quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O BARBEIRO TERAPEUTA - POR RICHARD SIMONETTI


                            richardsimonetti@uol.com.br
         Freguês novo, o velhinho certamente gostou do corte. Comparecia semanalmente. O barbeiro, sensato e honesto, avisou:
         – Devo dizer-lhe que estou ganhando seu dinheiro quase sem trabalhar. Uma semana é muito pouco para retoques.


         Surpreso, ouviu a explicação do assíduo cliente:
         – Sei disso, meu amigo. Ocorre que não venho aqui apenas para cuidar dos cabelos. Quero conversar. Você é excelente ouvinte, o melhor que já encontrei. Conto meus casos, falo de minha vida, meus problemas… Não sabe o bem que me faz!
         Notável! O barbeiro funcionava para o cliente idoso como terapeuta, cuja eficiência exprimia-se na rara capacidade de ouvir.
         A formação de um psicólogo, o cuidador das almas, embora nem sempre acredite que elas existam, exige anos de estudos, pesquisas e treinamento, a fim de que se torne um profissional habilitado e competente, mas a lição básica, simples, a mais eficiente, resume-se em… aprender a ouvir! É meio caminho para pacificar o cliente e definir a natureza de seus problemas.
         Depois, com leves toques, sem a pretensão de impor princípios, ajudá-lo a escolher as melhores opções.
                                              

         O que seria de nós se ao orarmos não houvesse ninguém lá em cima com disposição para nos ouvir?! Quando nossa oração, proferida com o ardor do sentimento e o combustível da fé, eleva-se às alturas, endereçada aos poderes espirituais que nos governam, jamais encontra ouvidos, surdos aos nossos apelos.
         Se não esquecermos o espírito de submissão aos desígnios divinos, que deve marcar os contatos com o Céu, a resposta poderá não atender aos nossos desejos, mas sempre nos garantirá fortaleza de ânimo e discernimento, favorecendo o mais importante: a paz no coração.
                                               ***
         Diz Jesus, enunciando a Regra Áurea do Cristianismo (Mateus, 7:12): Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também a eles.
         Pergunto-lhe, caro leitor: Ao nos procurar, o que o familiar atribulado, o amigo angustiado, o colega de serviço preocupado, o transeunte necessitado, esperam, em princípio?
         Elementar: que favoreçamos seu desabafo. E não é só isso. Conflitos seriam evitados, pendências seriam resolvidas, se soubéssemos ouvir o outro, com a disposição em admitir que ele possa estar certo e que, não raro, estamos equivocados em nossa postura.
         Principalmente no lar, as pessoas distraem-se dessa necessidade básica dos familiares: falar e ser ouvido.


         Uma senhora tinha essa dificuldade com o marido, psicólogo às voltas com seu trabalho, sempre atento à clientela, distraído com a família. Em casa, prendia-se ao notebook, fazendo do lar uma extensão do consultório, a responder e-mails que chegavam às pencas, enviados pelos pacientes.
         Você pode imaginar o que é o drama de uma esposa que não consegue fazer-se ouvir pelo marido?  Um inferno, meu caro, para a falante alma feminina!
         Ela reclamava inutilmente. A agenda dele estava sempre cheia. Incontáveis correspondências monopolizavam sua atenção.
         Um dia começaram a chegar e-mails de uma senhora, cliente em potencial, que, residindo em pequena cidade, onde não havia psicólogos, rogava sua atenção para alguns problemas que a afligiam. Atencioso, dispôs-se a ajudá-la. Estendeu-se o contato.
Ela sempre pedindo conselhos, falando dos filhos, do marido, dos problemas domésticos. Ele orientando-a com a habitual eficiência, estudioso do comportamento humano.
         A assídua correspondente sempre agradecia por sua atenção, que lhe permitia desabafar em relação aos contratempos. Após algumas semanas e muitos e-mails trocados, ela informou que estava com viagem para sua cidade e gostaria de agendar uma consulta.
         Assim foi feito. No dia aprazado, quando a cliente entrou em seu gabinete, a surpresa. A referida senhora era a esposa.  Cansada de reclamar sua atenção, solucionou o problema, via internet.
         Está aí, amável leitora, uma sugestão interessante para esposas de maridos desatentos. Usar a internet!



 Richard Simonetti, 81, é espírita, dirigente, escritor, palestrante, um dos maiores divulgadores da Doutrina Espírita no Brasil há mais de 61 anos, tem seus canais na rede no You Tube, seu site, e sua página no Facebook Richard Simonetti, é colaborador deste blog onde escreve semanalmente.

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