sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A BUSCA DO OUTRO - POR MARCELO HENRIQUE




A solidão do ser gera a busca do outro. Não se pode pesquisar o Amor nos livros, nas opiniões dos sábios, nem nas relações humanas ou nas relações do homem com outros seres ou com as coisas. A pesquisa do "Amor" exige o método existencial da vivência individual. Se quisermos compreender o Amor Divino temos de partir do Amor Humano.” Herculano Pires.
A busca do outro. Que busca é essa? A procura com interesse, na intenção de encontrar. Quem é o outro? Genericamente, o próximo - ilustrativamente, na definição do carpinteiro de Nazaré, remete à ideia da fraternidade universal, em que todos são irmãos e filhos de um mesmo Pai, que é Deus. Mais restritivamente, considerando as necessidades físico-espirituais humanas, a busca do outro nos remete à ideia/experiência da completude, sob o império da lei de atração, o nítido e marcante interesse interpessoal.





O ponto de partida para a busca do outro é, como acentua Herculano, a solidão, a impossibilidade de ficar sozinho e a necessidade de “estar com” o outro. Para entendê-la e superá-la, exige-se o método existencial da vivência individual. Daí brota o sentimento que se traduz em ato, pessoal, individual e ôntico (o ser em si mesmo). Tem-se que o homem começa, na vida física, uma existência solitária (no útero). Antes, espiritualmente, também ele experimentou a solidão metafísica (dado que a criação é individual).

Pelo amor humano, cada vez mais aperfeiçoado a partir da evolutividade de cada ser, compreende-se o amor divino, a expressão maior, traduzida na Criação. É imprescindível, então, ao amor (e ao próprio ser) a experiência, isto é, a vivência desde os impulsos iniciais e o seu desenvolvimento em fases sucessivas. Com seus sucessos e fracassos.





Oposição Amor-Ódio é mera incapacidade psicológica de compreensão dos problemas humano-existenciais. O ódio não é a antítese do amor, mas resquício da ferocidade ancestral de nossa espécie e, portanto, expressão passageira. Se fosse a antítese, existiria sempre, como dualidade, na Natureza.

O amor é, assim, a busca real do outro. É o preenchimento do vazio existencial que todos temos. No sentido humano-corporal, traduz-se na busca das metades (ainda que passageiras ou temporárias), os opostos (nem sempre totais), para concretizar a unidade biológica e espiritual que sustenta a espécie humana. Sobrevivência e continuidade.

É físico, como visto, mas, igualmente, sociológico, visto que a união entre os indivíduos, gerando grupos (tribos, inicialmente) é fundamental para o sentido da defesa e da perpetuação da espécie.







O amor ao próximo é um conceito altamente difuso, abstrato, ideológico. Quando considerado genericamente, alcança a Humanidade como um todo. Daí a dificuldade de “amar a todos”, indistintamente, em face das diferenças transindividuais e do distanciamento, nosso, de grande parte dos outros homens. Mas tal noção se concretiza e se centraliza no conceito do humano, quando materializado em relação a tantos quantos, específica e presencialmente, nos relacionarmos.

A essência do amor é a afinidade, a sintonia (ainda que imperfeita, mas em busca da perfeição) entre dois (ou mais) seres. Evolui o conceito e a vivência do amor à medida que os próprios seres avançam na senda evolutiva. Então o amor ao próximo se aproxima, em essência, do amor a Deus: amando e fazendo ao próximo o que queres que te façam, estás amando e fazendo, sobretudo, a Deus.

O Amor ao Próximo, quando bem vivenciado, é a legítima expressão do Amor a Deus, pois Deus está no próximo e o próximo representa, como nós, a Divindade “encarnada”.




Contudo, não há uma “fórmula de sucesso” para o amor. O amor se aprende amando. E, nisto, a busca pelo outro transmuda-se, em quantidade e qualidade, a partir da evolução do Ser, que substitui o amor egoístico (posse) em amor altruísta, e que amplia o foco da “cara-metade” ou do(a) companheiro(a) para várias pessoas, tantas quanto sejam possíveis, para um dia completar-se no Amor pela (à) Humanidade.



Marcelo Henrique, é espírita, escritor, palestrante, pesquisador da Doutrina Espírita, é de Santa Catarina, e colabora com este blog.

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