quarta-feira, 6 de abril de 2016

JUSTIÇA QUE PLANEJAMOS - POR RICHARD SIMONETTI



Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. (Mateus, 5:6). Esta afirmativa de Jesus parece distanciada da realidade, porquanto, aparentemente, a mais flagrante injustiça reina na Terra, onde há ricos e pobres, bons e maus, santos e facínoras, atletas e paralíticos, gênios e idiotas...
Ainda que esta justiça de que o Mestre nos fala exprima-se no atendimento aos inalienáveis direitos à liberdade, à propriedade e à vida, não a encontraremos na sociedade humana, onde, desde seus primórdios, há os que escravizam e os que são escravizados, os que roubam e os que são roubados, os que assassinam e os que são assassinados. Ela tem sido a bandeira de todos os movimentos revolucionários, agitada por adeptos de todas as correntes sociais e políticas. Estes, entretanto, paradoxalmente, tão logo detenham o poder, transformam-se em novos instrumentos de injustiça, coniventes com as forças reacionárias que há milênios dominam o nosso planeta.
Poderia alguém lembrar que a justiça a que se refere Jesus não reside na vida material. Os que têm fome e sede de justiça serão saciados no Além. Lá haverá castigo para os maus e recompensas para os bons.
O problema é que, em princípio, os privilégios da Terra fatalmente repercutem nas experiências do Céu. O filho de pais nobres, virtuosos, compreensivos, que desde a mais tenra idade é iniciado nos valores do Bem, terá muito mais oportunidades de seguir uma vida reta e digna do que o filho do matador profissional, que o inicia nos mistérios de sua profissão, incutindo nele um total desrespeito pela vida humana.
Levando mais longe semelhante raciocínio, poderíamos considerar que o indivíduo preso ao leito desde a infância, retardado mental, raciocínio embotado, seria um escolhido de Deus, porquanto isento das tentações do mundo e até mesmo impedido de praticar o mal. Já o indivíduo saudável, belo, atraente, estuante de vida, pleno de vigor, assediado sem tréguas pelos prazeres e ambições humanos, teria muito maior dificuldade em habilitar--se às moradas celestes.
Admitindo semelhante absurdo fatalmente cairemos na teologia medieval das graças divinas. Deus teria eleitos, cumulando-os de recursos em favor de sua salvação e recusando idênticos favores a outros. Há até quem diga que Ele faz sofrer àqueles a quem ama, preparando-os para a felicidade eterna. Conclui-se que, quanto menor o sofrimento da criatura, menor o amor do Criador por ela. Absurdos assim têm levado muita gente ao materialismo. Se a própria justiça humana, apesar de suas limitações, estabelece que somos todos iguais perante a Lei, como pretender que não sejamos iguais perante Deus, que é a justiça perfeita?
Para que não incorramos em enganos semelhantes, é preciso que modifiquemos nossas concepções a respeito da Justiça. Geralmente a concebemos como o atendimento aos nossos direitos e ao cumprimento dos deveres alheios. Pouco pensamos a respeito do que devemos à Vida, ao familiar, à sociedade, mas empolgamo-nos no propósito de definir o que eles nos devem. Nossa fome de justiça situa-se por anseio egocêntrico. Sentimo-nos justiçados quando fazem o que desejamos.
Contudo, no plano espiritual, antes da presente existência, pensávamos diferente. Sentindo o peso de nossos débitos e a extensão de nossas fragilidades, planejamos a jornada terrena, não no sentido de sermos atendidos em relação às ilusões humanas, mas no sentido de cumprirmos os desígnios divinos, que pedem, antes de tudo, depuração de nossas almas, edificação de nossos sentimentos, renovação de nossas ideias.
Esta é a justiça a que se referiu Jesus: uma tomada de posição autêntica, corajosa, em relação aos objetivos da própria existência terrestre.
E se conservarmos a fome e a sede de justiça, isto é, a disposição em nos submetermos às provações escolhidas, fazendo sempre o melhor, então seremos saciados, ainda que, aparentemente, o mundo nos reserve toda sorte de injustiças.


Richard Simonetti, 81, espírita, escritor, palestrante, dirigente espírita, um dos maiores divulgadores da doutrina Espírita no Brasil, e no exterior, tem várias páginas na internet colabora com este blog desde 2013, tem uma página na rede social Facebook para divulgar também seus textos e suas obras, um dos mais considerados espíritas do Brasil reside na cidade de Bauru, SP, nos enviou este texto para reflexão de todos que nos prestigiam.

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