Conta Jesus (Lucas, 12:16-21) que a seara de um homem rico
produziu muitos frutos, tantos que não tinha onde guardar. Resolveu, então,
derrubar velhos celeiros e construir novos, bem maiores, e ali recolheria o seu
tesouro. Depois diria à sua alma:
– Tens em depósito
muitas riquezas para muitos anos. Descansa, come, bebe e folga.
Mas Deus
lhe disse:
– Louco,
esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será?
Comenta Jesus: – Assim
acontece com aquele que é rico diante dos homens, porém não rico diante de
Deus.
Certamente aquele homem rico, como todo judeu, frequentava a
sinagoga, pagava o dízimo, jejuava, efetuava sacrifícios no templo, observava o
sábado.
E, como todo ser humano, empenhava-se em melhorar suas
condições materiais, com mais riquezas, mais propriedades, mais dinheiro,
garantindo velhice confortável.
Faltou-lhe o detalhe fundamental: preparar seu futuro como
Espírito imortal.
***
Só
há uma certeza na vida – a morte. Todos morreremos um dia. Só há uma certeza na
morte – nada levaremos. Caixão, como se costuma dizer, não tem gavetas. Tudo
permanecerá aqui.
Ficarão bens, propriedades,
riquezas, joias, dinheiro… Até mesmo um mísero alfinete será confiscado na
rigorosa alfândega do Além. E também fama, poder, prestígio, títulos…
Importante jamais
esquecer que mais cedo ou mais tarde, amanhã ou dentro de algumas décadas, bateremos as botas, retornando ao mundo
espiritual, à pátria verdadeira, ao nosso lar.
Manda a prudência e o bom-senso
que tenhamos sempre um pé atrás, isto
é, que estejamos atentos, que cogitemos da grande transição, evitando surpresas
desagradáveis.
Nesse aspecto, o primeiro
passo, o mais importante, está em definir a finalidade da existência humana.
Diz o ateu: – Estamos
aqui por acidente biológico. Não há passado nem futuro. Tudo termina na
sepultura.
Diz o evangélico: –
Estamos aqui para encontrar Jesus. Não há o passado, apenas o futuro no
paraíso, se estivermos com o Senhor.
Diz o espírita: –
Estamos aqui para pagar dívidas com o sofrimento. O passado é negro, o futuro
será de bênçãos se formos bem comportados.
São ideias equivocadas. A
finalidade precípua, fundamental, da jornada terrestre é nossa evolução, com o
desenvolvimento de nossas potencialidades criadoras como filhos de Deus.
A evolução ocorre quando
nos empenhamos em conquistar valores intelectuais e morais, construindo um
patrimônio que nos permita o acesso às moradas dos bem-aventurados.
A propósito, há
esclarecedor diálogo de um turista brasileiro com famoso mestre egípcio que
visitou na cidade do Cairo. Ficou surpreso ao ver que ele morava num único e
singelo cômodo. O mobiliário consistia de rústica mesa e pequena banqueta. A
partir dali houve breve e significativo diálogo:
O turista: – Onde estão
seus móveis?
O sábio: – Onde estão os
seus?
O turista: – Estou de
passagem pelo Cairo.
O sábio: – Estou de
passagem pela Terra.
Importante preparar não
apenas um mobiliário, mas também um lar no Além, a fim de não nos situarmos
como um sem-teto, compondo a imensa população de rua em regiões purgatórias.
Memento mori!
Traduzindo: Lembre-se de que você vai morrer!
Cuidado com as
preocupações exageradas relativas aos celeiros da Terra. Imperioso cuidar dos
investimentos para o Céu, buscando aqueles tesouros que as traças e a ferrugem
não corroem nem os ladrões roubam, como ensinava Jesus!
Richard Simonetti, 81, é escritor, espírita, e colaborador deste blog, é um dos maiores divulgadores da Doutrina Espírita segundo a codificação de Allan Kardec a mais de 63 anos.