Famoso artista começou a pintar um quadro que tinha por tema a vida de Jesus. Durante meses dedicou-se ao gratificante trabalho. Ao final, faltavam duas personagens: Jesus menino e Judas Iscariotes. Meticuloso, pôs-se a procurar os modelos ideais.
Em bairro de periferia encontrou um garoto de sete anos, cujo rosto o impressionou vivamente. Tinha expressão suave, fisionomia tranquila, olhos brilhantes e expressivos, exatamente o que desejava. Conversou com os pais. Conseguiu que o levassem ao ateliê, onde o retratou como Jesus. Restava Judas.
O tempo passou, o quadro empacou. Anos se sucederam, sem que o modelo ideal fosse encontrado. Certa feita um mendigo, embriagado caiu diante dele.
Compadecido, ao tentar erguê-lo, viu-lhe o pintor o rosto bem de perto e estremeceu. Aquela fisionomia atormentada, viciosa, suja, desesperada, era o retrato fiel de Judas!
Emocionado, propôs-lhe: – Venha comigo! Eu o ajudarei!
O infeliz o acompanhou. Chegados ao ateliê, depois de ter satisfeito a fome e a sede do improvisado modelo, o pintor desvelou a tela, dispondo-se a iniciar o trabalho. Entretanto, quando o mendigo a contemplou, desandou em choro convulso.
– Não se lembra de mim? – perguntou. – Há muitos anos estive aqui. Fui eu! Fui eu quem posou para o seu menino Jesus!
Este fascinante episódio dramatiza uma situação que se repete, indefinidamente, no Mundo: a perda da inocência e da pureza, e o comprometimento com vícios e paixões, marcando a transição da infância para a idade adulta. É comum os pais de criminosos que cometeram atrocidades comentarem, em desespero:
– Não posso acreditar que tenha sido nosso filho! Era um menino tranquilo e gentil, incapaz de uma maldade! Como pôde transformar-se num monstro?!
Ensina o Espiritismo que a criança não é um livro em branco. Guarda registros de suas vivências anteriores, com tendências boas ou más adquiridas.
Educar seria não apenas fazer o Espírito entrar na posse de seu patrimônio de experiências pretéritas, mas também ajudá-lo a superar as tendências inferiores resultantes de seus desvios.
Uma das revelações mais importantes da Doutrina Espírita está na questão número 383, de O Livro dos Espíritos, quando Kardec pergunta qual a utilidade da infância, e o mentor informa que nessa fase o Espírito é extremamente sensível às influências que recebe. Muitas de suas tendências inferiores e fragilidades poderão ser superadas com a ajuda dos responsáveis por ela.
Naturalmente, é fundamental que haja o exemplo, que os pais estejam dispostos a viver o que ensinam aos seus rebentos, cultivando um comportamento digno e honrado. De nada adiantará ensinarem ao filho que fumar é nocivo ou que não deve dizer palavrões, se eles próprios o fazem.
Artur Azevedo (1855-1908), escritor e teatrólogo brasileiro, narra ilustrativo diálogo entre pai e filho. O pai, informado de que o menino mentia muito na escola, dá-lhe uma lição de moral, explicando-lhe, com variados exemplos, que é preciso dizer sempre a verdade. Nesse ínterim, batem à porta. O pai terminou a conversa recomendando:
– Vá atender filho. Se for alguém que me procure, diga-lhe que não estou.
***
Bem, caro leitor, face de Jesus menino pode converter-se em nós na face lamentável de Judas, como consequência de nossos desvios do passado e do presente.
É preciso fazer o contrário: a transformar a face de Judas na figura radiante do Cristo, com o esforço perseverante no campo do Bem e da Verdade, buscando superar impulsos e tendências não compatíveis com os valores evangélicos. E isso com tal ardor, que um dia possamos repetir com o Apóstolo Paulo (Gálatas, 2:20): ...e já não sou eu quem vive, mas o Cristo que vive em mim.
Richard Simonetti, é espírita, escritor, palestrante, divulgador da doutrina espírita, aos 79 anos, viaja o Brasil e o Mundo falando do espiritismo nos preceitos da codificação de Allan Kardec, é colaborador deste blog semanalmente.
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