Desde os primeiros contatos com a Doutrina Espírita, Lenita
entregou-se ao esforço do Bem. Diligente mãe de família, com cinco filhos
que lhe reclamavam atenção, ainda assim,
com o apoio do marido, encontrava
tempo para labores diversos,
vinculados ao Centro que frequentava: visitava
doentes, distribuía mantimentos e
roupas, participava de reuniões,
exercitava a mediunidade.
Isso tudo apesar de
incômodo problema de saúde, uma gastrite crônica que lhe impunha penosos
padecimentos. O tratamento médico e os passes
magnéticos aliviavam os sintomas, mas o mal era de uma perseverança irritante.
Às vezes, alegando que "ninguém é de ferro", deitava
falação, reclamando dos "guias",
que não a amparavam com a eficiência desejada.
Certa feita foi mais longe e caiu nos
"cinco minutos", expressão popular que define o
comportamento
de pessoas que, perdendo o controle, falam e fazem o que não devem. Regressara
ao lar, após
visita a enfermos. Dia quente, Sol abrasador de verão. Sedenta, buscou água fresca, sorvendo-a com sofreguidão. No entanto, experimentou a sensação de ingerir ácido puro. Dor lancinante invadiu suas
entranhas. Desesperada, clamou:
— Não aguento mais! Se
tivesse um copo de veneno tomava agora mesmo para acabar com meu sofrimento!
Arrependeu-se de imediato, ouvindo a serviçal:
— Pelo amor de Deus,
dona Lenita! Não fale assim!... Cuidado com a tentação!...
Ficou arrasada. Como espírita, tinha plena consciência de que
nada ocorre por acaso. Havia uma razão para seus males. Não obstante, passou o
resto da tarde amuada, com dores no corpo e mágoas na Alma, reclamando socorro do Céu.
À noite, na reunião mediúnica, viveu inesquecível
experiência. Dava-se à oração quando viu uma mulher que parecia sair de dentro de si
mesma, a
exibir expressão atormentada. Em lance dramático, a fantasmagórica personagem misturou água e
soda cáustica
num copo. Ato contínuo sorveu o terrível corrosivo.
Como
se ela própria o tivesse feito, Lenita sentiu
insuportável queimação no trato digestivo, deixando escapar irreprimíveis gemidos que emolduraram de dor sofrido apelo:
— Meu Deus! Meu Deus!
Ajuda-me, Senhor, por misericórdia!...
Percebeu, então, junto de si, um médico desencarnado que, após
aplicar-lhe medicação fluídica balsamizante, explicou:
— Lenita, mostramos-lhe algo de seu passado,
a fim de que
impulsos suicidas não mais encontrem receptividade sua mente. Foi exatamente assim que você se suicidou na existência
passada. Num momento de insensatez, premida por situação difícil, gerou os sofrimentos que a
afligem. Cuidado! O desespero é
péssimo conselheiro. Sugere sempre a
fuga, complicando o futuro. Não ponha a perder a preciosa semeadura de
bênçãos que vem efetuando. Suas dores estão
bem dosadas. A cruz que carrega tem peso certo, compatível com a
resistência de seus ombros. Use a almofada
da humildade e bem suave lhe
parecerá.
Desde então, Lenita
não mais permitiu que os "cinco
minutos" a desestabilizassem, suportando com resignação as crises gástricas.
E percebia,
gratificada, que se tornavam menos frequentes e dolorosas à medida que se habituava a usar o
anteparo sugerido pelo benfeitor espiritual.
O apóstolo Paulo
dizia ter um "espinho na carne".
Discreto, nunca revelou a natureza de seu problema. Oportuno
destacar que se lhe houvesse emprestado
demasiada importância, detendo-se na angústia e na rebeldia, jamais
teria conquistado a gloriosa condição do
grande arauto do Evangelho.
Todos temos o "espinho
na carne", conforme as dívidas do passado e necessidades do presente. Se
superestimarmos as limitações e sofrimentos que nos impõe em nosso próprio benefício, fatalmente
resvalaremos para estados de rebeldia e depressão,
favorecendo os perigosos "cinco minutos".
E poderá ocorrer que,
tentados a fugir da Vida para escapar ao
espinho, apenas avançaremos em direção a
tormentosos espinheiros.
Richard Simonetti,81, escritor, espírita, há mais de 60 anos divulgando o Espiritismo no Brasil e no Mundo, tem canais em seu nome no You Tube, páginas na WEB, divulgação em Facebook, colabora semanalmente com este blog.
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