Não temos a posição do
Espiritismo sobre o casamento gay, porquanto o assunto não foi abordado na
Codificação, mas podemos, com base na liberdade de consciência preconizada pela
Doutrina, considerar o elementar: não há por que opor-se a duas pessoas do
mesmo sexo que decidam viver juntas, independente do fato de manterem ou não
uma comunhão sexual.
Observemos as questões abaixo, de O Livro dos Espíritos:
Questão 200. Pergunta Kardec: Os Espíritos têm sexo?
Responde o mentor: Não
como o entendeis, porque o sexo depende da organização. Há entre eles amor e
simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos.
Questão 201. Pergunta Kardec: O Espírito que animou o corpo de um homem
pode animar, em nova existência, o de uma mulher e vice-versa?
Responde o mentor: Sim,
são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.
Se os Espíritos não têm sexo como morfologia, podendo reencarnar
como homem ou mulher; se o que há entre eles é amor e simpatia, baseados na afinidade de sentimentos, o que os
impede de cultivar um relacionamento afetivo com alguém do mesmo sexo?
Qualquer par de homossexuais, masculino
ou feminino, indagado quanto à natureza de seu relacionamento, nos dirá que é
muito mais uma questão de comunhão afetiva do que carnal. Não fosse por isso, não
haveria razão para viverem juntos.
Nessa condição, têm o direito de
formalizar em cartório a decisão, até por uma questão prática, envolvendo
sucessão, herança, pensão, bens adquiridos em comum… Antes a lei determinava
que esse contrato fosse celebrado por um casal. Hoje, em muitos países,
inclusive no Brasil, essa exigência foi abolida.
Considerando a semântica, há quem não
admita a definição casamento para
esse contrato social. Não vejo por quê. A língua portuguesa é muito generosa
com relação às suas expressões.
Frequentemente apresentam vários
significados, não raro até aparentemente contraditórios. O dicionário Houaiss diz, dentre outras acepções, que
casamento pode ser uma associação ou uma aliança. Essas expressões, por extensão, contemplam a união entre
duas pessoas do mesmo sexo, registrada em cartório para os fins legais.
Só não podemos admitir um casamento espírita, nos moldes das
religiões tradicionais, já que a
Doutrina não tem ritos nem rezas, nem ofícios nem oficiantes. Aprendemos que
todo ato de comunhão com a espiritualidade é eminentemente único e pessoal, um
assunto entre nós e a divindade.
Por isso, quem deseje pedir as bênçãos
divinas para uma união matrimonial, para um filho que nasce ou um familiar que
desencarna, deve fazê-lo pessoalmente, sem intermediação, elevando o pensamento
na prece contrita.
Demonstrando que o casamento gay transcende a mera questão sexual,
não raro os parceiros, sejam do sexo feminino ou masculino, adotam filhos,
formando uma família.
Há quem não aceite, sob a alegação de
que dois pais ou duas mães irão confundir a cabeça da criança.
Atendendo a essa objeção, pergunta-se:
o que é preferível, a criança experimentar o trauma de crescer num orfanato ou,
pior, na rua, ou ser cuidada e educada num lar formado por dois pais ou duas
mães? Considere, prezado leitor, algo ponderável: pesquisas com crianças
educadas por gays revelam que não apresentam
dificuldades no relacionamento social. Muitas se saem até melhor nos estudos.
Tudo o que a criança precisa é de um
lar ajustado, onde receba muito amor, não importando se é educada por homo ou
heterossexuais.
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