sexta-feira, 11 de julho de 2014

CHEIRO DE LAMPARINA - POR RICHARD SIMONETTI


                                               
Conta o historiador grego Plutarco (46-119), que Demóstenes (384-322 a.C.), um dos grandes mestres da eloquência no mundo antigo, experimentava, quando jovem, sérias limitações com a palavra.
Não parecia destinado a brilhar na tribuna. Teve que empregar grande força de vontade para superar limitações que no início de sua carreira o submeteram ao vexame de ser vaiado pelos auditórios onde discursava como advogado.
Buscando corrigir graves defeitos de dicção, declamava, solitário, intermináveis discursos, retendo seixos na boca. Não raro o fazia à beira-mar, esforçando-se por elevar a potência da voz acima do marulhar das ondas, habilitando-se a dominar os clamores da multidão.




Costumava encostar o peito à ponta de uma espada, obrigando-se a corrigir certos movimentos desordenados do seu corpo, quando falava. Trancava-se em casa por meses, estudando, trabalhando, aprimorando-se incessantemente. Chegou a copiar a vasta obra do historiador Tucídedes (465-404 a.C.), oito vezes!
Com sua persistência adquiriu as virtudes que fizeram dele o mais brilhante orador da antiguidade.
         Piteas, um de seus opositores, zombava dele, dizendo que seus dons “cheiravam a lamparina”. Não eram naturais. Exigiam esforço.
         Antes do advento da lâmpada elétrica, usava-se a lamparina, rústica luminária, em que um pavio aceso fornece luz, alimentado por óleo inflamável. Iluminação precária. Era necessário tê-la bem perto do texto quando se pretendia a leitura noturna. Daí a expressão “queimar as pestanas” para definir alguém que se dedica intensamente ao estudo.
         Respondendo à observação mordaz, Demóstenes informou que, se bem usada, a lamparina era um poderoso instrumento de aprimoramento intelectual, algo que pessoas como Píteas, não habituadas ao estudo, desconheciam. Por isso, em relação aos resultados, havia uma grande diferença no trabalho de ambos.
A posteridade demonstraria o acerto de suas afirmações. Demóstenes será sempre lembrado por sua cultura, pelos dons de oratória que conquistou. Quanto a Piteas, quem ouviu falar dele?
         O relato de Plutarco nos remete a uma questão importante:
         A genialidade é inata ou fruto de esforço?
         À luz da reencarnação, ficamos com a segunda opção.
Trata-se de uma conquista.
O gênio de hoje foi o aprendiz de ontem, desde o passado remoto. Cultivou experiências, aprimorou técnicas, acumulou conhecimentos… São realizações inalienáveis do Espírito imortal, que se exprimem, no suceder das existências, em tendências e vocações inatas.
         Gênios artísticos como Rafael, Miguel Ângelo, Bach, Mozart, Beethoven, exprimiam em sua arte o aprendizado de múltiplas romagens terrestres.
         Diz Buffon: O Gênio não passa de uma longa paciência.



Emmanuel, em psicografia de Chico Xavier, passa a mesma ideia: O gênio é a paciência que não acaba.
         Ninguém está condenado à mediocridade perene.
Todos, sem exceção, podemos crescer em qualquer atividade, tornando-nos produtivos, talentosos, competentes… Com esse empenho, amanhã ou dentro de séculos, conquistaremos a genialidade.
         Importante não esmorecer, não deixar para amanhã, não transferir para um futuro incerto o que podemos e devemos fazer hoje. Mister aprender sempre, produzir cada vez melhor, ampliar horizontes culturais, mentais, morais, espirituais… Melhor hoje que ontem! Melhor amanhã que hoje! Melhorar sempre!
         Alguns dos piores males humanos estão relacionados com a indolência e o desinteresse que marcam as almas imaturas, ainda não conscientes do fundamental:
 Não há vida em plenitude sem plena utilização de nossas potencialidades criadoras, a partir do empenho em queimar as pestanas.


Richard Simonetti, 80, espírita, escritor, um dos mais conceituados palestrantes Internacionais da doutrina espírita, é colaborador deste blog, e conversa com os internautas pelo e-mail  : richardsimonetti@uol.com.br  no Facebook, sua página Richard Simonetti.



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