Há um grande desafio à frente: faz-se necessário a união das grandes lideranças espíritas a se manterem empenhadas na sua dinamização e expansão, com vistas à penetração e vivência das ideias espíritas em todos os segmentos da sociedade, sempre atentas à codificação. Percebe-se que uma grande parcela da comunidade espírita vem se distanciando das diretrizes traçadas pelo codificador.
É importante chamar a atenção para esta realidade – não é nosso propósito causar distorções- já que não fazemos referências particulares a pessoas ou instituições, mas convocamos trabalhadores espíritas sérios a uma reflexão séria a cerca do nosso movimento.
Entendemos que o povo brasileiro tem uma tendência ao místico, devido a sua formação étnica e cultural, e isso reflete muito em seu comportamento enquanto espírita. Por não conhecerem os postulados espíritas e condicionados aos atavismos igrejeiros, dos quais, ainda não conseguimos nos desvencilhar, sem o intento, estão por transformar o Espiritismo em mais uma seita entre tantas existentes.
Vejamos alguns exemplos: verdadeiros atos litúrgicos (preces), formalizadas, longas, decoradas, declamadas em tom piedoso; casas espíritas realizando sessões de preces sem objetivo doutrinário, preces encomendadas por terceiros, algumas especiais; alguns adeptos usando preces impressas e até fotografias de vultos espíritas como amuletos.
Na área das chamadas irradiações, a falta de orientação doutrinária conduz os freqüentadores a transferir para os dirigentes a tarefa de interceder junto à Divindade para amenizar os padecimentos de encarnados e desencarnados, para isso bastando colocar os nomes dos beneficiários em recipientes ou longas listagens, muitas vezes sem qualquer participação dos interessados na prece coletiva.
Uso preferencial de toalhas brancas sobre as mesas, na utilização de uniformes, distintivos, ou no passe em roupas e fotografias; retratos e imagens de vultos espíritas expostos no salão de palestras públicas, não raras vezes ornados de flores e luzes coloridas, num convite à veneração idolátrica.
Alguns procedimentos são impostos aos freqüentadores pela própria direção dos Centros, tais como a recepção de passes mesmo sem necessidade de tal socorro, separação entre homens e mulheres no recinto das reuniões, ingestão de água magnetizada após o passe ou ao término das reuniões, prática semelhante à distribuição da hóstia nas igrejas.
Com referência ao passe: virou mania. Para muitos freqüentadores de sessões espíritas, tomar passes constitui um hábito não muito saudável à luz da proposta espírita, sendo muito conhecida, neste terreno, a figura do "papa-passes". A falta de maiores esclarecimentos sobre a oportunidade em que se deve recorrer a essa abençoada terapêutica, muitos dela se utilizam desnecessariamente, ou, o que é pior, como se, através do passe, o indivíduo estivesse obtendo a "absolvição" de suas fraquezas ou purificando-se espiritualmente. Sem contar com gesticulação exagerada e ridícula por parte dos passistas, que também não têm orientação.
É importante salientar que é no terreno da terapêutica do passe que se gerou a mais acentuada distorção acerca do que o Espiritismo pode oferecer ao homem. O passe assumiu tamanha importância para a manutenção dos níveis de freqüência nas Casas Espíritas, que são raras as reuniões públicas em que ele não é ministrado. A grande maioria dos freqüentadores de nossas casas vai ao centro espírita "tomar passe" ou "tirar consulta", pois são esses os produtos que o nosso espiritismo (se é que posso chamar isso de Espiritismo) oferece.
Substitui-se o essencial pelo acessório, iludem-se os freqüentadores oferecendo-lhes os subprodutos da ação espírita como se a Doutrina não tivesse algo melhor para dar.
O que frisamos aqui é a omissão relativa à "caridade da divulgação da própria Doutrina", recomendada por Emmanuel.
O movimento espírita não escapa, sequer, da tendência idolátrica de seus seguidores. Culto a Bezerra de Menezes, invocado em todos os lugares, como santo milagreiro espírita. Consagração de entidades espirituais: Maria, Ismael, assim como médiuns sofrendo o mesmo processo de idolatria.
Notamos também o mercado da literatura espírita: obras com conteúdos medíocres, sem fundamentação nenhuma, que se opõem à filosofia espírita, principalmente de cunho profético, estimuladas pelo interesse do público e pelas distribuidoras de livros que têm interesse financeiro.
Tem-se a concepção de um Espiritismo que é voltado somente para os pobres e necessitados, incompreensivelmente alérgico às esferas do intelecto, na falsa interpretação de que "os sãos não precisam de médico", daí decorrendo todo um trabalho assistencialista em contraste com a proposta libertadora da Doutrina.
Angel Aguarod, em mensagem que motivou o lançamento da Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (Rio Grande do Sul, 1978) salientava: "Não é possível erigir um monumento doutrinário, como é o da Revelação Espírita, deixando-nos levar, a cada dia, por idéias que sopram de todos os lados, sem direção, qual vendaval que tudo derruba na sua passagem. Estamos sendo alertados de Plano mais alto sobre esse aspecto do nosso movimento, pois - dizem nossos superiores - se não nos fizermos vigilantes nesse sentido, em pouco tempo o movimento espírita, embora conservando o nome, nada terá de Espiritismo."
Vianna de Carvalho, pela psicografia de Divaldo Franco, na mensagem "Espiritismo Estudado", afirma que "[...] surgem os primeiros sintomas de cultos espíritas e constata que o movimento espírita cresce e se propaga, mas a Doutrina Espírita permanece ignorada, quando não adulterada em muitos dos seus postulados".
Daí a recomendação de Bezerra de Menezes: "Kardequizar é a legenda de agora". Para tanto, faz-se necessário se conheça mais profundamente o pensamento de Allan Kardec a fim de avaliarmos o grau de fidelidade que lhe vota o movimento espírita. Não é por outro motivo que Emmanuel, na mensagem intitulada "Kardec", ditada a Chico Xavier, após as afirmativas, entre outras, de que precisamos "[...] estudar Kardec, meditar Kardec, divulgar Kardec", finaliza, dizendo: "Que é preciso cristianizar a Humanidade, é afirmação que não padece dúvida, entretanto, cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negação". [...]
Esta é uma pequena análise de comportamento e de tendências do movimento espírita. Mais uma vez se faz necessário que as Casas Espíritas realizem estudos mais aprofundados e completos das obras Kardequianas (ou obras verdadeiramente espíritas), pois seria única forma de evitarmos que o Espiritismo seja transformado em mais uma seita religiosa.
Mario Aversa é Espírita, médium, dirigente, atua no Girão Casa Espírita de Piracicaba, e faz cursos espíritas e palestras na Sociedade Espírita Casa do Caminho de Piracicaba, é professor, e palestrante espírita, e colabora com o nosso Blog.
Estimado Mario Aversa, grato por esta contribuição, já se faz tarde no comando "espírita" e no comando dos dirigentes das casas, que paremos nos centros com o ativismo, com o passe sem atendimento fraterno, enfim, que usemos as condutas já explicadas por Kardec, que recebeu instruções dos imortais. Seu precioso texto, vem de encontro ao que todos nós, que temos estudado e divulgado o verdadeiro espiritismo, queremos de nossos irmãos, no momento que temos uma "ausência" de um comando doutrinário, já que nem a FEB tão pouco a USE, querem assumir tão função, precisamos urgente, retomar o curso, ajustar a rota para que esta doutrina não fique como já falei no futuro, conhecida como um "bazar esóterico" e uma revenda de livros, muitos sem conteúdo como frisou vosso texto, o chamado torque evolutivo foi dado nos filmes, agora temos que ter responsabilidade, o apego de dirigentes, coordenadores, é o que mais vemos nas casas, que temem ficar vazias, melhor um centro com 10 pessoas aprendendo, do com 3.000 num lugar onde mais lembre uma igreja do que uma casa de estudos da nossa evolução. Parabéns meu nobre amigo de jornada espírita.
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