As pessoas são sonhadoras no que concerne à relação afetiva. As histórias em quadrinhos e os desenhos representam com perfeição a ânsia humana na busca pelo par perfeito. A Cinderela que se encontra com o príncipe a vestir-lhe os sapatinhos da felicidade. A Branca de Neve que dorme no aguardo do herói que, intrépido, a salva da bruxa malvada. São sonhos, muitos sonhos...
Todos querem a felicidade e alegria proporcionada pelo príncipe ou princesa. Todavia, cogitamos da felicidade para nós, mas, e o outro. Será que cogitamos de fazê-lo feliz? Será que buscamos alegrar seus dias? Compreender suas limitações e apoiá-lo em suas iniciativas?
Novamente o famoso egoísmo humano a nortear as atitudes. Cogito de ser feliz, mas não de fazer o outro feliz. Muitos informam que a causa de sua infelicidade é o marido ou a esposa, considerando-se algemados pelo antigo amor, hoje temível carcereiro. Pedem separação, a convivência está sufocante. E saem intrépidos em busca do novo amor, talvez, quem sabe, a alma gêmea. Não raro encontram novas decepções, porquanto querem encontrar o outro não para evoluir juntos, mas sim para sanar seus dilemas íntimos.
Poucos se atentam para a realidade: nosso objetivo na peregrinação terrena é a evolução como espíritos imortais que somos. A felicidade afetiva e conseqüente harmonia interior no tocante aos sentimentos está subordinada, principalmente, a nossa postura perante a relação. Se procurarmos olhar na mesma direção de quem está do nosso lado teremos dado grande passo em busca da relação afetiva sadia, sem cobranças descabidas e ciúmes doentios. Quando os olhos dos cônjuges estão focados num nobre objetivo comum, as dificuldades não atrapalham, ao contrário, tornam-se temperos a unir ainda mais o casal. Muitos casais depositam a culpa do declínio da relação nos problemas financeiros. Nada disso, embora as finanças decaídas possam trazer apoquentação ao casal, nada pode superar o olhar na mesma direção.
E nessa questão que envolve o olhar dos cônjuges na mesma direção importante salientar a relação de Amélie Gabrielle Boudet e Allan Kardec. Nove anos mais velha do que o professor Rivail, Amélie Boudet esteve em todos os momentos ao lado do marido na tarefa da Codificação do Espiritismo. A diferença de idade não atrapalhava, porquanto ambos estavam com os olhos na mesma direção. O casal francês também enfrentou problemas financeiros, mas superaram, os olhos estavam na mesma direção. Enquanto o professor Rivail trabalhava na contabilidade de algumas casas comerciais, sua esposa preparava cursos gratuitos que ambos ministravam em sua própria residência. Uma real demonstração de que a missão daquele valente casal estava ligada indelevelmente à educação.
A tarefa da Codificação Espírita foi espinhosa, Kardec foi vítima de calunias, mentiras e ingratidões, mas a esposa estava do seu lado. Ambos evoluíam juntos, apesar das dificuldades da caminhada, olhavam na mesma direção. No mundo contemporâneo muitas relações se deterioram porque há uma inconveniente competição entre o casal. Discussões infindáveis onde um quer ser melhor, mais capaz, mais inteligente do que o outro. Imagine, caro leitor, que um casal, amigos de meus amigos, separaram-se porque a esposa tem um salário maior que o do marido, e ele, machista incorrigível não admite tal “afronta”. Amélie Boudet e seu esposo não competiam um com o outro, antes se admiravam e por isso apoiavam-se, buscando juntos a evolução, olhando, portanto, na mesma direção.
Ou encaramos o matrimônio como abençoada oportunidade de evolução, ou viveremos em constante praça de guerra com nossos “amores”, e se assim for, é melhor esquecermos o matrimônio e esperar nosso retorno aos Céus para os braços de nossa alma gêmea. No entanto, como sabemos que almas gêmeas no sentido de metades eternas não existem, ficaremos sós, aguardando a oportunidade de recomeço nos palcos do mundo, para então, quem sabe, aprender a compreender e encarar o casamento como importante cadinho depurador de nossas próprias imperfeições.
Pensemos nisso.
Wellington Balbo, é espírita, médium, palestrante,
escritor e pesquisador da doutrina espírita codificada
por Allan Kardec.
Tem suas páginas no Facebook e Twitter e é colaborador deste blog.
***Nota da Redação: Acrescemos um pouco da história deste grande mulher, que sempre esteve ao lado do codificador:
Filha única do tabelião Julien-Louis Boudet e de sua esposa, Julie-Louise Seigneat de Lacombe, era conhecida na intimidade familiar pelo diminutivoGaby.
De acordo com o seu biógrafo, Henri Sausse, foi professora com diploma de primeira classe, tendo se formado na primeira Escola Normal Leiga, de orientação pestalozziana, localizada no Boulevard Saint-Germain, em Paris, cidade onde viveu toda a sua vida.
Foi poetisa e artista plástica, com domínio das técnicas tradicionais.
De acordo com o pesquisador espírita Silvino Canuto de Abreu, foi professora de Letras e Belas Artes, tendo sido autora das seguintes obras: "Contos Primaveris" (1825), "Noções de Desenho" (1826) e "O Essencial em Belas Artes" (1828).
Foi desposada, em 9 de fevereiro de 1832, pelo professor Hippolyte-Léon-Denizard Rivail, que posteriormente se notabilizaria sob o pseudônimo deAllan Kardec.
Colaborou permanentemente com os estudos do marido, tornando-se grande incentivadora do trabalho de Codificação e difusão do Espiritismo.
Após o falecimento de seu esposo, em 1869, assumiu todos os encargos necessários à gestão do Espiritismo, na França e no mundo.
Costuma-se dividir a sua vida em grandes fases ou períodos:
de 1795 a 1832, como senhorita Amélie Gabrielle Boudet;
de 1832 a 1857, como a senhora Rivail;
de 1857 a 1869, como a senhora Allan Kardec;
de 1869 a 1883, como a viúva Allan Kardec.
Faleceu em sua residência, em Paris, sendo sepultada ao lado do esposo, no Cemitério do Père-Lachaise.
Atualmente, um centro de estudos espíritas em Paris homenageia-a com o seu nome
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