terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O DESAFIO MAIOR - por Richard Simonneti





         A história mais popular da série Mil e uma Noites nos fala de Aladim e a lâmpada mágica, que, esfregada, libertou um gênio disposto a atender a três desejos seus.
         Há centenas de versões dessa aventura original, em filmes, livros, programas de televisão, não raro de cunho humorístico.
         Recordo uma do gênio que, agradecido ao seu libertador, prometeu atender às suas aspirações, sintetizadas num único desejo, porquanto estivera muito tempo preso na lâmpada e seus poderes estavam enfraquecidos. 

       O beneficiário pensou, pensou…
         Se era apenas um desejo, deveria pedir algo grandioso.
         – Quero que você transforme a casa de minha propriedade, onde moro, num edifício de cinquenta andares, com duzentos apartamentos de trezentos metros quadrados para alugar.
         O gênio ponderou:
         – Como lhe disse, estou ainda um tanto fraco, e uma realização assim vai deixar-me exausto. Dá para simplificar?
         – Bem – falou o homem –, há algo bem mais simples que tenho tentado alcançar, sem sucesso. Quem sabe você poderá ajudar-me.
         – Peça! Esteja certo de que o atenderei.
         – Eu queria compreender as mulheres…
         O gênio suspirou:
         – Como é mesmo que você quer o prédio?
                  
                                              
         Bem, caro leitor, não é minha intenção falar de enigmas impenetráveis.
         Evocando a figura do gênio das mil e uma noites, é interessante observar nossos desejos enquanto nas etéreas plagas, em contraposição com os mesmos quando reencarnamos.
         No mundo espiritual temos uma visão objetiva de nossas necessidades evolutivas.
         Pedimos aos gênios tutelares, nossos amigos espirituais, que nos ajudem a planejar uma existência capaz de incinerar nossas mazelas e liquidar nossos débitos cármicos, acumulados ao longo de muitos séculos de indisciplina e comprometimento com o desajuste.
         – Quero nascer zarolho e perneta, portador de doenças congênitas, em família complicada; estágio na pobreza, dores e aflições intermináveis…
         Embora inspirados em nobres ideais, fossem nossos desejos atendidos e seríamos esmagados por provações acima de nossas forças, paralisando-nos a iniciativa.
         Podando espinhos em exagero, nossos mentores ajudam-nos a planejar uma jornada menos tormentosa, que não nos tolha a iniciativa.


         Muito mais do que pagar dívidas, é fundamental estejamos empenhados em não contraí-las e a conquistar créditos de trabalho no campo do Bem e do aprimoramento espiritual, adquirindo aquela riqueza que, no dizer de Jesus, as traças não roem, a ferrugem não corrói, nem os ladrões roubam.
         O problema é que aqui aportando, visão espiritual prejudicada pela armadura física, deixamos que prevaleçam os interesses humanos.
         Sofremos uma inversão de valores.
         Se as coisas correm mal, clamamos ao Céu.
         Se correm bem, distraímo-nos dos bons propósitos.
         Pagamos nossos débitos cármicos com a angústia do sovina.
         Contraímos novos débitos com a avidez do perdulário.
        

                                              

         Ao final da jornada, o saldo é negativo na contabilidade divina e vamos parar em regiões umbralinas, onde estagiam os maus pagadores e os esbanjadores do tempo, de onde nenhum gênio nos tirará até que nos livremos dos lastros maiores de desajustes e perturbações.
         Sofremos, choramos, clamamos pela complacência divina...
         Isso não basta. Na célebre parábola evangélica, o filho pródigo permaneceu na indigência, até cair em si e reconhecer que cometera um grande erro afastando-se da casa de seu pai. Foi quando decidiu voltar.
         Exatamente o que nos tem acontecido. Depois de muito sofrer, colhendo no umbral as consequências de nossos desatinos, experimentamos esse cair em si, a partir do que somos atendidos, esclarecidos e orientados.


         Compenetramo-nos de nossas fraquezas e mazelas, de nossos débitos cármicos, da necessidade da reencarnação…
         E começa tudo de novo.
         Assim será até que nos disponhamos, com todas as forças de nossa alma, a compatibilizar os ideais divinos com os desejos humanos, a partir do empenho por compreender a nós mesmos, habilitando-nos até mesmo a enfrentar esse autêntico desafio que é decifrar a alma feminina.




Richard Simonetti, 79 anos, é espírita, escritor, palestrante, divulgador da doutrina espírita, um dos mais respeitados membros do MEB (Movimento Espírita Brasileiro), escreve em toda a rede, e colabora semanalmente com o Espiritismo Piracicaba.

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