terça-feira, 28 de julho de 2020

Memória, onde estás, quando escondes de mim? Por Nubor Orlando Facure









Se há uma coisa fugidia são as nossas memórias.
Todos já nos sentimos perdidos quando elas se escondem na hora que mais precisamos
Mas, se há uma função complexa dentro e fora de nós é justamente a memória
Digo dentro e fora, porque, sou daqueles que acredita na existência de memórias extracerebrais







Vamos fazer uma leitura simplificada sobre onde encontrar minhas memórias:

Memória celular:

Se memória for a recordação de um fato que aconteceu no passado, podemos dizer que ela existe, inclusive, nos nossos glóbulos brancos e anticorpos.
Eles entram em contato com o vírus do sarampo e constroem uma resposta química para essa invasão
Um novo ataque, numa epidemia de sarampo, eles reconhecem o invasor e toma medidas para sua expulsão.

Os neurônios e a memória:

Neurônio aprende com a repetição do estímulo
Ha dois fenômenos nesse processo
O primeiro é a "Sensibilização"
Repetindo um choque o neurônio fica super excitável a cada vez que recebe o estimulo elétrico
O segundo é a "Habituação"
De tanto repetir uma picada incômoda, você acostuma

O cérebro e a memória:

Suponha que eu detecte com os olhos a visão de um objeto que passa voando na minha frente
Observo detalhes e percebo que é um pássaro
Agora vejo suas cores
Ele bate as asas
Voa num vai e vem, ora para um lado ora para o outro
Peito amarelo, da um piado estridente cantando:
Seria um Bem-ti-vi ?

O cérebro tem áreas específicas para cada tarefa:

Para vermos o objeto,
Sabermos onde ele está,
Ha outras áreas para percebermos as suas cores e outras ainda para vermos os seus movimentos
A seguir, todos esses detalhes são comparados com meus arquivos no hipocampo, onde guardo memórias aprendidas
Ali, nos hipocampos, vejo os pássaros que já vi no passado e os guardo arquivados.
Noto que não era um Bem-ti-vi, é totalmente diferente, deve ser um sabiá
Foi o tamanho do bico
E o canto sonoro do sabiá
E a seguir, o que vai ocorrer?
Percorro o caminho inverso:
Do hipocampo para todo cérebro
Alí confirmo uma a uma as diferenças foi sabiá com o bem - ti - vi.

Na verdade, nossas memórias não são arquivadas, ou engavetadas
Os detalhes de todas coisas do mundo são esparramadas por todo meu córtex cerebral
No futuro, quando passar por mim um pássaro piando, eu saberei quem é
Já o conheci antes
Um detalhe aqui, outro ali
Meu cérebro fica cheio de informações que o mundo vai jogando para dentro de suas conexões.






Mas, vale repetir:

O cérebro não coloca as informações numa gaveta ou numa pasta de arquivos. Ele distribui as peças do quebra cabeça ocupa várias áreas no córtex
Isso trás vantagens:
Quando vejo uma cruz na torre, lembro-me logo da igreja matriz
Quando vejo a ambulância, logo me vem a lembrança do pronto socorro onde trabalhei
Quando a gente esquece um fato, ele pode ser resgatado com uma pequena pista, as vezes o cheiro de Madeleines.
Um sapatinho de cristal me lembra a Cinderela.






O Perispírito e a memória
O perispírito é um corpo de natureza espiritual e fluídica (semi material)
As memórias nesse corpo podem se utilizar de dois sistemas
Um deles se sobrepõe ao cérebro físico, funcionando com a mesma fisiologia dos neurônios e suas conexões, transmissão de impulso elétrico e liberação química nas sinapses
Um outro sistema é decorrente das propriedades "metafísicas" do Perispírito
Ele é dirigido por ação direta do pensamento, memória no Perispírito é vibração
Por isso ele se desloca no espaço e no tempo seguindo a força dos nossos desejos
Ele atua sobre objetos inanimados dando-lhes "propriedades" dos seres vivos
Vivifica os objetos, Algumas descrições clínicas podem facilitar nosso entendimento:
Indivíduos hipnotizados podem deslocar sua atividade mental ou mais precisamente, o seu Perispírito para um acidente que participou no passado distante
Durante o fenômeno hipnótico ele vivencia o passado como se fosse o presente
Poderá fazer descrições detalhadas do ambiente do desastre que na ocasião não percebera
O Perispírito não tem limites em sua memória
Ele nos permite vivenciar de novo os detalhes do passado, repete o momento com se estivesse no presente
Os obsessores, utilizando os recursos da hipnose, podem manter suas vítimas fixadas na cena de um crime, perpetuando a culpa
É a memória cristalizada
Nos fenômenos de sonho lúcido, são descritos que, as percepções se ampliam e as recordações se expandem.
A mente transita com o Perispírito durante esse tipo de sonho.

O Espirito e a memória:

Não conhecemos a natureza do Espírito
Sabemos ser o principio inteligente
Fonte dos nossos saberes
Senhor do nosso passado multimilenar
Numa linguagem física podemos dizer que tudo no Universo é energia é vibração
Ensina a filosofia chinesa que qualquer partícula contem em suas vibrações toda história do Universo
Mas que "partícula" vibra no Espírito?

Um centelha do pensamento de Deus.




Nubor Orlando Facure, 80, médico, Neurologista, espírita, pesquisador e escritor, durante 50 anos foi amigo e conviveu com Chico Xavier, foi o primeiro médico a falar de Espiritismo na Unicamp, Campinas, é presidente do Instituto do Cérebro em Campinas, e colabora com este blog.
lfacure@uol.com.br

sexta-feira, 24 de julho de 2020

A Síndrome do Avestruz - Por Marcelo Henrique





Eu só quero que o dia termine bem! Esta é uma conhecida frase, presente em músicas do cancioneiro popular e em figuras que circulam nas redes sociais. Ela representa que, idealmente, após as tempestades da vida deve vir a bonança, a calmaria. Ou em outras palavras, mesmo que a situação esteja “ruim”, ela pode se modificar e ficar “melhor”.

Há os que adaptem essa expressão para “Eu só quero que tudo termine bem”. Neste caso, diante de dilemas existenciais, de lutas ou disputas, de situações em que haja os naturais conflitos humanos, interpessoais, é justo e lídimo esperar pela paz.

Há uma outra frase, também, que é importante para o contexto desta missiva: “Se queres a paz, te prepara para a guerra” (provérbio latino “Si vis pacem, para bellum” – Publius Flavius Vegetius, no quarto ou quinto século da Era Cristã). Não é necessário que seja um evento bélico, com armas cada vez mais sofisticadas e letais. O conflito pode ser ideológico, intelectual, interpretativo. E este tipo é o que mais ocorre em nossos dias. Uma disputa – que pode ser de egos, também – entre “verdades”.

E onde há conflitos? Em qualquer lugar. Basta ter-se, no mínimo, duas pessoas. Há quem diga, ainda, que pode haver conflito – e há – com, apenas, uma pessoa. Mas aí tal “disputa” será entre os componentes do próprio Espírito, o eu, o ego, o alter ego, já ensinam a Psicologia e a Psicanálise. Contudo, não é nosso objetivo tratar dos confrontos íntimos na busca pela “melhor opção” de viver. Ocupemo-nos das relações interpessoais.

Se os conflitos dependem da existência, dual ou plural, de indivíduos e, portanto, por esta premissa, eles são circunstanciais e revestem-se de características conforme o locus, o cenário e o ambiente em que as pessoas estiverem partícipes, pode-se afirmar com objetividade e consistência que, também nas organizações espíritas existem conflitos.

Não? Tem certeza? Você nunca viu ou participou de um?

Que organização é esta, espírita, de que você faz parte? Conte-nos! Queremos descobrir e conhecer. Talvez possa ser um oásis no meio dos desertos humanos. Talvez seja um “pedacinho do Céu” na Terra, para lembrar o poeta, ainda que, francamente, o “conceito espírita” de Céu não seja o firmamento das demais religiões. Opa, demais? Como assim? É o Espiritismo uma religião?

Calma, calma, não é o “mote” deste ensaio tratar sobre a configuração (ou não) religiosa do Espiritismo Brasileiro. Fica para uma próxima!

Então, voltemos ao alvo de nossos escritos: o centro espírita! Esta “menor célula” de agrupamento do chamado “movimento espírita”. Para lembrar o Codificador, seriam “núcleos familiares de espiritismo”, formados por pessoas que mantêm, entre si, relações de afetividade, conviviabilidade e colaboração, permanentemente. Certo?

Veja bem...

Narizes um pouco torcidos... Olhares arregalados... Sorrisos amarelos... Dar-se de ombros... Não é bem assim! Realmente, não é BEM assim. Nem é assim. Mas poderia ser assim, não?

Pessoas são pessoas. Seres humanos. Individualidades espirituais. Cada qual com suas distintas bagagens (aquela mochila que trazemos, invisível, às costas e que aglutina cada uma das experiências encarnatórias que tivemos, além, é claro, daquele período de permanência no Plano Invisível, a Erraticidade, o local onde vivem os espíritos errantes.

Calma! Eu não vou falar de nenhum “mundo” extrafísico, nenhuma “colônia” espiritual, para não causar embaraços aqui ou ali, nem afastar o público da leitura e compreensão deste artigo. Não mesmo!

Os Centros Espíritas são o conjunto destas individualidades. Ali, desfilam, diariamente, as personalidades espirituais que se revestem, inicialmente, da conformação física e psicológica da atual encarnação, resultante da formação familiar, da instrução formal (educação), das atividades profissionais, das participações em outros grupos, etc. Mas, também, o somatório de virtudes, caracteres, elementos de natureza espiritual, considerando, assim, o conjunto de todas as experiências vivenciadas pela Alma (Espírito).

Natural é, portanto, que, aliando uma à outra contingência, tenhamos almas bastante experientes no trato convivial – ainda que, em função dos próprios comportamentos que diferenciam, entre si, as mulheres e os homens da nossa época, nem todos tenham “tato” na convivência, não é mesmo? Há seres muito embrutecidos, em todos os sentidos, e outros que, inobstante a cultura educacional e profissional, ainda possuem vestígios de barbárie e incompreensão “explícitas”.

E tudo isso “junto e misturado”. Tudo isso convivendo proximamente, na reunião doutrinária, na de estudos, no trato com crianças, adolescentes e jovens, nas ações sociais e... Taram! Na reunião de estudo e “aprimoramento” (educação) da Mediunidade!

Que as máscaras caiam, senhores! Nestes exercícios de participação coletiva, independente das tarefas realizadas, é natural que as pessoas passem a se conhecer, não é mesmo? E, em se conhecendo (mais e melhor) surgirão, naturalmente, os... Conflitos!

E, como assaz acontece em todas as outras agremiações humanas, que a civilização aprimorou afastando os agrupamentos primitivos onde a força física era preponderante para “solucionar” os conflitos, surgem outros elementos de materialização do poder. A intelectualidade, o poder de persuasão, a habilidade de convencimento, entre outros. Mas, também, um outro fator, que, por vezes, não “obedece” a esses pilares organizacionais, acima citados. A hierarquia. O poder. A distribuição de cargos, posto que cada organização também obedece aos regramentos jurídicos vigentes e, portanto, precisa estar formalizada do ponto de vista da separação (segregação) de funções e da definição de “quem manda e quem obedece”. Para não sermos tão severos e não falarmos em “autoridade repressora” (mas que existe, eu sei e você sabe!), vamos dizer que, para fins de melhor programação e execução de tarefas, há os que definem e orientam o como deve ser feito.

O poder – temporal – é, portanto, manifesto e presente. Ele está “em toda a parte” e seus efeitos são erga omnes (ou seja, para todos). Diz o adágio popular: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. E, neste contexto, a autoridade local é derivada do consenso ou do poder de escolha, que obedece, em regra, a padrões de democracia representativa, com os associados podendo se candidatar, formar chapas e disputar eleições, periodicamente.

Estabelecidas tais premissas, vamos tratar, agora, do avestruz. Sim, essa simpática ave, a maior dentre as espécies desta classe biológica, originária da África em nosso planeta. Entre as características expressivas deste animal está o fato de que elas têm o hábito de esconder a cabeça na areia, ao primeiro sinal de perigo.

Perigo... Palavra interessantíssima...


Existiriam avestruzes espíritas? Boa pergunta...