José Brê faleceu em 1840. Dois anos depois, numa reunião
mediúnica, em Bordéus, foi evocado por sua neta, em manifestação registrada no
livro O Céu e o Inferno, de Allan
Kardec. O diálogo entre ambos é um repositório marcante de ensinamentos que
merecem nossa reflexão.
– Caro avô, o senhor
pode dizer-me como vos encontrais no mundo dos Espíritos e dar-me quaisquer
pormenores úteis ao meu progresso?
– Tudo o
que quiser, querida filha. Eu expio a minha descrença, porém grande é a bondade
de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias imaginar. É
o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra.
– Como não o empregou?
Pois o senhor não viveu sempre honestamente?
– Sim,
no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os homens e a
honestidade perante Deus.
O Espírito coloca o dedo na ferida, porquanto o
grande problema no estágio em que nos encontramos é harmonizar a honestidade
perante os homens com a honestidade perante Deus.
O rico empresário que explora seus funcionários, pagando-lhes salário
irrisório para ampliar os lucros. O investidor que se vangloria de ter comprado
imóvel por fração de seu valor, porque o proprietário estava com a corda no pescoço. O funcionário
que aciona a empresa de onde foi demitido, reivindicando benefícios imerecidos;
O médico que mantém o paciente terminal numa UTI, prolongando sua agonia para
engordar sua remuneração. O governante que, para conquistar adesões, nomeia
para cargos de confiança pessoas sem qualificação profissional…
Atuam
todos estritamente dentro das leis humanas, mas infringem leis divinas,
enquadrados em hipocrisia, um dos delitos mais veementemente condenados por
Jesus. Diz o Espírito:
Não é difícil ter epitáfio de honestidade perante os homens, pagando as
contas em dia, não emitindo cheque sem fundos, não tendo o nome sujo na praça...
José
Brê explica o que é não transgredir as leis divinas:
Honesto aos olhos de Deus será aquele que,
possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos
semelhantes.
Aquele que, animado de um
zelo sem limites, for ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e
exemplificando aos outros o amor ao trabalho. Ativo nas boas ações sem esquecer
a condição do servo ao qual o Senhor pedirá contas um dia do emprego do seu
tempo. Ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.
Assim, o homem honesto,
perante Deus, deve evitar cuidadosamente as palavras mordazes, veneno escondido
nas flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o
de ridículo.
O homem honesto, segundo
Deus, deve ter sempre cerrado o coração a quaisquer germes de orgulho, de
inveja, de ambição.
Deve ser paciente e
benévolo para com aqueles que o agredirem. Deve perdoar do fundo d’alma, sem
esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda.
– Estou perdido! – espantava-se um amigo,
após a leitura desse trecho da comunicação – Acabo de descobrir que sou
extremamente desonesto no contexto das leis divinas.
Forçoso reconhecer, entretanto, que raros
podem dizer que cumprem integralmente preceitos dessa natureza e, sobretudo, a
regra áurea de Jesus, no exercício do amor.
José Brê tinha a seu favor o fato de
desconhecer a vida espiritual, o que nos espera na grande transição, e o que é,
legitimamente, ser honesto aos olhos de Deus.
Dessa vantagem não desfrutamos nós,
espíritas, não desfrutará você, caro leitor, após ler essa mensagem tão
significativa que anula para nós o benefício da ignorância.
***
Excerto de meu livro Morte, o que nos espera, que será lançado em sessões de autógrafos
nos dias 3 e 5 de outubro, às 20 horas, 6 de outubro, às 15 horas, e 9 de
outubro, às 9 horas, no Centro Espírita Amor e Caridade, à Rua 7 de Setembro,
8-30, Bauru SP.
Richard Simonetti,81, espírita, escritor, palestrante, tem seus canais no You Tube, página no Facebook, divulga a doutrina a mais de 61 anos,é seguidor da doutrina de acordo a codificação de Allan Kardec e colabora semanalmente com este blog.
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