sexta-feira, 31 de março de 2017

FALTA DE FORMAÇÃO DOUTRINÁRIA - POR J.HERCULANO PIRES





Amigos leitores deste blog, estamos resgatando textos antigos, J.Herculano Pires, foi um dos maiores espíritas, palestrantes e divulgador do espiritismo, recolhemos das páginas da história da doutrina um texto seu da década de 70 muito atual nos dias de hoje e que faz parte de um livro pouco lido e devidamente estudado.

Texto retirado do livro O Mistério do Bem e do Mal, senhoras e senhores, amigos do Espiritismo, Herculano Pires, o metro que melhor mediu Kardec.

...



Sem a formação doutrinária, não teremos um movimento espírita coeso e coerente. E, sem coesão e coerência, não teremos Espiritismo. Essa a razão por que os Espíritos Superiores confiaram às mãos de Kardec o pesado trabalho da Codificação. Kardec teve de arcar, sozinho, com a execução dessa obra gigantesca. Porque só ele estava em condições de realizá-la. Depois de Kardec, o que vimos? Léon Denis foi o único dos seus discípulos que conseguiu manter-se à altura do mestre, contribuindo vigorosamente para a consolidação da Doutrina. Era, aparentemente, o menos indicado. Não tinha a formação cultural de Kardec, residia na província, não convivera com ele, mas soubera compreender a posição metodológica do Espiritismo e não a confundia com os desvarios espiritualistas da época.

Depois de Denis, foi o dilúvio. A Revista Espírita virou um saco de gatos. A sociedade Parisiense naufragou em águas turvas. A Ciência e a Filosofia Espíritas ficaram esquecidas. O aspecto religioso da Doutrina transviou-se na ignorância e no fanatismo. Os sucessores de Kardec fracassaram inteiramente na manutenção da chama espírita, na França. E, quando a Arvore do Evangelho foi transplantada para o Brasil, segundo a expressão de Humberto de Campos, veio carregada de parasitas mortais que, ao invés de extirpar, tratamos de cultivar e aumentar com as pragas da terra.

Tudo isso por quê? Por falta pura e simples de formação doutrinária. A prova está aí, bem visível, no fluidismo e no obscurantismo que dominam o nosso movimento no Brasil e no Mundo. Os poucos estudiosos, que se aprofudaram no estudo de Kardec, vivem como náufragos num mar tempestuoso, lutando, sem cessar, com os mesmos destroços de sempre. Não há estudo sistemático e sério da Doutrina. E o que é mais grave, há evidente sintoma de fascinação das trevas, em vastos setores representativos que, por incrível que pareça, combatem por todos os meios o desenvolvimento da cultura espírita.


Enquanto não compreendermos que Espiritismo é cultura, as tentativas de unificação do nosso movimento não darão resultados reais. Darão aproximações arrepiadas de conflitos, aumento quantitativo de adeptos ineptos, estimulação perigosa de messianismos individuais e de grupos. Flamarion, que nunca entendeu realmente a posição de Kardec, e chegou a dizer que ele fez obra um tanto pessoal, como se vê no seu famoso discurso ao pé do túmulo, teve, entretanto, uma intuição feliz quando o chamou de bom senso encarnado.

Esse bom senso é que nos falta. Parece haver se desencarnado com Kardec, e volatizado com Denis. Hoje, estamos na era do contra-senso. Os mesmos órgãos de divulgação doutrinária que pregam o obscurantismo, exibem pavoneios de erudição personalista, em nome de uma cultura inexistente. Porque cultura não é erudição, livros empilhados nas estantes, fichário em ordem para consultas ocasionais. Cultura è assimilação de conhecimentos e bom senso em ação.

O que fazer diante dessa situação? Cuidar da formação espírita das novas gerações, sem esquecer a alfabetização de adultos. Mobral: esse o recurso. Temos de organizar o Mobral do Espírito. E começar tudo de novo, pelas primeiras letras. Mas, isso em conjunto, agrupando elementos capazes, de mente arejada e coração aberto. Foi por isso que propus a criação das Escolas de Espiritismo, em nível universitário, dotadas de amplos currículos de formação cultural espírita.

Podem dizer que há contradições entre Mobral e nível universitário. Mas, nota-se, que falamos de Mobral do Espírito. A Cultura Espírita é o desenvolvimento da cultura acadêmica, é o seguimento natural da cultura atual, em que se misturam elementos cristãos, pagãos e ateus. Para iniciar-se na cultura espírita, o estudante deve possuir as bases da cultura anterior. "Tudo se encadeia no Universo", como ensina, repetidamente, O Livro dos Espíritos. Quem não compreende esse encadeamento, tem de iniciar pelo Mobral. Não há outra forma de adaptá-lo às novas exigências da nova cultura.
A verdade nua e crua é que ninguém conhece Espiritismo. Ninguém, mesmo, no Brasil e no Mundo. Estamos todos aprendendo, ainda, de maneira canhestra.
E se me permito escrever isto, é porque aprendi, a duras penas, a conhecer a minha própria indigência. No Espiritismo, como já se dava no Cristianismo e na própria filosofia grega, o que vale é o método socrático.
Temos, antes de tudo, de compreender que nada sabemos. Então, estaremos, pelo menos, conscientes de nossa ignorância e capazes de aprender.


Mas, aprender com quem? Sozinhos, como autodidatas, tirando nossas próprias lições dos textos, confiantes nas luzes da nossa ignorância? Recebendo lições de outros que tateiam como nós, mas que estufam o peito de auto-suficiência e pretensão? Claro que não. Ao menos isso devemos saber. Temos de trabalhar em conjunto, reunindo companheiros sensatos, bem intencionados, não fascinados por mistificações grosseiras e evidentes, capazes de humildade real, provada por atos e atitudes. Assim conjugados, poderemos aprender de Kardec, estudando suas obras, mergulhando em seus textos, lembrando-nos de que foi ele e só ele o incumbido de nos transmitir o legado do Espírito da Verdade.

Kardec é a nossa pedra de toque. Não por ser Kardec, mas por ser o intérprete humilde que foi, o homem sincero e puro a serviço dos Espíritos Instrutores.

É o que devemos ter nas Escolas de Espiritismo.
Não Faculdades, nem Academias, mas, simplesmente, Escolas. O sistema universitário implica pesquisas, colaboração entre professores e alunos, trabalho conjugado e sem presunção de superioridade de parte de ninguém. O simpósio e o seminário, o livre-debate, enfim, é que resolvem, e não o magister do passado. O espírito universitário, por isso mesmo, é o que melhor corresponde à escola espírita. Num ambiente assim, os Espíritos Instrutores disporão de meios para auxiliar os estudantes sinceros e despretensiosos.

A formação espírita exige ensino metódico mas, ao mesmo tempo, livre. Foi o que os Espíritos deram a Kardec: um ensino de que ele mesmo participava, interrogando os mestres e discutindo com eles. Por isso, não houve infiltração de mistificadores na obra inteiriça, nesse bloco de lógica e bom senso, que abrange os cinco livros fundamentais de Codificação, os volumes introdutórios e os volumes da Revista Espírita, redigidos por ele durante quase doze anos de trabalho incessante.

Essa obra gigantesca é a plataforma do futuro, o alicerce e o plano de um novo mundo, de uma nova civilização. Seria absurdo pensar que podemos dominar esse vasto acervo de conhecimentos novos, de conceitos revolucionários, através de simples leituras individuais, sem método e sem pesquisa. Nosso papel, no Espiritismo, tem sido o de macacos em loja de louças. E incrível a leviandade com que oradores e articulistas espíritas tratam de certos temas, com uma falsa suficiência de arrepiar, lançando confusões ridículas no meio doutrinário. Temos de compreender que isso não pode continuar. Chega de arengas melífluas nos Centros, de oratória descabelada, de auditórios basbaques, batendo palmas e palavreado pomposo. Nada disso é Espiritismo. Os conferencistas espíritas precisam ensinar Espiritismo - que ninguém conhece - mas para isso precisam, primeiro aprendê-lo.

Precisamos de expositores didáticos, servidos por bom conhecimento doutrinário, arduamente adquirido em estudos e pesquisas. Expor os temas fundamentais da Doutrina, não é falar bonito, com tropos pretensamente literários, que só servem para estufar vaidade, à maneira da oratória bacharelesca do século passado.

Esse palavrório vazio e presunçoso não constrói nada e só serve para ridicularizar o Espiritismo ante a mentalidade positiva e analítica do nosso tempo.

Estamos numa fase avançada da evolução terrena.

Nossa cultura cresceu espantosamente nos últimos anos e já está chegando à confluência dos princípios espíritas em todos os campos. A nossa falta de formação cultural espírita não nos permite enfrentar a barreira dos preconceitos para demonstrar ao mundo que Espiritismo, como escreveu Humberto Mariotti, é uma estrela de amor que espera no horizonte do mundo o avanço das ciências. E curiosa e ridícula a nossa situação.
Temos o futuro nas mãos e ficamos encravados no passado mitológico e nas querelas medievais.
Mas, para superar essa situação, temos de aprender com Kardec. Os que pretendem superar Kardec, não o conhecem. Se o conhecessem, não assumiriam a posição ridícula de críticos e inovadores do que, na verdade, ignoram. Chegamos a uma hora de definições.
Precisamos definir a posição cultural espírita perante a nova cultura dos tempos novos. E só faremos isso através de organismos culturais bem estruturados, funcionais, dotados de recursos escolares capazes de fornecer, aos mais aptos e mais sinceros, a formação cultural de que todos necessitamos, com urgência.




Além dos seus livros, Herculano traduziu e/ou comentou as seguintes obras de Allan Kardec (Editora LAKE):
O livro dos espíritos (tradução e comentários)
Revista Espírita (tradução das poesias na coleção de doze volumes)
O que é o espiritismo (introdução)
O livro dos médiuns (tradução e comentários)
O evangelho segundo o espiritismo (tradução e comentários)
O céu e o inferno (tradução da primeira parte e comentários)
A gênese (apresentação do livro e comentários)
Obras póstumas (introdução e comentários)


terça-feira, 28 de março de 2017

ORÁCULOS - RICHARD SIMONETTI

   

                   
                                            




         A cidade de Delfos, na antiga Grécia, chamada umbigo do mundo, era exuberante centro cultural que atingiu seu apogeu nos séculos VII e VI a.C. Artistas, governantes e militares influentes a visitavam, buscando orientação.
         Imagina o leitor, talvez, que contatavam expoentes nos domínios de suas atividades. Nada disso. Consultavam o Além. É isso mesmo! Multidões procuravam os oráculos, locais onde eram cultuados rituais e cerimônias que favoreciam a manifestação dos defuntos, tomados à conta de divindades.
O termo oráculo define também a resposta obtida nessas consultas. E, ainda, na acepção mais difundida, significa intermediário ou médium que desvenda o futuro.
         O mais famoso estava no templo consagrado ao deus Apolo. Ali atuavam as pitonisas, mulheres que respondiam a perguntas na condição de intermediárias. Hoje diríamos médiuns da divindade grega. Suas afirmações, geralmente na forma de versos de sentido simbólico ou dúbio, eram interpretadas pelos sacerdotes.
Os oráculos espalhavam-se por toda a Grécia, em práticas inusitadas para definir o destino das pessoas. Alguns adivinhavam interpretando a disposição de entranhas de animais sacrificados; outros faziam a incubação: o consulente dormia no templo e recebia as respostas em sonhos. Havia os que usavam uma varinha mágica, os que liam as linhas da mão, os que consultavam os astros
         Nãolimites para a fantasia, quando nos dispomos a entrar em contato com o sobrenatural, sem, sem discernimento, principalmente quando o charlatanismo corre solto. Hoje, como ontem, muita gente quer saber o que lhe reserva o futuro.
         – Santo Antônio atenderá meu pedido de casamento?
         – Ficarei livre do chefe que me atazana?
         – Encontrarei cura para o chulé?
         – Acertarei na loteria?
         Consultam especialistas em leitura das mãos, das cartas, dos búzios, do tarô, da borra de café, do cocô de crianças… E há os médiuns, dotados de sensibilidade para entrar em contato com os mortos. Dispõem-se a desenovelar a vida dos interessados, resolvendo enigmas, apontando caminhos, antecipando o futuro…
         Detalhe não considerado: os Espíritos evoluídos, capazes de desvendar nosso destino, cuidam de assuntos mais importantes.  Não perdem tempo com nossas cogitações de caráter imediatista.
         Por isso, médiuns que se envolvem com essas atividades tornam-se intermediários de guias sem a mínima condição para orientar. Agem como palpiteiros, cegos conduzindo cegos, como diria Jesus. Às vezes acertam, porque falam de generalidades, como o atirador medíocre que atinge um alvo qualquer fazendo dezenas de disparos.
         Os oráculos nem mesmo são médiuns. Dotados de alguma sensibilidade, percebem o que vai no íntimo das pessoas. Por isso, suas informações costumam exprimir o que os consulentes estão pensando ou sentindo, ainda que totalmente equivocados.
         Lembro-me de uma senhora que tinha dúvidas quanto à fidelidade de seu marido, imaginando-o envolvido com insinuante moradora de casa ao lado da sua. Consultou um médium. Este a advertiu, enfático: – Cuidado com a vizinha!
Informação falsa. O marido lhe era fiel. O oráculo apenas captou suas próprias suspeitas e lhes deu o caráter de uma revelação.
                                               ***
         Há razões ponderáveis para cultivarmos o intercâmbio com o Além: atestar a realidade da sobrevivência; exercitar a caridade, amparando entidades sofredoras; receber ajuda espiritual, em relação a problemas físicos e psíquicos
         Imperioso, entretanto, que superemos a tendência de oracularizar a prática mediúnica, pretendendo decifrar os enigmas de nosso destino. Nosso futuro não está escrito num livro. É um livro que estamos escrevendo. Qualquer revelação a respeito será sempre especulativa.
A única certeza que os Espíritos podem nos oferecer não constitui novidade: todos morreremos um dia. Quanto ao mais, até mesmo o que se relaciona com nossa morte, a idade, o dia e as circunstâncias, dependem de um detalhe fundamental:

O que estamos escrevendo no livro de nossa vida.



Richard Simonetti é espírita, escritor, divulgador da doutrina espírita com base na codificação de Allan Kardec, há 62 anos viaja pelo Brasil e pelo Mundo, é colaborador semanal neste blog.

segunda-feira, 13 de março de 2017

OS 'CINCO MINUTOS" - POR RICHARD SIMONETTI






Desde os primeiros contatos com a Doutrina Espírita, Lenita entregou-se ao esforço do Bem. Diligente mãe de família, com cinco filhos que lhe reclamavam atenção, ainda assim, com o apoio do marido, encontrava tempo para labores di­versos, vinculados ao Centro que frequentava: visitava doentes, distribuía mantimentos e roupas, participava de reuniões, exercitava a mediunidade.



Isso tudo apesar de incômodo problema de saúde, uma gastrite crônica que lhe impunha penosos padecimentos. O tratamento médico e os passes magnéticos aliviavam os sintomas, mas o mal era de uma perseverança irritante.
Às vezes, alegando que "nin­guém é de ferro", deitava falação, reclamando dos "guias", que não a amparavam com a eficiência de­sejada.

Certa feita foi mais longe e caiu nos "cinco minutos", expressão popular que define o compor­tamento de pessoas que, perdendo o controle, falam e fazem o que não devem. Regressara ao lar, após visita a enfermos. Dia quente, Sol abrasador de verão. Sedenta, buscou água fresca, sorvendo-a com sofreguidão. No entanto, experimentou a sensação de ingerir ácido puro. Dor lanci­nante invadiu suas entranhas. De­sesperada, clamou:
  Não aguento mais! Se tivesse um copo de veneno tomava agora mesmo para acabar com meu sofrimento!
Arrependeu-se de imediato, ouvindo a servi­çal:
  Pelo amor de Deus, dona Lenita! Não fale assim!... Cuidado com a tentação!...
Ficou arrasada. Como espírita, tinha plena consciência de que nada ocorre por acaso. Havia uma razão para seus males. Não obstante, passou o resto da tarde amuada, com dores no corpo e mágoas na Alma, reclamando socor­ro do Céu.






À noite, na reunião mediúnica, viveu inesquecível experiência. Dava-se à oração quando viu uma mulher que parecia sair de dentro de si mesma, a exibir expressão atormentada. Em lance dramático, a fan­tasmagórica personagem misturou água e soda cáustica num copo. Ato contínuo sorveu o terrível corrosivo.



Como se ela própria o tivesse feito, Lenita sentiu insuportável queimação no trato digestivo, deixando escapar irreprimíveis gemidos que emol­duraram de dor sofrido apelo:
  Meu Deus! Meu Deus! Ajuda-me, Senhor, por misericórdia!...

Percebeu, então, junto de si, um médico de­sencarnado que, após aplicar-lhe medicação fluídi­ca balsamizante, explicou:
  Lenita, mostramos-lhe algo de seu passado, a fim de que impulsos suicidas não mais en­contrem receptividade sua mente. Foi exata­mente assim que você se suicidou na existência passada. Num momento de insensatez, premida por situação difícil, gerou os sofrimentos que a afli­gem. Cuidado! O desespero é péssimo conselheiro. Sugere sempre a fuga, complicando o futuro. Não ponha a perder a preciosa semeadura de bênçãos que vem efetuando. Suas dores estão bem dosadas. A cruz que carrega tem peso certo, compatível com a resistência de seus ombros. Use a almofada da humildade e bem suave lhe parecerá.
Desde então, Lenita não mais permitiu que os "cinco minutos" a desestabilizassem, suportando com resignação as crises gástri­cas. 
E percebia, gratificada, que se tornavam me­nos frequentes e dolorosas à medida que se habituava a usar o anteparo sugerido pelo benfeitor espiritual.





O apóstolo Paulo dizia ter um "es­pinho na carne". Discreto, nunca revelou a natureza de seu problema. Oportuno destacar que se lhe houvesse em­prestado demasiada importância, detendo-se na angústia e na rebeldia, jamais teria conquis­tado a gloriosa condição do grande arauto do Evangelho.
Todos temos o "espinho na carne", conforme as dívidas do passado e necessida­des do presente. Se superestimarmos as limitações e sofrimentos que nos impõe em nosso próprio be­nefício, fatalmente resvalaremos para estados de rebeldia e depressão, favorecendo os perigosos "cinco minutos".

E poderá ocorrer que, tentados a fugir da Vi­da para escapar ao espinho, apenas avançaremos em direção a tormentosos espinheiros.


Richard Simonetti,81, escritor, espírita, há mais de 60 anos divulgando o Espiritismo no Brasil e no Mundo, tem canais em seu nome no You Tube, páginas na WEB, divulgação em Facebook, colabora semanalmente com este blog.

sexta-feira, 10 de março de 2017

SONAMBULISMO - POR NUBOR ORLANDO FACURE





Em certa ocasião estive numa cidade do interior para fazer uma palestra sobre o cérebro e a mediunidade. Pouco antes de começar, uma senhora de uns 50 anos de idade me procurou com certa ansiedade, querendo que eu “conhecesse a sua mediunidade”. Dizia que, em certas ocasiões, se sentia, subitamente “fora do seu próprio corpo”. O fenômeno ocorria em qualquer ambiente, não precisando de nenhum “preparo” prévio. Podia estar numa reunião mediúnica ou numa roda de amigos que, de repente, percebia estar ocupando dois lugares. Sentia-se no corpo físico com o qual ela se movia e falava e, no corpo espiritual, de onde procedia seus pensamentos. Nesse estado, podia observar as pessoas presentes, percebendo nelas, inquietude ou sinais de doença em algum de seus órgãos.




O quadro que essa senhora relata, constitui o fenômeno típico do sonambulismo natural, podendo estar ela absolutamente consciente durante todo o processo de desprendimento. No Livro dos Espíritos, Allan Kardec, recebeu as instruções dos Espíritos descrevendo o sonambulismo como um fenômeno no qual a Alma está parcialmente liberta do corpo e, que nestas circunstâncias ela adquire propriedades que lhe permite ver e ouvir além dos limites que os órgãos dos sentidos nos impõem enquanto encarnados.






A palavra sonambulismo significa “andar dormindo” e, no meio espírita, precisamos tomar cuidado porque, nos dias de hoje, ela tem sido empregada quase que exclusivamente para se referir ao fenômeno do sonambulismo infantil. Esse, é um distúrbio do sono, mais freqüente em crianças dos 5 aos 12 anos e que se caracteriza justamente por ocorrer no início do sono, nas fases mais profundas do sono, em que a criança se levanta da cama e sai andando pela casa. Apesar da semelhança, esse quadro não tem nada a ver com o “sonambulismo natural” que estamos abordando.




Quando publicou o Livro dos Espíritos, em 1857, Allan Kardec disse na sua introdução que tinha se interessado pelo Sonambulismo ( desdobramento do Mesmerismo) durante 36 anos, portanto desde os seus 17 anos de idade. Nessa ocasião o sonambulismo era estudado em toda Europa despertando interesse acadêmico de inúmeros sábios da época.
O início dessa história remonta aos primeiros trabalhos de Mesmer quando introduziu suas idéias sobre o “magnetismo animal” e a provocação em seus pacientes da chamada “crise” para normalização do fluxo magnético. Durante a crise ou transe, o paciente entrava num estado torporoso e sensível no qual mantinha-se extremamente receptivo às sugestões e aos efeitos da imaginação.





Um dos mais famosos discípulos de Mesmer, o Marquez de Puysegur, provocava a “crise mesmérica” e aproveitava esse período de “sono provocado” para curar seus pacientes. Durante o transe, certos sonâmbulos podiam ditar recomendações sobre o diagnóstico e o tratamento de enfermos ali presentes.
Em 1819 a divulgação do sonambulismo tinha ganho uma grande importância particularmente na França. Nessa ocasião, Paris, já reconhecia a popularidade do Abade Faria, que com seus estudos, introduziu o conceito e o método da sugestão como agente produtor do sonambulismo. O seu livro, publicado nas vésperas da sua morte “Da causa do Sono Lúcido no Estudo da Natureza do Homem (1819)” acendeu a polêmica entre os que acreditavam na existência e atuação do fluido magnético proposto por Mesmer e a interferência da sugestão na produção do fenômeno sonambúlico.






O magnetismo e o sonambulismo estão intimamente ligados ao Espiritismo, tanto nos seus fundamentos históricos como na sua proximidade com os fenômenos mediúnicos. Nesse sentido é oportuno reabrirmos o Livro dos Médiuns e o Livro dos Espíritos e aprender o que Kardec fala sobre o assunto:
Livro dos Médiuns – Itens 162 e 172 :
1 - “Muitos sonâmbulos vêem perfeitamente os Espíritos e os 
descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes. Podem confabular com eles e transmitir seus pensamentos. Nesses casos eles são sonâmbulos-médiuns”. 
2 - O sonambulismo natural é espontâneo ao passo que o sonambulismo magnético é voluntário e por isso pode ser provocado. Um não suprime o outro já que, em ambos persiste a faculdade da alma em emancipar-se; ocorre apenas uma outra diretriz, que disciplina o fenômeno. A educação mediúnica também permite ao médium que, pela sua vontade, ele tenha controle voluntário sobre o Espírito que vai por ele se manifestar.
3- Pode considerar-se o sonambulismo como sendo uma variedade da faculdade mediúnica.
4- O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito, é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. O médium ao contrário, é instrumento de uma inteligência estranha; é passivo e o que diz não vem de si. O sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento, enquanto o médium exprime o de outrem.


Livro dos Espíritos – Pergunta 425

5- O sonambulismo natural é um estado de independência do Espírito, mais completo que no sonho, estado em que maior amplitude adquirem suas faculdades. No sonambulismo, o Espírito está na posse plena de si mesmo e seu corpo acha-se de certa forma em estado de catalepsia, deixando de receber as impressões exteriores.
Percebe-se claramente que sonambulismo e mediunidade caminham juntos e, nos dois fenômenos encontramos a Alma, emancipada e livre para se manifestar.





Nubor Orlando Facure, 77, é médico, espírita, escritor, palestrante, divulgador da Doutrina Espírita, durante 50 anos viveu ao lado de Chico Xavier como amigo e médico, esteve dentro de casos famosos do Espiritismo no Brasil, um dos maiores estudiosos do cérebro humano, Nubor é hoje presidente do Instituto do Cérebro em Campinas, foi o primeiro médico na Unicamp a falar do Espiritismo como fato, é colaborador deste blog e recebe e-mails pelo:

lfacure@uol.com.br  também tem sua página em Facebook e sites e matérias na Rede.





sexta-feira, 3 de março de 2017

NOSSO CAMINHO NA VIDA - POR DAVID CHINAGLIA












Em todos os momentos da nossa vida no planeta terra podemos modificar nossa situação, Kardec disse que a regra do bem e do mal é a reciprocidade e a soliedaridade e não pode ser aplicada a conduta pessoal do homem ou da mulher para consigo mesmo.

Pois bem sempre teremos bons e maus momentos, na vida podemos sempre superar os bons pedindo para que eles fiquem, mas certamente os senhores e as senhoras que estão me lendo sabem que estes lindos momentos passam, e momentos complexos, de dúvidas, incertezas surgem, mares bravios como aprendi surgem de repente em nossa jornada, e neste momento devemos ter firmeza no leme na nossa nau, da nau da vida.









Claro que sejamos espíritas ou não, tenhamos fé ou não, quando a onda é alta demais, sentimos, pedimos preces, vamos mais aos centros, nos lembramos do evangelho, o corpo cede, temos doenças, insônia, e nos esquecemos de Deus.

Quando Jesus disse ; "vede o que quereríes que vos fizessem ou não" estabeleceu o tratado de vida para todos nós, muitos dos revezes que passamos já fizemos outros passar, de uma forma ou de outra.

Portanto agir em família, em sociedade, como queremos que façam conosco determina os momentos duros, e os mais facéis.

Claro que a Lei Natural e a Lei de Deus, única e necessária para o ser humano, quando nos afastamos dos ensinamentos sejam de Jesus, dos antigos, de Kardec, dos espíritos temos problemas.










Deus ou espíritos superiores não ficam jogando vídeo game como falo determinando em nossa jornada o que faremos, nem tomando vinho, aliás o grande segredo dos espíritos superiores é deixar viver, deixar escolher, e serão nossas escolhas que farão o todo de nossa vida.

Não temos encarnações involutiva ou seja, se fostes rei, não será mendigo, se tem alguma cultura, virá com mais, raramente voltará a terra em condições piores da que se encontra hoje.

Se esta é nossa melhor encarnação faça agora meu caro leitor uma reflexão: "então o que eu era na passada?" e será assim que entenderá que sua hora é agora, seu melhor momento é agora, procure perdoar, carregar fardos pesados por coisas da Terra não é bom, não nos ajudará.





Precisamos rever conceitos todos os dias, olhar mais a esposa, a companheira ou companheiro, a postura dos amigos, deixar de condenar passado, as vezes a pessoa errou e hoje sabe como se conduzir, é necessário abrir dialogo e buscar dar oportunidades seja no meio familiar ou no meio social.

Uma filha que fica sem falar com o pai, será o pai o maior punido? claro que não ela está a se punir, e certamente quando ele desencarnar irá sofrer muito mais, pois terá perdido a oportunidade de perdoa-lo em vida.

Lembre-se o que disse Jesus, "reconcilia-te enquanto estás a caminho" depois o fardo poderá ficar pesado, certamente uma nova encarnação, se todas as pessoas soubessem que cada ato, seja de amor, amizade, paternal, ou filial pode transpor as barreiras da outra dimensão, pensariam mais antes de xingar, ofender, ou tratar da situação A,B,C ou D, com simplismos moralistas.

Sim nós podemos ser felizes, em tudo, como pais, filhos, cônjuges, porém será necessário estarmos bem como pessoa, e praticando atos que gerem boas condições.

Na Terra se fala muito no dinheiro, no bem estar financeiro e material, pouco se faz para mudar os erros espirituais, ainda como encarnados.

Ficamos muito preocupado com o futuro, lembrando do passado e nos esquecemos do dia de hoje, é para isto que o espiritismo te convida para viver o dia de hoje, trabalhar conosco, para si e para seus amigos ou familiares, da forma que puder, nem mais nem menos.

Traçar uma forma de ajudar, escrevendo, falando, consolando, divulgando, orando, porém o importante é fazer alguma coisa.

Fora isto procurar sempre cuidar de nossas palavras, pensamentos, cuidar mais do que está em volta de nós, para nos mantermos bem, a frente dos problemas, ou dificuldades sejam materiais ou espirituais.

Falar até papagaio falar, pentear o macaco alheio é fácil, aprendi com uma moça que conheci, que dizia quando o problema não era dela "este macaco não é meu não vou pentear", é melhor forma de olharmos só para nós, já temos tanto que corrigir em nós, que devemos parar de olhar a vida alheia.

Ninguém aqui é fiscal de Deus nem dono da verdade, é hora de olharmos para nós, cuidarmos de nós, de nossas falas, e atitudes.



Um amigo me disse que a vida é disciplina, é fácil colocar a disciplina estando com dinheiro e uma vida confortável, porém é fácil também colocar disciplina quando os mares estão bravios,. o caminho pode ser florido sempre, e boas estradas.

Falar não a nós mesmos, é uma luta diária, são nossas falas, sobretudo nossas atitudes que conseguiremos voltar mais vezes aos tempos felizes.

Orai e Vigiai, e perdoar 70 vezes 7 disse o amigo e mestre Jesus, quem sou eu, melhor quem somos nós para mudarmos o caminho da verdade?

Em frente pois em o Livro dos Espíritos encontramos as respostas que precisamos, em nossa mente nossas escolhas, e o travesseiro ainda continua sendo nosso melhor juiz, Deus? não se preocupe ele tem coisas mais importantes a fazer do que definir sua vida, esta é sua, sua escolha, e por ele digo, lute, acredite, confie, e no final tudo dará certo,.


David Chinaglia,59, espírita, escritor, palestrante, divulgador da doutrina espírita de acordo a codificação de Allan Kardec, é editor deste blog onde colabora semanalmente, davidchinaglia@gmail.com

quinta-feira, 2 de março de 2017

CASOS ESPÍRITAS - POR NUBOR ORLANDO FACURE




Na velha enfermaria da Santa Casa seu Abelardo está de volta no leito de dona Júlia. Ele vem toda tarde para dar-lhe o passe e ler uma página do Evangelho.
A leitura de hoje faz menção a nossa parentela na Terra, que um dia se reencontra na espiritualidade para colher os frutos da experiência terrena.





As semanas passam rápidas até que seu Abelardo fica sabendo da morte de dona Júlia Quase 10 anos depois, uma surpresa no Centro Espírita emociona nosso abnegado servidor do Evangelho, é uma carta psicografada por dona Júlia:


"Saudoso irmão Abelardo por muitos dias ficou em minha memória nossa última lição do Evangelho:
A tristeza da separação seria amenizada pelo encontro com parentes que partiram na minha frente, reconfortando o coração.

Esse grande e doloroso engano me levou várias vezes ao desespero, as portas se abrem mas o senário é outro, e a realidade é mais penosa que tudo que eu pudesse imaginar,após meus primeiros meses de recomposição das forças físicas, tive coragem de perguntar sobre a possibilidade de encontrar a querida mãezinha,fui levada até uma dirigente da instituição que me internava, para expor meu pedido.


Era a irmã Alda, que mansamente me acolheu e, sem apontar qualquer negativa do pedido que fiz, recomendou que eu precisava antes de mais nada, passar por um estágio num lar de velhinhos alí,  eu iria acumular créditos e experiência com o carinho que podia distribuir aos idosos algum tempo depois fui pedir para irmã Alda se poderia rever os dois filhos que me antecederam na morte, e novamente a irmã Alda me recomendou ajudar numa escola de jovens, que precisavam de orientação cristã para recompor o Perispírito mais recentemente, depois de 8 anos de trabalho voluntário, já não suportava a saudade, quando pedi a irmã Alda que me permitisse o encontro com Tobias meu amado esposo."

Segue a Irmã  Alda em seu relato,



Com a mesma delicadeza a nossa diretora me encaminhou para um grupo de excursões entre os encarnados que toda semana acudiam moradores de rua hoje, depois desses 10 anos de trabalho, trago as palavras amigas da irmã Alda para nosso esclarecimento: 

"Minha mãe permaneceu em tratamento médico de uma psicose que a atormentou por anos, meus filhos depois de abusos com bebidas e drogas aguardam liberação da clínica que os acolheu nas imediações da Terra, meu esposo está envolvido com obsessores que cobram justiça."

Ele se comprometeu desviando dinheiro deles, com a dedicação voluntária nos estágios que irmã Alda me destacou pude aprender: "O amor que exige posse tiraniza O amor que faz milagres não dispensa o concurso do tempo."



Nubor Orlando Facure,77 é escritor,espírita, médico, é pesquisador do espiritismo, esteve ao lado de Chico Xavier em 50 anos de sua jornada, escreve e colabora com este blog, atende pelo e-mail : lfacure@uol.com.br