Conta o historiador grego
Plutarco (46-119), que Demóstenes (384-322 a .C.), um dos grandes mestres da eloquência
no mundo antigo, experimentava, quando jovem, sérias limitações com a palavra.
Não parecia destinado a
brilhar na tribuna. Teve que empregar grande força de vontade para superar
limitações que no início de sua carreira o submeteram ao vexame de ser vaiado
pelos auditórios onde discursava como advogado.
Buscando corrigir graves
defeitos de dicção, declamava, solitário, intermináveis discursos, retendo
seixos na boca. Não raro o fazia à beira-mar, esforçando-se por elevar a
potência da voz acima do marulhar das ondas, habilitando-se a dominar os
clamores da multidão.
Costumava encostar o peito à
ponta de uma espada, obrigando-se a corrigir certos movimentos desordenados do
seu corpo, quando falava. Trancava-se em casa por meses, estudando,
trabalhando, aprimorando-se incessantemente. Chegou a copiar a vasta obra do
historiador Tucídedes (465-404
a .C.), oito vezes!
Com sua persistência
adquiriu as virtudes que fizeram dele o mais brilhante orador da antiguidade.
Piteas,
um de seus opositores, zombava dele, dizendo que seus dons “cheiravam a
lamparina”. Não eram naturais. Exigiam esforço.
Antes
do advento da lâmpada elétrica, usava-se a lamparina, rústica luminária, em que
um pavio aceso fornece luz, alimentado por óleo inflamável. Iluminação
precária. Era necessário tê-la bem perto do texto quando se pretendia a leitura
noturna. Daí a expressão “queimar as pestanas” para definir alguém que se
dedica intensamente ao estudo.
Respondendo
à observação mordaz, Demóstenes informou que, se bem usada, a lamparina era um
poderoso instrumento de aprimoramento intelectual, algo que pessoas como
Píteas, não habituadas ao estudo, desconheciam. Por isso, em relação aos
resultados, havia uma grande diferença no trabalho de ambos.
A posteridade demonstraria o
acerto de suas afirmações. Demóstenes será sempre lembrado por sua cultura,
pelos dons de oratória que conquistou. Quanto a Piteas, quem ouviu falar dele?
O
relato de Plutarco nos remete a uma questão importante:
A
genialidade é inata ou fruto de esforço?
À luz
da reencarnação, ficamos com a segunda opção.
Trata-se de uma conquista.
O gênio de hoje foi o
aprendiz de ontem, desde o passado remoto. Cultivou experiências, aprimorou
técnicas, acumulou conhecimentos… São realizações inalienáveis do Espírito
imortal, que se exprimem, no suceder das existências, em tendências e vocações
inatas.
Gênios
artísticos como Rafael, Miguel Ângelo, Bach, Mozart, Beethoven, exprimiam em
sua arte o aprendizado de múltiplas romagens terrestres.
Diz
Buffon: O Gênio não passa de uma longa
paciência.
Emmanuel, em psicografia de
Chico Xavier, passa a mesma ideia: O
gênio é a paciência que não acaba.
Ninguém
está condenado à mediocridade perene.
Todos, sem exceção, podemos
crescer em qualquer atividade, tornando-nos produtivos, talentosos,
competentes… Com esse empenho, amanhã ou dentro de séculos, conquistaremos a
genialidade.
Importante
não esmorecer, não deixar para amanhã, não transferir para um futuro incerto o
que podemos e devemos fazer hoje. Mister aprender sempre, produzir cada vez
melhor, ampliar horizontes culturais, mentais, morais, espirituais… Melhor hoje
que ontem! Melhor amanhã que hoje! Melhorar sempre!
Alguns
dos piores males humanos estão relacionados com a indolência e o desinteresse
que marcam as almas imaturas, ainda não conscientes do fundamental:
Não há vida em plenitude sem plena utilização
de nossas potencialidades criadoras, a partir do empenho em queimar as pestanas.
Richard Simonetti, 80, espírita, escritor, um dos mais conceituados palestrantes Internacionais da doutrina espírita, é colaborador deste blog, e conversa com os internautas pelo e-mail : richardsimonetti@uol.com.br no Facebook, sua página Richard Simonetti.
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