A
história mais popular da série Mil e uma
Noites nos fala de Aladim e a lâmpada mágica, que, esfregada, libertou um
gênio disposto a atender a três desejos seus.
Há
centenas de versões dessa aventura original, em filmes, livros, programas de
televisão, não raro de cunho humorístico.
Recordo
uma do gênio que, agradecido ao seu libertador, prometeu atender às suas
aspirações, sintetizadas num único desejo, porquanto estivera muito tempo preso
na lâmpada e seus poderes estavam enfraquecidos.
O
beneficiário pensou, pensou…
Se era
apenas um desejo, deveria pedir algo grandioso.
– Quero
que você transforme a casa de minha propriedade, onde moro, num edifício de
cinquenta andares, com duzentos apartamentos de trezentos metros quadrados para
alugar.
O gênio
ponderou:
– Como
lhe disse, estou ainda um tanto fraco, e uma realização assim vai deixar-me
exausto. Dá para simplificar?
– Bem –
falou o homem –, há algo bem mais simples que tenho tentado alcançar, sem
sucesso. Quem sabe você poderá ajudar-me.
– Peça!
Esteja certo de que o atenderei.
– Eu
queria compreender as mulheres…
O gênio
suspirou:
– Como é
mesmo que você quer o prédio?
Bem,
caro leitor, não é minha intenção falar de enigmas impenetráveis.
Evocando
a figura do gênio das mil e uma noites, é interessante observar nossos desejos
enquanto nas etéreas plagas, em contraposição com os mesmos quando
reencarnamos.
No mundo
espiritual temos uma visão objetiva de nossas necessidades evolutivas.
Pedimos
aos gênios tutelares, nossos amigos espirituais, que nos ajudem a planejar uma
existência capaz de incinerar nossas mazelas e liquidar nossos débitos
cármicos, acumulados ao longo de muitos séculos de indisciplina e
comprometimento com o desajuste.
– Quero
nascer zarolho e perneta, portador de doenças congênitas, em família
complicada; estágio na pobreza, dores e aflições intermináveis…
Embora
inspirados em nobres ideais, fossem nossos desejos atendidos e seríamos
esmagados por provações acima de nossas forças, paralisando-nos a iniciativa.
Podando
espinhos em exagero, nossos mentores ajudam-nos a planejar uma jornada menos
tormentosa, que não nos tolha a iniciativa.
Muito
mais do que pagar dívidas, é fundamental estejamos empenhados em não
contraí-las e a conquistar créditos de trabalho no campo do Bem e do
aprimoramento espiritual, adquirindo aquela riqueza que, no dizer de Jesus, as
traças não roem, a ferrugem não corrói, nem os ladrões roubam.
O
problema é que aqui aportando, visão espiritual prejudicada pela armadura
física, deixamos que prevaleçam os interesses humanos.
Sofremos
uma inversão de valores.
Se as
coisas correm mal, clamamos ao Céu.
Se
correm bem, distraímo-nos dos bons propósitos.
Pagamos
nossos débitos cármicos com a angústia do sovina.
Contraímos
novos débitos com a avidez do perdulário.
Ao final
da jornada, o saldo é negativo na contabilidade divina e vamos parar em regiões
umbralinas, onde estagiam os maus pagadores e os esbanjadores do tempo, de onde
nenhum gênio nos tirará até que nos livremos dos lastros maiores de desajustes
e perturbações.
Sofremos,
choramos, clamamos pela complacência divina...
Isso não
basta. Na célebre parábola evangélica, o filho pródigo permaneceu na
indigência, até cair em si e
reconhecer que cometera um grande erro afastando-se da casa de seu pai. Foi
quando decidiu voltar.
Exatamente
o que nos tem acontecido. Depois de muito sofrer, colhendo no umbral as
consequências de nossos desatinos, experimentamos esse cair em si, a partir do que somos atendidos, esclarecidos e
orientados.
Compenetramo-nos
de nossas fraquezas e mazelas, de nossos débitos cármicos, da necessidade da
reencarnação…
E começa
tudo de novo.
Assim será até que nos disponhamos, com todas as forças de
nossa alma, a compatibilizar os ideais divinos com os desejos humanos, a partir
do empenho por compreender a nós mesmos, habilitando-nos até mesmo a enfrentar
esse autêntico desafio que é decifrar a alma feminina.
Richard Simonetti, 79 anos, é espírita, escritor, palestrante, divulgador da doutrina espírita, um dos mais respeitados membros do MEB (Movimento Espírita Brasileiro), escreve em toda a rede, e colabora semanalmente com o Espiritismo Piracicaba.
Facebook Richard Simonetti
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