terça-feira, 16 de abril de 2019

A SEGURANÇA DE UMA PSEUDOLÓGICA ESPÍRITA - POR MARCELO HENRIQUE






Conheço muitos espíritas "seguros de si mesmos". Eles pertencem ao gênero "o Espiritismo tem todas as respostas" para as múltiplas indagações da vida. E, do alto de sua segurança "espírita", tudo interpretam com os olhos voltados para uma “certeza” de que as mínimas situações do viver são reflexos do passado espiritual de cada um.
















 Esta pseudológica serve, ao mesmo tempo, de cruz e bálsamo. Cruz, porque implica a crença de que “tudo está pré-traçado” e estamos obrigados a resgatar erros pretéritos (com o mesmo peso de vidas anteriores).
 Bálsamo, pois coloca a criatura como um “coitadinho”, que tem de suportar as contrariedades e iniquidades da vida pois, ao final, receberá como recompensa, uma vida melhor e mais espiritualizada.


Bom seria se a questão fosse unicamente esta, ou seja, se os efeitos deste raciocínio (?) estivessem circunscritos ao autoexame individual, um “olhar para dentro de si”, para entender melhor a si mesmo, o próximo e o mundo. Todavia, não é o que ocorre. Com esta pseudológica, as pessoas se tornam (nos Centros Espíritas e fora deles) conselheiras dos outros, analisando rapidamente as contingências das atuais provações/expiações para “encontrar”, com mais celeridade ainda, a “razão” ou o porquê dos sofrimentos e das dificuldades do hoje, apresentando com naturalidade (?) a raiz, causa ou origem daqueles.








Esta gente, francamente, não estuda a Doutrina Espírita, mesmo frequentando grupos e horários de atividades em instituições espíritas. Ao invés de buscar, no Espiritismo, caminhos e fontes para o entendimento maior da Vida, encontra justificativas para o seu proceder (e o dos outros) com embasamento em respostas ou capítulos das chamadas Obras Básicas. Fazem, então, recortes do pensamento de Kardec/Espíritos, para explicar (?) as causas da felicidade/desgraça humanas.




Exemplo típico disso é a adesão de algumas instituições e de muitos “pensadores” espíritas à tese da restritividade absoluta ao aborto - inclusive sem a ressalva contida na Codificação: o risco de morte para a mãe. Querem, eles, apertar ainda mais o freio legal, fazendo desaparecer as excludentes de culpabilidade (aborto pós-estupro e perigo de perecimento da gestante) e o aborto judicial, quando o magistrado pode autorizar (anencefalia, por exemplo) a interrupção da gravidez. Essa gente se baseia em algumas exceções (o caso recente da criança Marcela de Jesus Galante Ferreira, que viveu aparentemente sem cérebro um ano, oito meses e doze dias). Marcela tinha o mesencéfalo, parte intermediária do cérebro e outras estruturas que garantiram sua sobrevida, conforme a pediatra Márcia Barcellos que a acompanhou. Mas, os espíritas (assim como os evangélicos e os católicos) nem querem saber da lógica e da ciência. Dizem bravatas por aí, impingindo a pais e mães o calvário de suportar uma gravidez sem qualquer perspectiva de êxito, para obedecer aos “desígnios divinos”.
A lógica espírita, no entanto, legítima e verdadeira, não impõe nada a ninguém, por determinação ou impedimento. Ela nos faz utilizar, pessoal e subjetivamente, nosso raciocínio para entender a vida e melhor vivê-la. Longe de prescrições e apenações, como bem quereriam os “espíritas” seguros de si mesmos.



Marcelo Henrique, é advogado, espírita, palestrante, divulgador da Doutrina espírita, e colaborador deste blog.






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