quinta-feira, 18 de setembro de 2025

NÃO SEJAMOS POLIQUEIXOSOS, FOCO NA VIDA, FÉ SEMPRE - POR DAVID CHINAGLIA





Amigas e amigos desta jornada no planeta terra, a cerca de 40 dias, recebi um diagnóstico diferenciado, e a cerca de oito anos, frequento o Hospital Guilherme Álvaro, grande hospital de Santos, com mais de 100 anos, desde sua fundação.
Lá existe uma equipe médica de referência, a par das dificuldades que o Estado e a União lhe dão, mas, os parceiros do hospital que é escola também, e os doadores, mantém a estrutura daquela casa, de forma exemplar.

Transitar por lá cuidando da minha saúde, me permitiu conhecer pessoas dos mais variados tipos, gêneros, raça, enfim, e claro das mais variadas doenças, até as que não existem, sim porque há pessoas que criam doenças para ter atenção social, familiar, pessoal, por mais incrível que pareça, são poucos, mas existem, Falam em 4%.

No entanto por lá, é possível conhecer histórias complexas de família, de pessoas, de jovens, de idosos, ou como brinco no meu caso de semi idosos, a verdade que foi olhando em volta destas pessoas que pude ver inúmeros ensinamentos de Allan Kardec.

Hoje espírita minha origem é católica, e criei o hábito de ir a capela ao final das consultas, ou exames que estou passando, como sempre fui para rezar, agradecer ao Hospital.
Agradecer aos médicos, enfermeiros, atendentes, administração, ouvidoria, seguranças, porque como todo hospital, para nós espíritas, é possível sentir a presença de companheiros desencarnados.
A pouco tempo, estes que partiram ainda estão desorientados, e nos permite uma prece a eles, seja na capela ou nos bancos do enorme jardim central, alguns médiuns que por lá se tratam, já viram até médicos do passado em visita, o que é normal dentro do sistema espiritual que existe após a vida terrena.

Fui e sou testemunha de inúmeras histórias com pacientes sobretudo, pessoas que somente depois que descobrem um câncer, passam a dar a vida uma real importância,.

Doentes de outras coisas graves também que ficam a pensar, como será a vida após a vida, e quando um ou outra me permite acabamos, nas filas de exame, ou salas pré consulta conversando.

Um dos grandes lamentos, é ausência de filhos e filhas ao lado, da maioria, outro grande lamento foi o de não saber anos antes a importância do que nos alimentamos, aliás grande causa de muitas doenças, outros lamentam não ter ouvido um diagnóstico pré que previa que aquele momento difícil era possível, e foi deixando de se cuidar, porque as filas do SUS, parecem ser intermináveis, em qualquer governo, já que é muita gente que depende da instituição.

O lado espiritual conta muito num hospital, eu pelo menos observo muito isto, a paciência dos atendentes que nem sempre é como o paciente que não tem paciência, quer, e este sente muito.
Não existe pior coisa no mundo que um doente com dores, com diagnóstico pesado, ser tratado friamente, digamos nem que seja pelo segurança, que as vezes se acha professor de Deus, mas, não podemos exigir educação e respeito de todos.

O fato é prezados leitores, que num hospital, e no caso estou citando o que acho o maior e melhor da baixada Santista, pois lá minha vida terrena já foi salva três vezes, e agora estou perto de mais uma operação grande a enfrentar, tem sim, pessoas a se olhar, conversar, explicar, as vezes até como ajudar, se você tiver um olhar para com o próximo,

A uns anos atrás um garoto com cerca de 16 anos com Leucemia, me deu uma lição, ele não está mais entre nós, estávamos na fila e eu estava impaciente com a demora, ele, calmo, magro, disse, "vim sozinho, pois meu pai tem que trabalhar, minha mãe está acamada, e minha tia só pode entrar e tever que sair para ganhar a vida num carrinho de lanches", então estou aqui lutando pela vida, ele morreu aos 18 anos, mas, naquele dia me deixou uma lição, CALMA, do outro lado do vidro do atendimento as pessoas também tem dificuldades.

Um dos melhores médicos daquele hospital diz sempre aos seus pacientes, "não seja poliqueixoso" e você deve estar se perguntando o que é isto?

Um paciente poliqueixoso é aquele que relata uma variedade de sintomas, muitas vezes sem uma causa médica clara ou que não são confirmados por exames, e que procura repetidamente diversos profissionais de saúde sem encontrar um diagnóstico ou alívio definitivo para as suas queixas. Esses pacientes tendem a ter um histórico de visitas frequentes ao sistema de saúde, expressando insatisfação com tratamentos anteriores e exigindo atenção e recursos significativos devido à natureza complexa e difusa dos seus problemas de saúde.

Vi relatos de médicos que cortaram pernas de criança de quatro anos de idade para salvar sua vida, vi relatos na UTI de um paciente que ali estava a três meses, porque a família não tinha mais como cuidar dele, e várias cirurgias depois, morreram.
Um em especial me marcou foi em 2024, pouco mais de um ano atrás eu dividi um espaço onde este senhor que vou chamar de Walter, gritava de dor, pois quando a morfina passava, havia um limite para ele já fora do normal.
No entanto Walter lutou para sobreviver em sua nona ou décima operação, não suportou, era um câncer geral no Intestino.
No outro exemplo que dei, vi naquele jovem de 16 anos com uma leucemia já avançada a espera de um doador que nunca veio, uma paciência que as vezes não via em minha pessoa.

Ali assisti jovens médicas ainda em formação, ir chorar na capela porque estavam numa equipe que perdeu um paciente legal, e que não resistiu a cirurgia, e ela foi afetada pelo lado emocional, olhei a ela conversamos, muito rapidamente e disse a ela, fé vai passar, e outros virão.

Uma vez exaltei um médico, você salva muitas vidas, e ele disse, "já mandei muita gente para o outro lado também, não sou o super homem."

Na oncologia vi médicos se irritarem por atender na emergência pacientes que não tinham câncer, achavam perda de tempo, pois neste hospital, o pronto socorro para doenças gerais, não existe mais, apenas para a oncologia.

E o que isto tem a ver com espiritismo David? tudo, amigos, porque isto nos mostra que 95% de nós temem a morte, lembro que 40% pensam nela todo dia, e 3% se matam com medo dela, antes da hora dela vir naturalmente.

O Hospital é apenas uma referência deste texto,  é preciso que todos nós, independente da crença, da religião que professamos, olhemos mais em volta, que tenhamos fé, que procuremos lamentar menos, foco que de os médicos não são Deuses, nem astronautas, dependem de exame, dependem da literatura, dependem do palpite certo, mas sobretudo da sua vontade de viver, em qualquer hospital que vá.

A morte é um processo certo, duas datas estão definidas ao longo da nossa vida, o dia do nascimento, nosso querido aniversário, e o dia da morte, esta data não sabemos,. Podemos pedir que seja uma morte sem dor, leve, se é que existe uma morte leve, porém nossos pensamentos são os que vão ditar o momento da separação do corpo.

Sua dor seja ela qual for, diminui, quando você olha em volta, outro dia estava no hospital com uma amiga e seu marido, ele triste porque a filha nem telefona para ele, nisto chegou um senhor, triste, abatido, e sentou-se ao nosso lado, sozinho.

Dali uns minutos um jovem alegre, bem vestida, vem a ele e diz, "desculpe papai, peguei muito transito, mas estou aqui."

O velho senhor agradeceu, sorriu, ela foi pegar uma água para ele, e o outro rapaz que estava conosco levantou, e disse ao Sr. José(nome fictício aqui), "é sua filha ? ele disse sim graças a Deus, o que levou meu amigo amigo a dizer.,: "parabéns o senhor foi um bom pai, eu não, a minha nem está aqui, nunca esteve, nem estará, não fui um bom pai."

fiquei pensando nisto e falei a minha esposa, será que um pai ser bom pode ser assim considerado? pela presença ou não? digo, apenas pelo simples fato da filha ou filho estar do lado? E ela disse claro que não.

Eu não conheço os protagonistas da cena acima citada, mas, ela me chamou a atenção, não existem pais santos, ou mães milagrosas, existem aqueles que mais puderam se destacar, e fizeram mais, o que não melhora a qualidade da paternidade ou da maternidade, até porque sem um pai ou mãe, não estaríamos aqui, então todos devemos a eles, nossos pais, a vida, e a Deus antes que os mais religiosos me critiquem.

Devemos honrar nossos pais, sempre que possível, mas, não devemos nos tornar um peso a eles, nem eles a nós, mas nem todos conseguem isto,.

Vou buscar Allan Kardec em o Livro dos Espíritos, leiam...

Provas da existência de Deus.
4. Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?

“Num axioma que aplicais às vossas ciências: Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.”

Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da criação. O universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.


Dirá a Leitora ou o leitor, mas era de pais que falávamos, eu completo, digamos, que sim, na verdade falamos da vida.
Aqui Kardec fala sobre a existência de Deus, nosso pai maior, aquele que precisamos ter fé que está lá, ou na verdade dentro do nosso coração, em todas as coisas, para que não entremos em desespero.


A vida de outras pessoas não são referência, o que vale é a sua vida, e você meu amigo, minha amiga, precisa manter sua fé, sua vida, lutar por ela, pois como disse o espírito que falou com Kardec, não há efeito sem causa.


E causa de sua vida não estar como deveria estar no seu entender, se você refletir, com calma e isençao, descobrirá, é sua responsabilidade.

Eu digo sempre que homem, mulher, ou qualquer gênero nenhum nos fazem mal, somos nós mesmos, que escolhemos amigos, companheiros e companheiras certas ou erradas, vivemos sonhos, esperando demais até de nossos filhos, 50% do que está errado em seu entender num filho seu, é você, quem fez, quem educou, então aceita que vida fica mais leve a partir daí.


Procure confiar sempre, na sua fé, tenha bons pensamentos, acreditando em Deus, ficará mais fácil passar pelos momentos duros, que passam, seja de saúde, de família, de dinheiro, ou qualquer outro efeito material,.

Olhe mais a sua volta, veja problemas, mais complicados que o seu, mais complexos que os seus, sim você não tem nada com isto, porém se está ruim, pode ficar pior.



Foco nos seus objetivos, a vida amados é apenas um instante, prossiga e aproveite o hoje, o ontem se foi e nunca mais voltará, e o dia de amanhã jamais saberemos o que está destinado, a não ser o que plantamos hoje, tenha paciência com você e com as outras pessoas, que as vezes estão apenas esperando um sorriso, uma ligação sua, para seu dia ficar especial, porém, ele o dia,
será da forma que você desejar, mantenha o rumo, com fé e esperança e aguarde, tudo ficará bem.






David Chinaglia, 67 anos, radialista, jornalista, pesquisador, espírita de acordo a codificação e ensinamentos de Allan Kardec, escreve e edita este blog criado por Rogério Sarmento desde 2011, com amigos da doutrina que falam sobre ela, e a vida.
Recebe e-mails pelo davidchinaglia@gmail.com







segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Santidade High Tech: Carlo Acutis e a estratégia episcopal da permanência - Por Marcelo Henrique


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O exemplo da Igreja Católica com a canonização de Carlo Acutis sinaliza para o meio espírita um divisor de águas.

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Preliminares

Introdutoriamente, devo dizer que sou um pesquisador e escritor espírita, com praticamente quatro décadas e meia de estudo e prática da Filosofia Espírita. Neste sentido, em primeiro plano, todo e qualquer tema afeto à Espiritualidade é do meu interesse, independente da fonte ou do ambiente filosófico ou religioso em que seja o mesmo correlato.



Ato contínuo, já escrevi muitas vezes sobre temáticas religiosas e, em especial, acerca de fatos, personagens e episódios da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) e suas signatárias em todo o mundo. Já dissertei sobre os papas João Paulo II e Francesco, por exemplo, além de ter dissertado sobre o atual, Leão XIV. Também compus ensaios sobre destacados vultos do Cristianismo, além de Yeshua (Jesus de Nazaré), como, por exemplo, Antônio de Pádua, Francisco de Assis, Tereza de Jesus, Santa Paulina, Frei Galvão, entre outros.



Entendo, ainda preliminarmente, que os “santos” da Igreja são humanos dotados de um poder especial, que a religião cristã chama de “graça”, e que o Espiritismo conceitua como Mediunidade. Assim sendo, esta última, a faculdade mediúnica, natural aos encarnados e prodigioso instrumento de intercâmbio entre os dois planos ou mundos, o físico e o espiritual, nos possibilita entender melhor a distância que há entre o natural e o sobrenatural.



Na História da Humanidade, desde os primórdios, as sociedades tentaram compreender melhor os fatos que fugiam às triviais explicações do momento e, neste contexto, já que as Ciências se autodeclararam incompetentes para tratar de “artigos de fé”, as religiões – desde as ancestrais às contemporâneas – assumiram o protagonismo para explicar (dogmaticamente) fenômenos ou situações, ou dar respostas em termos de crença aos fiéis.



Os santos e sua importância

Devemos destacar que os “santos” (mulheres e homens “de Deus”) são figuras exponenciais ao chamado mundo cristão. Convenciona-se dizer que sua presença, seus feitos e a adoração dos cristãos sobre os mesmos – vale lembrar que os templos católicos em geral homenageiam um ou mais deles em seus “nomes”, como a Igreja Santo Antônio de Pádua que tive a alegria de frequentar durante uma década, bem no centro da capital de Santa Catarina, Florianópolis.



Diz-se que os santos e a devoção em torno deles “renova a fé cristã” e motiva os adeptos a se atentarem para as prescrições religiosas contidas em mandamentos e sacramentos, por exemplo. De outra sorte, ao serem mencionados os fatos da existência do Santo, se aproxima o mesmo dos próprios seres “comuns”, as mulheres e homens que, convertidos ao Cristianismo, buscam alcançar uma condição melhor nesta vida e na futura (almejando, neste caso, habitar o “Céu” da religião).



É comum, assim, que os fiéis tenham santos particulares, e se considerem protegidos ou abençoados pela santidade e, neste sentido, creditam a esse vínculo o sucesso e a felicidade alcançadas. Um elemento motivacional, que é, aliás, muito comum em diversos quadrantes da vida contemporânea, como, em especial, a vida profissional ou pessoal. O santo ou a santa, assim, bem pode ser uma espécie de “coach” invisível que nos guia em nossos passos.



O influenciador de Deus

Eis o codinome, o epíteto, a alcunha dada pelos crentes católicos a Carlo Acutis – o personagem que nos motivou a escrever este ensaio. Ou, também, o primeiro santo católico millenial, porque esta expressão remete aos nascidos entre os anos 80 e 90. Acutis nasceu em 3 de maio de 1991.



Carlo foi um jovem que faleceu em virtude de complicações decorrentes de uma leucemia, aos 15 anos de idade, em 12 de outubro de 2006. Coincidiu, portanto, com o dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida.



No dia 7 de setembro último, Acutis foi canonizado pelo papa Leão XIV, em uma cerimônia ocorrida na Praça São Pedro, após ter sido beatificado em 2020. Vale dizer que o processo já estava concluso no pontificado de Francesco (Jorge Bergoglio), mas não foi efetivado em função da piora no estado de saúde do papa anterior, que levou, inclusive à sua morte, em 21 de abril do corrente ano.



O influenciador de Deus simboliza a condição do garoto ter usado a tecnologia para evangelizar, já que aprendeu programação para criar sites para a divulgação da fé católica. Segundo suas biografias, o garoto, herdeiro de empresas sólidas na área financeira e de seguros, optou por seguir a fé católica, dedicando-se à Eucaristia e à Evangelização, preferindo a riqueza espiritual à material [1]. Assim sendo, por isso, Carlo já é o “padroeiro da Internet”.



Flagrante, portanto, e humanizada a Santidade High Tech de Carlo Acutis.



A vida do jovem era similar aos de sua idade e geração, comum aos adolescentes dos anos 2000. Tinha amigos, frequentava os ensinos fundamental e médio, mas, segundo declarou sua mãe, Antonia Salzano, sua “qualidade extraordinária [...] foi ter aberto o coração para jesus e colocando Jesus em primeiro lugar na vida” [2].



O corpo do jovem foi trasladado para uma igreja na cidade de Assis (Itália), conforme seu desejo, onde foi coberto por um molde de cera para manter e reproduzir sua aparência física, estando trajado por roupas simples, iguais às que ele usava rotineiramente: blusa esportiva, calça jeans e tênis.



A santidade e a mediunidade

A Igreja Romana possui seus ritos para a admissão da beatitude e da santidade. Nos processos em questão, são avaliados os “milagres”, isto é eventos “sobrenaturais” que representam curas de enfermidades, geralmente. Para tanto, situações distintas envolvendo o nome do jovem e os pedidos de intercessão do mesmo para que melhoras da saúde física de doentes ocorressem foram analisadas pelo Vaticano, que confirmou as ocorrências.



As questões que fazem parte da retórica cristã-católica, no que concerne à oficialização da santidade são, para nós, espíritas, explicadas e entendidas em sua plenitude. Evidentemente, não só em termos do presente artigo, como em relação a todas as demais situações e circunstâncias presentes na cristandade merecem, de nós, espíritas, consideração e total respeito.



Nosso intuito, outrossim, é o de demonstrar que os fatos que são considerados como milagres são, na verdade, peculiares à natureza humana e pertencem, não ao cenário sobrenatural, mas ao natural. E, neste contexto, a mediunidade é o instituto genuinamente kardecista que deve ser invocado.



Há, para o Espiritismo, a continuidade da vida e a manutenção dos laços que vinculam os seres entre si. Também a “passagem” para a invisibilidade após o fenômeno morte repercutem na continuidade dos interesses (humanos) nos indivíduos que foram para o “outro plano” ou a “outra dimensão”. Em outras palavras, mantêm os seres suas afinidades, proximidades, gostos, vinculações e afetos, preocupando-se, portanto, seja com os mais caros, seja com outras pessoas e, até, com a humanidade em geral, sobretudo em causas sociais.



No caso das curas de enfermidades físicas, não se descarta a ação da “mediunidade de cura”, que é a manipulação espiritual de fluidos, por parte de um desencarnado (Espírito) por meio de um encarnado (médium). Mas é necessário entender a questão mais amplamente, considerando que, além da “medicina do Além” a ciência material (clínica) também pode contribuir para a minimização dos efeitos das enfermidades e, em alguns casos, o recrudescimento ou o desaparecimento da moléstia. Então, é possível cogitar de uma ação conjunta entre os dois “planos”, físico e espiritual, para a consecução do “milagre”, isto é, a cura.



A lição que a canonização nos deixa

A Igreja Romana dá uma clara demonstração de sua atualidade e da preocupação com os tempos contemporâneos, considerada, inclusive, a diminuição dos fiéis e o crescimento das igrejas neopentecostais e do islamismo no mundo.



O Catolicismo dá um recado claro para o rejuvenescimento da mensagem cristã, já que se apoia nas ações do jovem Carlo em dois flancos: 1) a condição de jovem, um indivíduo de vida comum similar aos dos demais adolescentes do nosso tempo; e, 2) o uso da internet, das ferramentas cibernéticas, das redes sociais para a difusão da mensagem com teor cristão, na linguagem adequada ao público a que se destina.



Eis, aí, o que está grafado no título deste ensaio: a estratégia episcopal da permanência.



Neste sentido, há duplo acerto porque a identificação do jovem com seus pares e suas demandas é um sinal evidente da sinergia e proporciona o engajamento que é a marca comum das redes sociais na atualidade. E, de outra sorte, a utilização da internet como meio de difusão da espiritualidade cristã representa uma amplitude direcionada a quem, por diversas mídias ou redes, também é “consumidor” destes produtos virtuais.



Olhando para eles, os católicos, sentimos um pouco de “inveja”, mas, como diz o dito popular, uma “inveja boa”, direcionada ao desejo de copiar as boas iniciativas e de poder ser igual (ou parecido) um dia. Justamente neste momento em que os resultados do Censo2022 recentemente divulgados (e já abordados aqui em nosso portal [3]) apontam para uma significativa redução do número de adeptos declarados do Espiritismo. Mas não somente isso...



Nós que atuamos no meio espírita somos testemunhas de um problema que vem desde a virada do milênio e tem se agravado: o conservadorismo espírita que se manifesta em vários aspectos, desde a dogmatização de conceitos, passando pela restrição aos modos de ser e de se manifestar, a postura rígida e flagrantemente sisuda, a limitação do direito de expressão e da criatividade dos adolescentes e jovens, além, é claro, a adoção de uma linguagem ultrapassada, com ênfase a uma reforma íntima que se constitui como obrigação e o desejo de habitar em lugares celestiais, como colônias espirituais.



A mensagem espírita precisa ser reavivada enquanto expressão da liberdade espiritual, na linguagem de cada ser ou grupo e com as peculiaridades que a ambiência planetária nos proporciona. Em outras palavras, os espíritas precisam “viver a vida no mundo físico”, aproveitando as situações condizentes à existência material, e não ficarem concentrados no porvir, numa hipotética vida espiritual.



Se é fato de que os espíritas não cultuam santos nem têm sacramentos e liturgias, é muito numeroso o quantitativo de espíritas que cultua “santos espíritas” (médiuns, palestrantes e os próprios Espíritos que ditam mensagens pela psicografia), estabelecendo um distanciamento equivocado entre seres que, por habitarem a mesma morada física (no caso o planeta Terra) se encontram, todos, mais ou menos, na mesma situação espiritual (em termos de progresso), salvo raras exceções. Todos, portanto, seres falíveis, em processo de despertamento e esclarecimento espiritual. Assim, a atitude católica de “santificar” um personagem comum, que teve uma vida juvenil igualmente simples e similar aos demais jovens, vai na contramão da postura dos espíritas, que buscam cultivar a santidade de determinados personagem, cunhando-os de Espíritos Superiores ou Espíritos Puros.



Juventude, Internet, Redes Sociais, Simplicidade, Autenticidade, Fraternidade, Alegria, Riso e Congraçamento: estas deveriam ser, inegavelmente, as marcas da nossa sociedade neste Terceiro Milênio, aproveitando as facilidades que a contemporaneidade nos fornece, sobretudo a condição de nos comunicarmos com qualquer pessoa em qualquer parte do mundo e instantaneamente.



Nos parece que outro jovem, lá em Nazaré, de nome Yeshua, já teria dito isto: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt: 11;29). Ou, ainda, nos recomendou sermos “prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt: 10;16).



A atitude da Igreja Católica, portanto, nos sinaliza (meio espírita) um divisor de águas.



É hora, espíritas, de revermos os nossos métodos e de buscarmos o público jovem que seja imprescindível para a difusão das verdadeiras mensagens de Espiritualidade, que o kardecismo propõe para os temas da vida físico-material e suas interconexões com a ambiência espiritual. Sem eles, os jovens, a Doutrina dos Espíritos estará fadada a ser apenas um “plano de boas intenções” que figurou na História da Humanidade mas não teve forças nem empenho para, como propôs Kardec, se popularizar [4].



Vamos nessa?



Notas do Autor:

[1] Alguns dados sobre a família Acutis estão disponíveis no endereço: <https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/quem-sao-os-acutis-familia-do-primeiro-santo-millennial-da-igreja-catolica>. Acesso em 9. Set. 2025.

[2] Reportagem da Redação G1, disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/09/07/carlo-acutis-a-historia-do-jovem-catolico-1o-santo-millenial.ghtml>. Acesso em 9. Set. 2025.

[3] Especificamente, há o artigo “Espíritas em queda livre: diversas causas, um efeito, múltiplas preocupações”, disponível em: <https://www.comkardec.net.br/espiritas-em-queda-livre-diversas-causas-um-efeito-e-multiplas-preocupacoes-por-marcelo-henrique-e-marcus-braga/>. Acesso em 9. Set. 2025.

[4] Tivemos oportunidade de citar o texto kardeciano, no artigo “A mercantilização da formação do palestrante espírita”. In verbis: “Dois elementos hão de concorrer para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de a popularizar” (grifos nossos), conforme consta de “Obras Póstumas”, de Allan Kardec, na dissertação “Projeto 1868”. O artigo em questão está disponível em: <https://www.comkardec.net.br/a-mercantilizacao-da-formacao-do-palestrante-espirita/>. Acesso em 9. Set. 2025.