O sábio indiano passava com
um discípulo, às margens do Ganges. Em dado momento, viu um escorpião que se
afogava. Pressuroso, estendeu a mão e o
retirou das águas. Previsivelmente, o escorpião deu-lhe uma ferroada. Não
obstante a dor, o sábio, cuidadoso e paciente, o depositou em terra firme.
Teimoso, o bicho voltou ao rio.
O discípulo, admirado, viu
seu mestre salvá-lo novamente, submetendo-se a nova agressão. O escorpião, que
parecia orientado por vocação suicida, retornou às águas. Repetiu-se a cena. A
mão do sábio intumescia, lancinante dor.
– Mestre – balbuciou,
confuso, o discípulo, – não estou entendendo. Esse escorpião o atacou três
vezes e o senhor continua empenhado em socorrê-lo?!
Ele sorriu.
– Meu filho, é da natureza
dele picar; a minha é salvar!
Grande sábio, não é mesmo,
leitor amigo? Se responder negativamente, concordo com você. Faltou-lhe um componente essencial à sabedoria:
o bom senso, a capacidade de avaliar uma situação e fazer o melhor. Se o
exercitasse, simplesmente apanharia um arbusto ou vareta, recolheria o
escorpião e o deixaria longe do rio. Fácil, fácil, sem problemas, sem picadas,
sem dores…
***
Desde tempos imemoriais, os
homens colhem experiências envolvendo o suposto sobrenatural. No histórico de qualquer família, infalivelmente, há
notícias relacionadas com o assunto.
Em meados do século XIX, na
França, estavam em efervescência fenômenos dessa natureza. Envolviam mesas que
se movimentavam e até se comunicavam, em insólita telegrafia, com pachorrenta
indicação das letras do alfabeto, compondo instigantes diálogos com a
madeira. As pessoas divertiam-se, sem
questionar como era possível um móvel, sem nervos e sem cérebro, exercitar o
pensamento.
Usando de bom senso, Allan Kardec
concebeu, de imediato, que havia seres inteligentes produzindo os fenômenos.
Imaginou, em princípio, fossem os próprios participantes a agir,
inconscientemente, por artes de desconhecida província cerebral.
Para comprovar essa tese, preparou perguntas
sobre assuntos que só ele conhecia. A mesa respondeu com propriedade.
Certamente, sua própria
mente interferia. Formulou questões sobre assuntos que desconhecia. A mesa,
impávida, não vacilou. Respostas
absolutamente corretas.
Fosse um parapsicólogo,
desses que abominam avançar além dos estreitos limites de suas convicções
materialistas, certamente formularia hipóteses mirabolantes, relacionadas com
um ser onisciente a dormitar nos refolhos da consciência humana. Um deus
interior, capaz de responder a qualquer pergunta, ainda que a resposta
estivesse num livro enterrado em recôndita região, no Himalaia.
Ocorre que Kardec não era
simples “sábio”. Tinha bom senso. Logo
percebeu que, por trás daquelas manifestações, havia Espíritos, no mais
vigoroso movimento jamais desenvolvido pelos poderes espirituais que nos
governam, com o objetivo de combater o materialismo, estabelecendo uma ponte
entre o além e o aquém.
Imperioso cultivar o bom
senso em tudo, particularmente em se tratando de religião. Sem ele, ficaremos
sempre jungidos aos estreitos limites de nossa crença, engessados por
princípios dogmáticos, como ocorre com muitos religiosos, que poderiam iluminar
seu entendimento se tivessem o bom senso de avançar além das restrições que
lhes são impostas.
Richard Simonetti, 81, espírita, escritor, palestrante, viajou pelo Brasil e pelo Mundo divulgando a Doutrina de acordo com a codificação de Allan Kardec, um dos autores mais lidos no Movimento Espírita Brasileiro, é colaborador deste blog e recebe e-mails sobre o texto e outros assuntos Espíritas pelo richardsimonetti@uol.com.br - Também possue sua página no Facebook, Richard Simonetti.
Nenhum comentário:
Postar um comentário