paixões.
Duzentos anos depois, em 1804, Franz Gall, um médico alemão, corajosamente relacionou as funções mentais com as saliências do crânio, apontando múltiplas funções para o cérebro e determinando em que lugar essa função ocorria. Ele estava dando os primeiros passos para a interpretação localizacionista das funções cerebrais. Gall, teve de se refugiar na França após ter sido acusado pela Igreja de estar fragmentando a Alma com sua visão fragmentada do cérebro.
Na verdade, a localização de funções particulares, especializadas, no cérebro, só veio a se confirmar em 1867 com a descoberta de Paul Brocá quando revelou que a palavra falada situa-se no pé da circunvolução frontal esquerda. Brocá fez essa afirmação ao estudar o cérebro de um paciente portador de uma afasia motora, o famoso Sr. Tan, que só era capaz de, para todas perguntas que lhe faziam, responder apenas tan, tan.
A construção de dilemas
A partir de Descartes começa a ficar marcante o dilema dualista e com ele muitos mais se estabeleceram:
Qual a competência e a extensão de cada um dos nossos componente: o corpo e a Alma?
Qual a maior ou a menor influência entre o ambiente e a hereditariedade?
O quanto temos de ideias inata e o quanto é fruto do nosso aprendizado ?
Provém do Espírito o nosso livre arbítrio ou somos compelidos a reagir a condicionamentos ?
Diz Baruch Spinosa (1632-1677) que ”toda ocorrência física pode ser explicada em termos mentais e uma ocorrência mental pode ser explicada em termos físicos”. Isso significa que o cérebro está comprometido em nossas decisões e nosso aprendizado deixa marcas permanentes no cérebro. Não se estranha portanto que Antônio Damásio afirma que o cérebro constrói o homem.
A psicologia como Ciência
No final do Século XIX começam a aparecer os primeiros estudos experimentais do psiquismo humano fazendo surgir as escolas de psicologia na Alemanha e nos Estados Unidos. Duas correntes principais iniciam e sedimentam seus conhecimentos: o Estruturalismo e o Funcionalismo.
Estruturas da mente – o que nos diz o estruturalismo:
A mente pode ser construída como uma receita de bolo, misturando elementos de sua receita para se conseguir o produto final. O inverso, também é verdadeiro - Uma construção mental pode ser fragmentada para se estudar seus elementos.
Vamos a um exemplo:
Estou assistido a televisão que mostra um filme, uma comédia que me faz rir. Ao mesmo tempo minha esposa ali do lado me faz uma pergunta: quer saber se passei na padaria antes de vir para casa. Os dois acontecimentos me exigem prestar atenção, concentrar-me no tema, o filme me leva a emoções diversas, a televisão e a presença de minha esposa me afetam com intensidades diferentes. Aí um vastíssimo material de estudo
As funções da mente - o que nos ensina o funcionalismo:
Qualquer um de nós reconhece facilmente que a Mente é extremamente complexa e excuta múltiplas funções. Estudar a mente pode se resumir ao estudo de cada uma de suas funções:
Como percebemos o mundo ?
Como tomamos nossas decisões ?
Como registramos os sons e os objetos que vemos?
Como separamos uma sensação agradável de uma incomoda e nociva?
Freud e o inconsciente
Freud é um capítulo a parte, ele inaugurou o estudo moderno sobre o funcionamento da mente a partir da atuação de uma força inconsciente que dirige nossas ações. Somos impulsionados por essa força inconsciente e inteiramente controlados por ela. Freud enxergou na mete um aparelho psíquico com três componentes: O Id, o Ego e o Superego. Com esses fundamentos Freud construiu a Psicanálise revolucionando a abordagem e o tratamento da neuroses
A forma e a mente –a Gestalt
A mente não é formada pela soma de seus componente e de suas funções. Pela sua complexidade ela é, no seu todo, sempre maior que a soma dos seus elementos. A mente inclui em suas propriedades o contexto onde os fenômenos ocorrem – imagine um banco de jardim, ali ele tem uma função, colocado no banheiro da casa ele fará um papel totalmente diferente. Na Gestalt considera-se que sempre realizamos um trabalho mental interno para solucionar um problema. Enquanto o behaviorismo considera que simplesmente reagimos a estímulos para agir, na Gestalt o insight é fundamental na construção dos nossos comportamentos. Devo pensar e fazer minhas escolhas antes de decidir.
Pavlov e Burrhus Skinner - o comportamento provocado por estímulos
O fisiologista russo Ivan Pavlov demonstrou que podemos produzir comportamentos novos em um animal, associando um estimulo natural como a presença de um pedaço de carne, com um sinal neutro do tipo do ruído de uma sineta, condicionando uma resposta específica que seria a salivação
John Watson, psicólogo americano condicionou comportamentos humanos desenvolvendo a teoria do Behaviorismo, aperfeiçoada por Skinner, que sugere um ser humano moldado por estímulos, dispensando a existência das funções cognitivas como pensamento, percepção, memórias e principalmente, o behaviorismo postula que não existe uma mente em nós
O que interessa a esses pesquisadores são as circunstâncias e as consequências das ações que nos motiva
O Self é apenas um repertório de comportamentos adequados para determinada serie de contingências
Entre o estímulo e a resposta não existe uma atividade mental
Para entendermos o comportamento os processos mentais são irrelevantes e ao mesmo tempo inacessíveis.
Basta-nos :
O ambiente em que a resposta ocorre
A resposta em si (tipo)
As consequências das respostas
As Neurociência, seus acertos e sua falácia
A clínica do cérebro
Estudos clínicos em pacientes vítima de ferimentos cranianos, de lesões por tumores ou doença vascular cerebral permitiu acumular um precioso conhecimento sobre as funções das diversas áreas cerebrais. Desenvolveu-se duas grandes vertentes desse conhecimento, uma baseada no localizacionismo na qual cada área cerebral revelou que função se relaciona e outra construiu sistemas de funcionamento, como por exemplo para a linguagem e para as atividades motoras.
A mente, passou a ser reconhecida, então, como um “epifenômeno” da complexa atividade cerebral.
A fisiologia
Erick Kandel, realizou estudos com neurônios gigantes, isolados da Aplisia, uma lesma do mar, demonstrando dois fenômenos básicos da fisiologia dos neurônios: a sensibilização e a habituação. Essa atividade neurofisiológica, de aparência simples, conseguiu esclarecer nossos mecanismos de aprendizagem e de memória em toda sua complexidade – um choque forte nos sensibiliza a um simples toque com o estilete e um pequeno choque repetidas vezes nos habitua a reconhece-lo facilmente
Os neurotransmissores
A química cerebral foi esclarecida a partir da descoberta da acetilcolina. Hoje já conhecemos mais de 30 neurotransmissores que estão nitidamente ligados aos fenômenos mentais, sejam os nossos desejos ou os nossos comportamentos, tanto agressivos quanto românticos e, os neurotransmissores assumem um papel de extrema importância no manejo das doenças mentais
A neuroimagem
Com a introdução da Ressonância cerebral e seus aperfeiçoamentos explodiu uma revolução nos labirintos do cérebro. Área por área, função por função estão sendo escaneadas para criar uma nova ciência da mente. O detalhamento é tão grande e minucioso que se propõe a identificar áreas ligadas a nossa preferência por um determinado sabor de sorvete. E é essa extravagância que gerou uma falácia na neurociência. No máximo, essa imagens podem nos dizer que determinada atividade como, por exemplo, pensar na solução de um lance num jogo de xadrez ou fazer uma identificação de um rosto bonito, podem estar ocorrendo em determinada área do cérebro, mas isso não nos permite dizer que é aquela área que faz o lance no xadrez ou determina a escolha do rosto.
A neuroimagem não consegue incluir a pessoa humana no comando da atividade cerebral. As mãos de Eurídice em súplica, a mão que apedreja, os lábios que beijei, o olhar de espanto quando me viu, ou o gesto de adeus, são figuras possíveis na poesia, mas, nada acontece sem que a Alma se manifeste. Seria muito cômodo eu dizer ao meu gerente no banco que mais tarde meus neurônios passam para lhe pagar o débito em conta que na verdade pertence a minha pessoa e não aos meus inocentes neurônios
O pensamento espírita
O Espiritismo, como Ciência do Espírito e do Mundo Espiritual, pode nos oferecer muito mais sobre a mente e, principalmente, onde e como ela atua. Nesse sentido, os fundamentos espíritas apresentam um volume de informações inesgotáveis e bem superior a tudo que se soube até hoje produzido por outros estudos científicos.
Para simplificação, optamos por apresentar alguns de seus princípios enriquecendo esse nosso estudo sobre a mente:
1 - Existe uma Alma que é agente de todos nosso comportamentos e faz as opções do nosso livre-arbítrio
2 - A mente pode ser tomada como sinônimo de Alma, portando, não é de se estranhar que possa ser dito que a mente não é uma simples propriedade do cérebro mas é uma entidade corpórea.
3 - Essa Alma/mente não nasce criada em um paraíso bíblico, ela percorre a mesma jornada evolutiva na mesma escala de desenvolvimento da vida na Terra. Em suas memórias estão registradas todas as experiências de reencarnações sucessivas que percorreu, o que, possivelmente, tem a ver com os arquétipos Junguianos
4 - A cada vida que recomeça, a Alma traz suas tendências e seus compromissos cármicos que lhe permitem o resgates de suas faltas e o recomeço de sua trajetória evolutiva – daí o significado da dor e do sofrimento na história de vida de cada um de nós
5 - A Alma não é prisioneira do corpo físico, podendo frequentemente dele se desdobrar e entrar em sintonia com o mundo espiritual. Isso explica as descrições das experiências de quase morte, das experiências fora do corpo, dos sonhos lúcidos das alucinações hipnagógicas e da comunicação espírita
6 - O pensamento não é um fenômeno etéreo, ele é energia procedente da Alma que cria uma psicosfera em torno de cada um que o emite estabelecendo sintonia com todas Almas que afinam opiniões semelhantes. Isso explica a atração de simpatia e antipatia entre as pessoas.
7 - Nossos sentidos físicos trafegam informações pelo cérebro onde elas são processadas pela Alma conforme suas experiências prévias – as alterações químicas do cérebro tem repercussões graves nas percepções que realiza a Alma, assim como temos perturbações da própria Alma que desequilibram a fisiologia do cérebro
A metaneurologia e o Corpo mental – uma contribuição pessoal
Existem situações neurológicas diversas que nos permitem constatar a existência de uma estrutura corporificada representando nossa mente – o corpo mental tem uma anatomia e uma fisiologia compatíveis com situações clínicas conhecidas dos neurologistas. Pacientes com síndromes histérica constroem mentalmente seus sintomas paralíticos ou suas insensibilidades obedecendo um padrão uniforme compatível com o corpo mental. A narcolepsia, o membro fantasma, as memórias e paralisias geradas pela hipnose encaixam-se corretamente no corpo mental. Daí a minha sugestão de uma construirmos metaneurologia baseada no corpo mental – que nos abre a possibilidade de avaliação experimental da mente
Nosso futuro tecnológico trará situações extraordinárias e surpreendentes. Vamos lidar cada vez mais com máquinas que obedecerão o pensamento mas, cedo ou tarde, o Espírito terá de ser admitido no estudo da mente.
Nubor Orlando Facure, é médico, Neurologista, espírita, comandou como professor a Unicamp, é diretor do Instituto do Cerébro, pesquisador espírita, escritor, palestrante, viveu 50 anos de sua vida ao lado de Chico Xavier, estudou com Waldo Viera Medicina, autor de teses que comprovam claramente a vida após a vida, considerado senhor das ciências da Mente, escreve em seu site, blog, é colaborador de O Consolador, assim como este editor, Divaldo Pereira Franco também o chama de Professor, atenderá as perguntas pelo ifacure@uol.com.br e no Facebook recebe os estudantes e pesquisadores da doutrina espírita e da Medicina, no Nubor Orlando Facure.
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