segunda-feira, 26 de junho de 2017

O TERRÍVEL OBSESSOR - POR RICHARD SIMONETTI


                            






Fares, próspero comerciante, aguardava com ansiedade o término dos trabalhos mediúnicos em sala íntima, junto ao salão de reuniões públicas, no Centro Espírita. Desejava orientação para um problema que o afligia. Algo aparentemen­te simples, até ridículo para quem o apreciasse, mas terrível para ele que o enfrentava: uma dificul­dade no fechamento diário de sua próspera loja.

Dificuldade não era o termo exato. Diria melhor batalha. Uma batalha contra o impulso de repetir intermináveis cuidados e verificações,
rela­cionados com as instalações elétricas, o cofre, as janelas e a porta de entrada.
Esta última era o tormento maior. Parecia dotada de magnetismo. Por maior fosse seu empenho em afastar-se, era inexoravelmente atraí­do, levado a testar repetidamente se estava tranca­da. Pressionava para cima, como se fosse erguê-la, experimentando a resistência da fechadura central. Observava o cadeado embaixo, manualmente, porque não confiava no testemunho de seus olhos.
Ensaiando resolução, virava as costas e da­va alguns passos em retirada. Frustrava-se logo, porquanto a dúvida se instalava de imediato, tra­zendo-o a novas verificações. Repetia aquele bailado irracional múltiplas vezes, disfarçan­do para que ninguém percebesse seu comporta­mento desatinado.
Quando finalmente convencido de que tudo estava bem, já no estacionamento em tra­vessa próxima, ressurgia a infame dúvida: "Será que tranquei o cofre?"
Então se danava, forçado a rever a verificação, confrontando pela enésima vez a malfadada porta, a esquentar os miolos.
Confiava na ajuda espiri­tual. O médium encarregado do receituário era
co­nhecido por suas virtudes como instrumento dos Espíritos em favor de pessoas atribuladas.



Encerrada a reunião, ouviu chamarem por seu nome. Levantou-se e foi ao encontro do aten­dente, que lhe entregou a esperada orientação. Em letra firme e alongada estava registrado:
        
Diagnóstico: Auto obsessão.
      
Tratamento: Passe e oração. Ler  Mateus, 6:19-21.


Fares estava perplexo. Já ouvira alguém se re­ferir à auto obsessão como um processo em que o indivíduo alimenta ideias infelizes que o pertur­bam, colhendo sofrimentos voluntários, desneces­sários e inúteis, algo como morder a própria língua ou bater a cabeça na parede.
Chegando ao lar, buscou um exemplar de O Novo testamento. No trecho recomendado, leu:
Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a Terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam. Mas, ajuntai para vós outros tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem e onde ladrões não escavam nem roubam. Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
Impressionado, Fares considerou que talvez fosse melhor empenhar o coração em favor de ri­quezas mais consistentes, conforme a recomenda­ção de Jesus.

                                   * * *
Quando nos envolvemos demasiadamente com o imediatismo terrestre, nossa mente passa a funcionar em circuito fechado, gerando dúvidas e angústias que crescem rapida­mente em nosso íntimo, como massa levedada.
Em tal situação, antes de cogitarmos da existência de supostos obsessores, melhor faríamos combatendo a auto-obsessão, no esforço por arejar nossa vida interior com ideias nobres e ideais santificantes, cuidando das “coisas do Céu”, par que as “coisas da Terra” não nos sufoquem.


Richard Simonetti, 81, é espírita, escritor, divulgador da Doutrina Espírita no Brasil há mais de 63 anos, tem suas páginas na internet, em Facebook, e colobora com este blog semanalmente.



sábado, 17 de junho de 2017

NÓS E OS OUTROS UMA EXPERIENCIA NEUROLÓGICA - POR NUBOR ORLANDO FACURE



No livro “O que o Cérebro tem para contar” Ramachandran fala de uma experiência neurológica que ocorre durante uma cirurgia no cérebro de um paciente chamado Smith, na Universidade de Toronto, um dos maiores centros de cirurgia para epilepsia.




Tudo é feito com o cérebro exposto e o paciente acordado.No decorrer da cirurgia o cirurgião introduz um eletrodo na região do Cíngulo anterior – nessa área, muitos neurônios se especializam em reagir a dor. A delicadeza do procedimento permite tamanha sofisticação que, em determinado momento, o cirurgião detecta um neurônio em particular que reage a cada vez que a mão do Sr. Smith é picada com uma agulha

 – até aí nada de muito especial – mas, o médico se assombra com o que vê a seguir: esse mesmo neurônio se excita de maneira igualmente vigorosa quando é mostrado ao Sr. Smith uma outra pessoa sendo picada na mão – é como se o neurônio, ou o circuito neuronal de ele faz parte, estivesse sentindo empatia para com a outra pessoa – ou seja: a dor do outro – a dor de um estranho torna-se uma dor igual no Sr. Smith.







É, mais ou menos o que aprendemos na velha Índia e no budismo – afirmam não haver nenhuma diferença essencial entre a própria pessoa e o outro, e que a verdadeira iluminação decorre da compaixão que dissolve essa barreira – agora temos uma demonstração física dentro dos neurônios – nossos cérebros são fisicamente construídos para reagir com empatia e compaixão.






Lição de casa:
Em essência somos todos iguais
Se pudéssemos vencer as barreiras do egoísmo sentiríamos as necessidades dos outros como necessidades nossas também.




Nubor Orlando Facure, 76, é médico, neurologista, espírita, escritor, um dos grandes colaboradores da Doutrina, caminhou na jornada durante 50 anos como amigo e médico de Chico Xavier, é colaborador deste blog, hoje presidente do Instituto do Cérebro em Campinas.