sábado, 21 de dezembro de 2024

CARTAS CONSOLADORAS, UMA ANÁLISE NECESSÁRIA - POR NELSON SANTOS

 

                                            


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“Não pense separadamente nesta e na próxima vida, pois uma dá para a outra a partida.

O tempo é sempre curto demais para quem precisa dele,só que para os amantes ele dura para sempre”.

Rumi

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Apesar da inevitabilidade da morte, o falecimento de um ente querido é uma das vivências mais marcantes do ser humano, aspectos socioculturais e psicológicos convergem no enlutamento. Fenômeno no qual a ausência, guardada a particularidade e a experiência de cada ser, resulta em negação da realidade, tristeza, melancolia, saudades, entorpecimento, descrença, choque, aturdimento, desamparo, enfim, um limbo existencial.


Sejam espiritualistas ou não, a ânsia de compreender e aceitar a ausência, gera expectativas, calcadas, principalmente, na esperança, ainda que distante, de uma vida além da vida e impulsionam a busca de notícias dos entes queridos falecidos e resposta a suas indagações, buscando alívio do sofrimento vivenciado, intenso e significativo. Nesse quesito as mensagens mediúnicas familiares despertam, fascinam e intrigam a humanidade desde a antiguidade.

Kardec, o investigador.


Kardec, em suas pesquisas e investigações sobre a relação inter-existencial, pesquisou e analisou, cientificamente, mensagens de além-túmulo, defrontando-se, certamente, com várias de cunho familiar, por meio de evocações. Isto antes, provavelmente, até mesmo de sistematizar a obra basilar que é “O livro dos Espíritos”.

Nesta obra, de modo questionador, abordou a temática na questão 935:


“Que pensar da opinião das pessoas que consideram as comunicações de além-túmulo como uma profanação?”.

E as Inteligências Esclarecidas lhe responderam:


“Não pode haver profanação quando há recolhimento e quando a evocação é feita com respeito e decoro. O que o prova é que os Espíritos que vos são afeiçoados se manifestam com prazer, sentem-se felizes com a vossa lembrança e por conversarem convosco. Profanação haveria se as evocações fossem feitas com leviandade”.

À resposta dos Espíritos, Kardec, comenta com seu habitual senso crítico:


“A possibilidade de entrar em comunicação com os Espíritos é uma bem doce consolação, que nos proporciona o meio de nos entretermos com os parentes e amigos que deixaram a Terra antes de nós”.

São mensagens que concedem, assim, aos familiares, esclarecimentos e informações acerca da sua condição na erraticidade, no sentido de aliviar a consternação que decorre da súbita separação.


O laboratório permanente.


Kardec, durante o período de 1858 a 1866, publicou na “Revue Spirite”, seu imenso laboratório, 93 (noventa e três) comunicações exemplificando o trânsito de informações dos entes queridos, sempre com análises críticas e ponderadas. Neste escopo, denominou as dissertações como “Palestras familiares de além-túmulo”, como ilustra a contida na “Revue” de Janeiro de 1858, em uma evocação intitulada “Mamãe, aqui estou!”, na qual havia informações que o médium não tinha conhecimento.


Nas mencionadas “palestras familiares”, Kardec sistematicamente analisou as mensagens, sempre eivado de seu habitual bom senso e critério como na “Revue” de novembro de 1860 quando, apesar de apontar que as comunicações seriam uma das mais doces consolações que o Espiritismo poderia proporcionar, ele enfatiza:

“não é preciso nada aceitar sem tê-lo submetido ao controle da razão, e aqui a razão e os fatos nos dizem que essa teoria não poderia ser absoluta”.


As evocações.


Adiante, em “O livro dos Médiuns”, no Item 273, Kardec destaca:


“É também conveniente só com muita prudência fazer evocações na ausência das pessoas que as pedem, e no mais das vezes é mesmo preferível não fazê-las. Porque somente essas pessoas estão aptas a controlar as respostas, a julgar a identidade do Espírito, a provocar os esclarecimentos que as respostas suscitarem e a fazer as perguntas ocasionais a que as circunstâncias podem levar. Além disso, sua presença é um motivo de atração para o Espírito, geralmente pouco disposto a se comunicar com estranhos pelos quais não tem nenhuma simpatia. Em suma: o médium deve evitar tudo o que possa transformá-lo em instrumento de consultas, o que, para muita gente equivale a ledor da sorte”.

Mas não fica, o Professor francês, nisso. Adiante, no Item 275 e sucessivos, do mesmo livro, ele pontua:


“as causas estranhas ligam-se principalmente à natureza do médium, à condição da pessoa que evoca, ao meio em que faz a evocação e, por fim, ao fim que se propõe. Certos médiuns recebem mais facilmente as comunicações de seus Espíritos familiares, que podem ser mais ou menos elevados; outros são aptos a servir de intermediários a todos os Espíritos. Isso depende da simpatia ou da antipatia, da atração ou da repulsão que o Espírito do médium exerce sobre o evocado, que pode tomá-lo por intérprete com satisfação ou com aversão”.

Os desvios mediúnicos.


Kardec para evitar o charlatanismo, as fraudes e as dúvidas contumazes que podem envolver a prática mediúnica e as respectivas mensagens produzidas, também se dedicou, no Item 304 e sucessivos, novamente de “O livro dos Médiuns”, aos cuidados que seriam necessários para identificar possíveis desvios na prática mediúnica, com a participação de médiuns interesseiros e de Espíritos inferiores, em verdadeiro “consórcio” espiritual. Neste sentido ele enfatiza, no Item 323, o imprescindível parâmetro de aferição:


“Em resumo, repetimos, a melhor garantia está na moralidade reconhecida dos médiuns e na ausência de todas as causas de interesse material ou de amor-próprio que pudessem estimular-lhes o exercício das faculdades mediúnicas, porque essas mesmas causas podem levá-los a simular aquelas que não possuem”.


Em um entendimento basilar, a análise do fenômeno psicográfico é o elemento que poderá (ou não) conferir validade e veracidade à comunicação (conteúdo). Elementos acessórios, presentes nas situações de fato, envolvem tanto a credibilidade de quem a emitir/recepcionar, isto é, o Espírito (desencarnado) comunicante e o suposto médium, bem como a credulidade de quem a receber (o interessado, como o familiar do ente que faleceu e que retorna com sua mensagem). Neste caso, ambas as condições enquadram um critério pessoal.


Em outras palavras, qualquer coisa que seja dita servirá para “aquecer” (consolar) os corações que sofrem, independentemente de serem verdadeiras ou não as informações que o médium disponibilizar.

As “Cartas Consoladoras”.

As chamadas “Cartas Consoladoras” prosseguiram no “modo brasilis” do Espiritismo envoltas numa “aura” de muito misticismo, superstição, sobrenatural e credulidade cega, porque, aqui, talvez mais do que em qualquer outra parte do orbe, haja um “caldo cultural” propício, decorrente da miscigenação de etnias e religiões. Tem-se, portanto, neste rincão sul-americano, um “Espiritismo diferente”, muito mais identificado sobre alcunhas como espiritolicismo e espirigelicismo, em função das “misturas” entre conceitos espíritas (e suas deturpações, derivadas da visão pessoal de adeptos e simpatizantes) e práticas, rituais e percepções litúrgicas do catolicismo, do neopentecostalismo e, também, das religiões de matiz africana, como Umbanda e Candomblé.


Em amplo espectro, poderíamos dizer que aqui grassa um “colorido” espiritualismo sui generis, multifacetado, ramificado, permissivo e inclusivo (!?), onde o ponto principal não é a análise racional, lógico-sistemática, à luz da filosofia e da ciência espíritas (lembremos que foram essas as duas estacas sobre as quais o Espiritismo se erige e se sustenta), mas a aceitação tácita do que “provenha” do “Alto”, por meio de “missionários” que trazem afirmações peremptórias (gerais ou pessoais), aceitas sob viés dogmático e sobrenatural.

Mas, nem sempre foi assim…

Chico Xavier.


No chamado meio espírita, tais mensagens foram, por décadas, produzidas pela mediunidade ímpar de Francisco Cândido Xavier e popularizadas de forma marcante no Brasil, apresentadas, depois, em muitos dos livros do escritor-médium. Não resta dúvida, todavia, em relação à produção chicoxavieriana que, além de ser TOTALMENTE INCONSCIENTE, sem qualquer contato do medianeiro com informações dos entes queridos que compareciam às reuniões públicas em Uberaba (MG), apresentou, em sua totalidade, o teor verdadeiro das comunicações, em função dos detalhes e fatos descritos em cada carta, depois confirmadas – sem o excesso de emoção particular das situações que envolvem a espetacularização contemporânea (grandes e luxuosos auditórios, presença de dirigentes e personagens populares, com música ao vivo e o beija-mão característico da idolatria mediúnica).

Chico, por isso, é um capítulo à parte na “História do Espiritismo Brasileiro” e, em relação a essa tipologia de comunicação mediúnica, NÃO PAIRAM DÚVIDAS NEM SUSPEITAS, destacando-se, entre os espíritas em geral e também entre os populares, leigos ou simpatizantes da Doutrina dos Espíritos, o pleno e inconteste reconhecimento público de sua missão (a de informar o que os Espíritos lhe ditavam e a de efetivamente consolar os entes queridos saudosos e desesperados).

O Brasil-espírita.


É, contudo, MUITO DIFERENTE a situação que o Brasil Espírita vivencia atualmente. E já vem de algumas décadas, três ou quatro, infelizmente. Hoje, “qualquer um” é um “consolador”! Forte isso, não? Pois tem de ser... Quando dizemos “qualquer um” é porque, justamente, entre o trigo dos verdadeiros médiuns, que efetivamente realizam intercâmbio com os desencarnados que assinam mensagens dirigidas a públicos restritos (familiares e amigos), tem-se o joio composto por pseudomédiuns, cuja “mediunidade” talvez nem exista, seja uma encenação, uma prestidigitação, uma fraude, além das outras também conhecidas situações no meio espírita em que médiuns, antes autênticos, acabam enveredando por trajetos de honra, orgulho, vaidade, fama e bens materiais e valores financeiros associados à “tarefa”, perdendo, pois, o auxílio de Inteligências Sensatas (guias familiares e Espíritos adiantados), passando a ser “massa de manobra” de Espíritos brincalhões e zombeteiros.

Os nossos tempos são dinâmicos e instantâneos, com uma profusão de mídias sociais, em que se constata a ampla facilidade de obtenção de informações e dados pessoais de quem quer que seja. Muitas pessoas, então, neste segmento “mediúnico”, tem se valido de informações públicas (redes sociais) do “morto” e de seus afins (que lamentam a saudade ou recordam passagens de sua existência, com pesar, luto e carinho), o que intensifica os questionamentos sobre a veracidade das comunicações, ao mesmo tempo em que, em função do alto peso de emotividade dos envolvidos, torna ainda mais penosa, complexa e difícil a tarefa de averiguação dos conteúdos.


Vale destacar, também, que as tais cartas ganham ainda maior vulto, graças aos próprios recursos cibernéticos, porque se popularizam rapidamente em face do apelo que contêm, sendo protagonizadas por meio de distintos personagens – a quem se atribui a condição de “médiuns”, alguns anônimos e outros bem “famosos”.


Critérios de validação.


Por isso se insiste na verificação por terceiros, idôneos e distantes dos personagens partícipes do evento psicográfico (isto é, o médium, seus auxiliares, os promotores de reuniões desta natureza e, é claro, os familiares que desejam receber os “comunicados do Além”). Sem isto, de modo coerente com a Filosofia Espírita, estaremos não diante de fenômenos mediúnicos críveis e verossímeis, mas, sim, de situações em que a fé cega e a emotividade, somada à “necessidade” de receber notícias daquele que faleceu, podem produzir o ilusionismo e a crendice exacerbada.

Deste modo, perante a infinita multiplicação das “cartas da imortalidade”, os espíritas e, também, os espiritualistas devem se valer de seguros e necessários critérios para aquilatar a veracidade das mensagens e dos próprios “transes” mediúnicos. Para isto, não conhecemos nada melhor e mais adequado do que o rito de controle estabelecido por Kardec, sobretudo em “O livro dos Médiuns”, para realizar, com bom senso, racionalidade e instrumentalidade, a análise crítica de cada mensagem em seus mínimos detalhes.

Em qualquer evocação, recordemos que nada mais é necessário do que o nome do desencarnado, a data de falecimento do ente querido e a presença do familiar, pois, se assim o quiser, o Espírito se manifestará voluntariamente e prestará as informações necessárias e suas particularidades. Simples, direto e objetivo. Sem floreios, invencionismos ou adornos. Porque a mediunidade é simples, é natural, e se baseia numa destacada Lei que rege os “vivos” e os “mortos”: a de sintonia ou afinidade.


Sem ela, pode ser tudo, menos Espiritismo!

Fontes:

KARDEC, A. “O livro dos Espíritos”. Trad. J. Herculano Pires. 64. Ed. São Paulo: LAKE, 2004.

KARDEC, A. “O livro dos Médiuns”. Trad. J. Herculano Pires. 20. Ed. São Paulo: LAKE, 1998.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

NóS(Espíritas) somos muitos pedantes! - Por Marcelo Henrique

 



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“Meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem” (Yeshua).

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Alguns temas são recorrentes. Eles vão e vêm. Mesmo em discussões que, aparentemente, sequer tangenciam alguns conceitos, eles aparecem. E mostram o quanto nós ainda “patinamos” no entendimento das Leis Espirituais e dos reflexos, dela, em nós.



Vamos falar de um tema apaixonante, para os espíritas e, também, para todos que se dizem “cristãos”, ou, mais propriamente, para os que admiram a personalidade ímpar de Yeshua bar Yossef, ou Jesus de Nazaré. Ou, ainda, para mim, e minha proximidade e intimidade com ele, o Magrão.

O primeiro ponto que nos faz entender Jesus segundo o Espiritismo está focado na questão 625, da obra primeira de Allan Kardec, “O livro dos Espíritos”. Ainda que a tradução que você tem em mãos, em casa, ou que folheia na casa espírita, geralmente consigne como resposta a “menor” das 1019 perguntas que Kardec apôs neste brilhante livro, a tradução que reputo ser a mais fiel ao original, é diferente. Enquanto na “maioria” a resposta é uma palavra (“Jesus”), a do professor e filósofo de Avaré (SP), é composta por um verbo e um substantivo (“Vede Jesus”). Já escrevemos sobre isso. O original, no vernáculo kardeciano, tinha exatamente a composição que Herculano traduziu. E dela, devemos subentender e interpretar que nossos olhos, em termos do “modelo existencial humano” seria Jesus. Mas que, por extensão interpretativa, outros avatares, missionários, pessoas ímpares, em distintas civilizações, poderiam ser tidas como modelos. E o são, basta apreciar, estudar e entender suas culturas.

O modelo é, claramente, não o “estágio final” de perfectibilidade plena (perfeição relativa), mas possui, em relação aos que o tomam como tal, uma relação de logicidade e proximidade.

Consideremos, assim, incialmente, o estágio planetário de dois mil anos atrás, época em que o Magrão palmilhou as terras da Galiléia, Judéia, Genesaré, Belém e arredores... Um mundo bastante atrasado, inferior, em que a barbárie ainda era uma característica e a civilização – com o progresso das leis e dos costumes humanos – ensaiava os primeiros passos.
Um mundo em transição, considerando a cátedra espírita, entre o “primitivo” e o “de provas e expiações”, compondo, na Escala Progressiva dos Mundos Habitados, o primeiro e o segundo degraus, respectivamente. Além desses existem outros três: o de regeneração (que se avizinha, mas não se sabe quando irá ocorrer, mas decorre da paulatina transformação do anterior, onde nos encontramos), o ditoso ou feliz e, por último, no ápice do processo progressivo (Lei do Progresso, na terceira parte de “O livro dos Espíritos” – Capítulo VIII), o celeste ou divino.

Além da regra de progressão, encartada nestes cinco estágios, consequentes, de elevação espiritual, a partir das experiências individuais de cada um, na carne (isto é, estando encarnados em corpos físicos, os Espíritos), há, como substrato de validade e elemento característico e causal, o progresso individual. Assim, Kardec em consórcio com as Inteligências Superiores que o assistiram no trabalho de Codificação da Doutrina dos Espíritos, estabeleceram dez estágios de desenvolvimento, do “simples e ignorante” até o “puro”. A matéria, com o detalhamento necessário, figura na obra inicial, já citada, a partir do item 100, o que recomendamos a (re) leitura, assim como a meditação e o estudo dela decorrentes. E, mais, recomendamos o estudo coletivo, em grupos, núcleos ou instituições espíritas, seja presencial ou virtualmente – dadas as facilidades, de hoje, de utilização de ferramentas cibernéticas, cada vez mais úteis e aperfeiçoadas, verdadeiros instrumentos para o aprendizado e as relações interpessoais.

No nosso caso, recomendamos a participação em nosso fórum virtual de debates e estudos, o grupo “Espiritismo COM Kardec – ECK”, na plataforma (rede social) Facebook [1]. E, também, a visita ao nosso Portal [2], que reúne tudo o que o ECK tem produzido desde sua criação, em 2017.

Pois bem, voltemos a Jesus os nossos olhares. Ainda que não possamos tomar como verdadeiras todas as informações que são ditas “sobre” o Mestre, contidas nos quatro evangelhos canônicos, porque elas sofreram forte influência dos cânones da Igreja Romana, que selecionou, dentre quase noventa evangelhos existentes os quatro que seriam considerados como referência para o chamado “mundo cristão”, há elementos que figuram nos relatos de João, Marcos, Mateus e Lucas que são “validados” pelo Espiritismo.

Kardec trata do Rabi, seus feitos, seus ditos e suas pregações, além das curas que prodigalizou, essencialmente em “O evangelho segundo o Espiritismo”, em “O Céu e o Inferno” e em “A Gênese”, embora ele também possa aparecer nas outras obras que ele escreveu, que totalizam trinta e duas. Algumas editoras, inclusive, em publicações mais antigas, chegaram a colocar uma grade comparativa, contendo, em relação aos citados evangelhos (da Igreja) os trechos que teriam correspondência com o Espiritismo. Ou seja, o capítulo e o versículo dos evangelhos que seria tratado no capítulo da obra “evangélica” espírita, acima mencionada em primeiro plano. Notemos, ainda, que na folha de rosto do “evangelho espírita”, consta, expressamente, dito por Kardec: “Contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação nas diversas situações da vida”. Aí está o “fundamento” de não ser possível encontrar algum trecho da bíblia ou do novo testamento que você pode ter em casa – eu, por exemplo, tenho a edição publicada pelos Gideões, para consulta e análise comparada com os trechos das obras espíritas – nas obras publicadas pelo professor francês e, especialmente, em “O evangelho segundo o Espiritismo”.



Aquilo que foi “incluso” nos quatro evangelhos canônicos, por força da mística e da mistificação em torno de “Jesus Cristo”, o segundo elemento (personagem) da “Santíssima Trindade”, e que está associado aos dogmas e aos ritos da religião (ou das religiões) dita(s) cristã(s), obviamente, não é e nem será objeto de apreciação do Espiritismo, por absoluta incompatibilidade com as Leis Espirituais (que regem todos os mundos e se aplicam a todos os Espíritos, indistintamente), por serem meras invenções “fantásticas” do homem, desde a fundação da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) e, lembremos, muitas das “confirmações” dos “mistérios” contidas nos citados quatro evangelhos, decorrem de “previsões” colocadas no Antigo Testamento, por absoluta correspondência ideológica e religiosa.

Mas, voltemos ao título que demos a esta missiva. Nós, espíritas, somos muito pedantes!

Não obstante as claras e precisas orientações dadas pelos Espíritos Superiores a Kardec (1857-1869), preferimos, nós, compor um personagem “sobrenatural” para nos referirmos a Jesus de Nazaré, o nosso “irmão mais velho”. Há, no meio espírita, por reflexo e interferência de crenças pessoais e da similitude com as “crenças irmãs” cristãs, uma tendência – forte, marcante e preponderante – de consideração de uma alegada PUREZA de Jesus, em sua estada entre os homens do nosso orbe.

Vencida a premissa fundamental – que também é um cisma no Espiritismo atual, face a existência de duas “correntes” de pensamento, absolutamente incompatíveis entre si, e que não são “novidade” dos espíritas dos séculos XX e XXI, mas, inclusive, remonta ao próprio tempo de Kardec, pois, em paralelo à publicação das obras kardecianas, um advogado francês, Roustaing, também publicou uma obra sobre a natureza de Cristo (aí, entendemos necessário e fundamental não usar o termo “Jesus”), chamada “Os quatro evangelhos: A revelação da revelação”, em que o mesmo é apresentado como um ser agênere, sem corpo físico, “materializado” para viver trinta e três anos sobre a superfície de nosso planeta.



Esta dualidade Jesus X Cristo é uma das questões mais repetidas na “vivência” espírita do nosso tempo. E vamos mostrar que, mesmo que a obra acima mencionada, de Roustaing, não seja diretamente tratada ou estudada, os conceitos que nela estão acham-se fortemente visíveis em nossas práticas espíritas.

A questão essencial é, assim, correlata à NATUREZA de Jesus. Se ele, há dois mil anos, teria sido um espírito SUPERIOR ou um espírito PURO.

Muito já se escreveu e se escreve, hoje em dia, a respeito disto. Com tentativas de defesa de uma ou de outra tese, utilizando-se de excertos, trechos transcritos, desta ou daquela obra, assinadas por vultos espirituais (que se comunicaram via mediunidade e tiveram seus relatos “aprovados” por Rivail), ou por dissertações da lavra do próprio Kardec. Ou seja, dependendo do intérprete, encontramos frase que podem validar a tese de quem defende a existência corporal de Jesus, como espírito SUPERIOR, mas não, ainda, puro, e os que se perfilam como adeptos de outra tese, a de que Jesus já se encontrava na última condição de espiritualidade, possível, ou seja a de espírito PURO.

Já escrevemos outras vezes sobre tal temática, tendo como pano de fundo e base fundamental o contido na parte da obra kardeciana que se propõe a explicitar, uma a uma, as fases de progresso individual do Espírito, ou seja, de cada um de nós, desde a criação divina, até os níveis mais elevados, futuros, de cada um de nós, seres imperecíveis, finitos, com origem (criação) mas sem fim.

O ponto que ainda não tratamos em outros escritos, nossos, e que, também, ainda não vi ser tratado por nenhum articulista espírita – e me perdoem, caso alguém já tenha, especificamente tratado, pois não é do meu conhecimento, pois não possuo o dom da onisciência – está associado à natureza da missão espiritual de Yeshua neste planeta.
Ora, se Jesus foi UM dos modelos para a Humanidade, tendo ENCARNADO, ou seja, se utilizado de uma vestimenta material (corpo físico) para o desempenho de suas “tarefas” junto aos homens daquele tempo – e para o futuro – precisamos retornar aos conceitos que já foram apresentados, inicialmente, neste texto, para demonstrar onde está o PEDANTISMO ESPÍRITA.

O que era a Terra há dois mil anos? Com os parcos registros históricos e, também, arqueológicos, disponíveis, temos o quadro destacado de início: um planeta com seres bastante inferiores, povos bárbaros que disputavam, entre si, a hegemonia sobre territórios, que dizimavam seus “inimigos”, os escravizavam e em que a força física era superior à intelectualidade, em quase todas as situações. Poucos valores morais em vigência e a ideia de obediência a vultos militares, imperiais ou religiosos. Quase nenhum espaço para a filosofia e a liberdade de pensamento, por consequência. Neste cenário, em que a Terra estaria tentando deixar para trás o estágio inicial de desenvolvimento dos mundos (primitivo) para se caracterizar no segundo degrau (o de provas e expiações), qual seria a razoabilidade de vir um espírito “dos mais desenvolvidos”, em “condição mais adiantada dentre as conhecidas”, um ser PURO?

Mais natural seria receber, como orientador, como conhecedor das Leis Espirituais e para fazer jus ao único título que ele aceitou ser chamado pelos discípulos – Mestre – que fosse um espírito SUPERIOR.

Vejamos a definição que os Luminares que trabalharam com Rivail, dão a este termo: “Segunda classe. Espíritos Superiores — Reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade. Sua linguagem, que só transpira benevolência, é sempre digna, elevada, e frequentemente sublime. Sua superioridade os torna, mais que os outros, aptos a nos proporcionar as mais justas noções sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que nos é dado conhecer. Comunicam-se voluntariamente com os que procuram de boa-fé a verdade e cujas almas estejam bastante libertas dos liames terrenos, para a compreender; mas afastam-se dos que são movidos apenas pela curiosidade ou que, pela influência da matéria, se desviam da prática do bem” (isto figura no item 111, de “O livro dos Espíritos”).

Jesus, assim, pelo que dele conhecemos, conforme os textos incluídos na Codificação, era uma personalidade ENCARNADA que reunia “ciência, sabedoria e bondade”, proporcionando, a partir dos seus ensinos e, também, dos fenômenos espirituais que ele protagonizou (curas e outros, de efeitos físicos), “as mais justas noções sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que nos é dado conhecer”.

Mas é o trecho final deste quesito (111) que mais importa e tem relevância: “Quando, por exceção, se encarnam na Terra, é para cumprir uma missão de progresso, e então nos oferecem o tipo de perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo”.

É esta, de fato, a condição real de Jesus de Nazaré. Encarnar POR EXCEÇÃO no nosso planeta, para cumprir, nele, uma missão de progresso, coletiva, oferecendo-nos o “tipo de perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo”.

A CONEXÃO PERFEITA entre a parte final da questão 111 e a contida na questão 625, utilizando-se, inclusive do mesmo conceito fundamental (tipo de perfeição aspirada), é de cristalino entendimento.

Mas, os espíritas PEDANTES querem que seja, Jesus, o ser “mais perfeito entre os perfeitos”, o PURO ESPÍRITO, porque NINGUÉM pode ser superior a Yeshua, porque, se fosse, se existisse alguém, neste planeta, que já tivesse vindo ou que virá, toda a pedagogia do Mestre estaria sob suspeição e poderia (ou pôde) ser suplantada por outro. Imagine, por exemplo, o que diriam os seguidores de Krishna, de Sidarta ou de Gandhi, para ficarmos em três pequenos exemplos de avatares, quando lhes dissermos que “Jesus é mais”. Ou, em paralelo, se conhecemos MUITO MAIS do que fizeram e ensinaram esses três personagens – ou dois deles, já que Gandhi esteve integrado à cultura ocidental, sendo, pois, posterior a Jesus e por ele, também influenciado – e “descobrirmos” que, talvez, um deles possa ser SUPERIOR a Jesus, em ciência, sabedoria ou bondade”? Seria como “a casa caiu”, entre os espíritas?

Jesus é um personagem apaixonante. É, certamente, uma das mais lúcidas inteligências que já pisou neste nosso “planetinha azul”, e sua teoria aliada à prática aplicada são-nos, sim, uma das referências mais marcantes. Não é à toa que, na própria Introdução de “O Evangelho”, Kardec compõe um ensaio magistral sobre a relação do Espiritismo com as doutrinas, incialmente, na História, de Sócrates e Platão, e as de Jesus, formando, entre elas, um vínculo indissociável. Veja que Kardec não remonta a Moisés, embora reconheça a validade dos livros que o legislador do Antigo Testamento tenha deixado à Humanidade, sobretudo “os dez mandamentos”, mas vincula o pensamento espiritista ao de Jesus (e não ao Cristianismo, que é diferente daquele porque está repleto de dogmas, sacramentos, rituais e liturgias) e à filosofia grega de Sócrates e seu discípulo Platão.

Menos, senhores espíritas! Bem menos!

Caso contrário este pensamento (ou analogia) vinculado a outros – como por exemplo a chamada “destinação espiritual do Brasil”, como “pátria do Evangelho”, “coração do mundo”, “terra de promissão”, etc., nos aproxima ao velho e corroído conceito de “terra prometida”, aspiração até hoje dos judeus palestinos.



Precisamos ser mais fraternos entre nós e para com os demais adeptos de outras filosofias, seitas ou religiões. Necessitamos ser mais razoáveis em relação aos fundamentos da própria Doutrina Espírita. Carecemos de sermos mais humildes e menos vaidosos ou presunçosos, achando que os “espíritas” têm melhores informações sobre as Leis Espirituais. Conhecimento é prática. É o que fazemos dele. É como utilizamos este conhecimento para nossa própria “libertação” das amarras do mundo físico, alçando compreensão e sabedoria em nossos voos.

Jesus, Espírito SUPERIOR nos deixou apropriada e singular mensagem, que vige até hoje. Kardec, Espírito PRUDENTE (veja a Escala Espírita, a propósito, no item 110), complementou a pedagogia de Jesus e explicou seus feitos, apresentando-nos as Leis Espirituais e seus reflexos sobre os Espíritos.

Está mais do que na hora de tentarmos nos aproximar “em espírito e verdade” dos demais seres que transitam neste plano, ao invés de continuarmos erigindo muros (ou altares) para nos diferenciar dos que nos são, como ele, Yeshua, nos apresentou, irmãos. E quando disse: “meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem”. Sem pedantismo, portanto!

Notas do Autor:

 A plataforma de interação entre os ECKanos é:


 https://www.facebook.com/groups/Espiritismo.COM.Kardec >.

 O Portal COM Kardec pode ser acessado em: https://www.comkardec.net.br/ .


Marcelo Henrique, é professor, doutor, escritor, espírita, divulgador da doutrina espírita em todos os canais da Internet, e redes sociais, um dos fundadores da ECK - Espiritismo com Kardec, e se tornou colaborador deste Blogo em Julho de 2011, desde entao segue colaborando conosco.



quarta-feira, 23 de outubro de 2024

A VIDA COMO VIRGIN RIVER, A RESPOSTA - Por David Chinaglia


                         


Todos nós temos a necessidade de um paraíso, de um lugar de paz, alguns acham nas montanhas, outros no mar, outros no campo em algum lugar.
Alguns até pensam na morte como caminho para um lugar de paz, o que é um erro, outros andam o mundo, em lindos lugares e nada encontram, fora o que viram em livros e filmes, sonhos.

Onde está a paz e felicidade, PERGUNTO.

Bem primeiro vou falar de Virgin River que motivou este texto, esta reflexao, trata-se de um seriado, doce, meigo, que retrata a vida em uma pequena cidade, do mesmo nome da série exibida pela NETFLIX, onde 05 temporadas já foram gravadas e a sexta vai ao ar, agora em Dezembro.

A vida em Virgin River é maravilhosa, cidade pequena, lindos rios, cascatas, matas, MARAVILHOSAS CACHOEIRAS, florestas, pessoas calmas, amigas, solitárias, vivendo um grande amor, amizades verdadeiras, etc.

Na história principal uma enfermeira parteira, que perde a filha a nascer e logo depois o marido vai buscar a felicidade e paz em uma pequena cidade, e lá encontra de tudo fora a clinica que a contratou, para auxiliar o médico já em final de carreira, único médico do lugar, e a série gira em torno.

Também fala e mostra paz, felicidade, amor, belas paisagens, e sonhos, de cada morador, amigos e famílias adotivas, aqueleas que se formam de grandes amizades.

Como na nossa vida, o céu fica perto do inferno, e lá na série existem pessoas más, que vivem pelo dinheiro, e por atos criminosos, e como a visao da lei nos EUA, no Canadá, é mais rigorosa, que a nossa aqui no Brasil, coisas duras ocorrem.

Durante a montagem do texto, fiquei com as cenas de Virgin River em minha mente, Lika me perguntou, ontem "o que viu nesta série, simples, romatica, indagou.
Pensei, e respondi, bem "um lugar de felicidade, de paz, de amigos verdadeiros, aqueles que tratam a gente como se de fato fosse uma família nossa,".

No filme, e aqui na vida real a família muitas delas nos abandonam pais, irmaos, netos, sobrinhos, enfim, Virgin River, e amigos acabam sendo o ponto de apoio como mostra a série.

Diria que Virgin River é digamos,  uma espécie de Pasárgada.




Certa vez por ocasiao do filme Nosso Lar, filme espírita que relata o que seria a experiencia do espírito André Luis após a morte, encontrando uma cidade celestial onde tudo era o de melhor após a vida na terra.
Me lembro que fiz uma pesquisa ainda nas filas do cinema, o que as pessoas mais gostavam do filme, umas disseram esperanca que exista de fato um lugar de paz e felicidade, pessoalmente tracei um paralelo das cenas das paisagens, da cidade, das pessoas boas, como Virgin River, a cidadezinha meiga do Canadá, criada para a série..

Felicidade, paz, respeito, amigos de verdade, lindos cenários, da natureza, lareiras mágicas, e vidas paralelas felizes, tudo isto é como um sonho para alguns quando se realiza.

Porém a vida é como a esperanca em Nosso Lar, ou em um lugar maravilhoso e inesquecível como Virgin River, eu estou na metade da quarta temporada, mas, a série é tao marcante que me fez dar de encontro com a verdade de todos nós.

                                     



Em Virgin River até a cabana acabou sendo replicada no Paraná por um cidadao, para que as pessoas se sentissem como no filme em paz, em alegria, etc, o que buscamos, entao sao momentos de felicidade.

Porém tenho uma notícia, um fato de verdade, sobre a esperanca do lugar perfeito.

                                  



Meu amigo, minha amiga, lamento, mas Virgin River nao existe, a cidade em si, nada mais é que uma criacao da NETFLIX, cenários sao montagens, e as pessoas vivem papéis escritos num romance, e a coletanea de lindas imagens, cabanas, rua principal, livraria, sim, existem no Canadá, porém em tres cidades diferentes, é feito de tres ou quatro locacoes criadas para na chamada "juntada" de imagens criar, um lindo e maravilhoso lugar, como imaginou o autor.

Assim como para muitos, Nosso Lar seja a visao única do espírito de André Luiz, de como ele viu a vida após a morte física, o lugar ideal do filme Virgin River, seriam versoes do autor, na vida real.

Creio que cada um tenha a nocao de lugar feliz, de que sao boas pessoas em tempos atuais, verdadeiros amigos, um lugar acochegante como o Bar do Jack (este de fato existe no Canadá), e as poucas coisas que vemos na realidade, se tornam duras demais,.

O Juiz de direito, advogado, escritor, espírita  De Lucca, autor de vários livros importantes e de reflexao, que também é médium de Bezerra de Menezes entre outros, qual tive o prazer de conhecer(De Lucca), em seu livro Cura e Libertacao, que já salvou inúmeros depressivos, e candidatos a suícidios, disse que quando da pergunta onde está DEUS, e ele responde, "Deus está dentro do coracao de cada um de nós."

E o Lugar perfeito, voce leitor pode questionar, o tal da paz, da alegria, da felicidade, de pessoas boas, verdadeiras, sem interesse, onde achamos Virgin River,....

Bem eu, certa vez encontrei  algo parecido com a série, em 2012 eu lhe responderia vá até Águas de Sao Pedro, 12 anos depois, e ainda vendo a série, a resposta certa,  onde está este lugar.

Segundo o espírito de Miguel que sempre me orienta, diz, que paz, felicidade, tranquilidade, assim como Deus, está dentro de nós, e boas pessoas ao nosso lado, sao as que escolhemos que se tornam nossa família de verdade, e as vezes nao conseguimos dar a elas o devido valor.

Eu tenho uma família, e tenho uma família que formei sozinho com poucos amigos, uns em Ribeirao Preto, outros em Cotia, outros em Florianopópolis e outros em Piracicaba, espalhados pelos mais diferenciados lugares do Brasil, muitos já se foram do planeta, outros me ajudam a viver, até hoje.

Amigos a grande verdade, que a nossa paz, nossa felicidade nao pode depender de ninguém, nem de nenhum lugar, nem mesmo dos amados da família de sangue ou da família que formamos na nossa VIRGIN RIVER, um lugar feliz e imaginário, tudo isto está dentro de nós, eis a verdadeira resposta.

Esperamos demais de familiares, de amigos que adotamos, e até de quem amamos, acreditar ou nao em Deus, Jesus, Buda, Maomé, é escolha, qual a canoa certa, bem, isto somente cada um de nós, em nossas realidade poderá saber, quando partir.

Outro dia na internet vi uma mulher escrever sobre Kardec, que ele dava respostas, sempre digo que as respostas, dependem muito.

Na verdade a boa resposta está em como de fato fazemos a pergunta, por isto Kardec, nos deu rumo e direcao.
Lembre a experiencia de vida, nos dá a verdadeira resposta, assim como no que acredita, a felicidade e a paz está dentro de voce,.


Paz...e aproveite a vida, ela pode acabar a qualquer momento, tente sempre e seja feliz!



David Chinaglia, 66 anos, radialista, jornalista, escritor, espírita, editor deste blog, desde 2011, divulga o espiritismo, e fala sobre a vida neste blog criado por Rogério Sarmento.
Pelo e-mail davidchinaglia@gmail.com responde as perguntas do texto, e sobre o espiritismo.


quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Espíritos: da Identidade à Idolatria por Marcelo Henrique

                               



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“Um Espírito pode não ocupar entre os seus semelhantes a posição que lhe atribuímos; mas se for verdadeiramente superior deve ter-se despojado de todo orgulho e de toda vaidade e, desde então, olha o sentimento e não as exterioridades” Allan Kardec (“Instruções práticas sobre as manifestações espíritas”).

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Entre a conduta de Kardec no contato com inúmeros Espíritos e a sistemática adotada nas instituições espíritas brasileiras, neste e no século passado, há um evidente e enorme hiato.



O professor francês, a seu tempo, empreendeu com as Inteligências Invisíveis uma série de diálogos produtivos, graças a presença e atuação dos médiuns com quem diretamente conviveu. Em paralelo, também se dedicou e se debruçou sobre um sem número de psicografias, enviadas por meio de cartas endereçadas à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, oriundas de outras partes da França, da Europa e, até, da América.

Kardec jamais se empolgou com as assinaturas, nem, tampouco, deu importância desmedida aos falíveis humanos do seu tempo, que detinham faculdades orgânicas para o exercício da Mediunidade. Tratou uns e outros com respeito, mas sem admiração idólatra ou desmedido entusiasmo. E olha que, das mensagens que selecionou e publicou, muitas delas continham assinaturas ilustres, de personagens gabaritados de vários tempos, não sendo necessário desfilar, aqui, seus nomes.





Para além da identidade grafada nas assinaturas, ele, racionalmente, buscou comparar os estilos com os textos que os mesmos produziram em vida, ou com seus traços biográficos. Muito além, também submeteu cada escrito aos crivos de verdade e utilidade (necessidade), para além do da bondade, também importante - todos atribuídos historicamente a Sócrates - em cada um dos textos que selecionou, afastando aqueles que descartou, por não cumpridores destes requisitos.

Observando, cuidadosa e criteriosamente, o MÉTODO de Kardec para a elaboração de suas obras, vamos constatar:


1) Critérios para a aceitação de mensagens:

a) concordância entre os relatos, ditados por diferentes Espíritos a distintos médiuns; ou, recebidas em locais diferentes; ou, ainda, recepcionadas em várias épocas;

b) logicidade, isto é, obediência ao padrão intelecto-cognitivo da época e não conflitiva com o padrão cientificamente estabelecido; e,

c) superioridade espiritual, ou seja, a competência demonstrada para tratar de certos temas.

2) Critérios para a classificação dos Espíritos, sobretudo os considerados Superiores:

a) linguagem digna (respeitosa, educada, benévola, sem maldade ou agressividade e não-coercitiva);

b) não-contradição, dentro do próprio texto ou, caso o Espírito já tivesse se pronunciado, entre o texto novo e o(s) anterior(es), por ele assinado(s);

c) linearidade, isto é, a apresentação do conteúdo sem falhas de lógica e sem conflitos com a filosofia e as ciências; e,

d) qualidade, na forma da inequívoca demonstração de possuir, o Espírito, conhecimento elevado (além da ciência da época ou sem desconhecer os padrões científicos vigentes) e elevação moral (o bem como mestre).

Vemos, por aí, na formatação das psicografias, uma quantidade imensa de textos que não atendem aos requisitos kardecianos, mas que, infelizmente, são tomados como conteúdo "complementar" à Doutrina dos Espíritos. O problema não é psicografar nem exercer a liberdade de pensamento e expressão. Longe disso. O problema continua sendo o de não perceber que, inobstante um linguajar poético, melífluo e com expressões de aparente moralidade, o contexto apresenta, seja para o Espírito seja para o médium, apenas a satisfação da vaidade e do orgulho, expressões das exterioridades mundanas, tendentes à idolatria cega, como, aliás, consta do texto selecionado para esta nossa conversação.





Mais Kardec, portanto. E menos mediunismo!




Marcelo Henrique é professor, advogado, pesquisador, jornalista, escritor, um dos maiores divulgadores da Doutrina Espirita no Brasil, sendo o criador e um dos administradores da Rede ECK (Espiritismo com Kardec), que se destaca nas redes sociais, e na internet como um todo, é colaborador deste blog desde 2011.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Rivail (Allan Kardec), muito mais que um cientista pesquisador.

 


Hoje completamos 220 anos que chegou ao planeta terra, o ser humano, Hipollite Denisard de Léon Rivail, certamente o ano de 1804, acentuado de números agudos em sua composicao, foi marcante para todos nós seres humanos, Rivail certamente nao inventou o espiritismo como insistem alguns fanáticos, ele inventou uma forma lógica, racional, adulta, coerente de se comunicar com o plano espiritual, a partir de 1854, quando de fato se interessou e se atirou a fundo a questao da vida após a vida na terra.


Dizem em números que nao posso comprovar, que em todo o planeta terra, em 2024, apenas 150 milhoes de pessoas acreditam no Espiritismo no formato de Allan Kardec, pseudonimo adotado pelo Frances, Rivail.

Se consideramos 8 bilhoes de habitantes neste planeta, dos quais mais de 3 bilhoes, sao ateu, nao acreditam em nada, em vida após a vida, Deus, Maomé, Alá, Jesus, nada, apenas na vida no planeta terra, o trabalho de Rivail foi fantástico pois em apenas 14 anos estudando a doutrina e revelando metódos sérios, ele conseguiu de forma direta ou indireta que 2% da populacao Mundial, acredite em seus conceitos e descobertas.

Para sempre todo espírita vai questionar em qual canoa deseja romper a dimensao, a séria, objetiva, fria em alguns momentos, lógica, cientifica de Rivail, ou agregar canoas religiosas, crencas que nao existirao da forma retratada, falsas informacoes que as igrejas perpetuam, como forma de manter, segurar um gama de quase 4 bilhoes de pessoas em todo mundo, para criar a balanca do medo e do equilibrio, com um inferno que nao existe, nao da forma sagaz divulgada, até porque o espiritismo criou sobretudo no Brasil, seu inferno TOP, que é o Umbral, este uma forma de escolha e nao de punicao.

Rivail, acreditava que cada qual responderá por suas atitudes, Jesus já dizia isto, mas em tempos, que a existencia de Jesus é questionada por mais de 2 bilhoes de pessoas, fiquemos pelo menos com o conteúdo, se preocupando menos com o homem de 2024 anos atrás.

Rivail em seu tempo tomou para si a forma de divulgar, segurou na sua revista espírita o que seria ou nao publicado, debateu com o espírito da verdade, democraticamente, o que a humanidade, sobretudo nascida na Franca seu maior foco entao, tinha capacidade mental de absorver.

De qualquer maneira, Rivail foi brilhante, um cientista da mente, da fé, sobretudo, um homem que nao admitia que tudo terminasse aqui.

E bravamente pesquisou, lutou, entrevistou, atrapalhou sua vida pessoal, sua saúde, para ir mais a fundo do que podia em 14 anos, se tornou também um mensageiro, que as vezes controlava o que deveria ser informado a grande maioria, mas, deixando seu seleto grupo de 60 a 80 pessoas informadas do que de fato era importante.

Confiou, eu penso que sua grande companheira o enganou ao colocar coisas no seu último livreto que gerou a obra chamada de Obras Póstumas, mas, sei que faco por parte, dos poucos, que acreditavam numa conspiracao dentro da Casa do Caminho de Kardec, afinal ele ficava de posse de informacoes, que num futuro seriam de suma importancia.

Tanto que duas pessoas na Franca, acreditam que Rivail deixou um digamos caderno de instrucoes, escondido ou guardado para ser publicado após sua morte, porém ninguém de fato o encontrou pois o guardiao, de tal instrumento sempre foi negado por Amélie.

Sim espíritas, temos conspiracoes contra nós desde o tempo de Rivail, elas cresceram no Brasil, sobretudo no entorno de Chico Xavier, que era apenas um transmissor, um homem simples, com acertos e falhas, nunca um santo como alguns falam em Uberaba que ele desejava ser lembrado.

Diferente de Chico Xavier, Kardec que nasceu católico, a partir de 1854, retirou suas crencas, embora nao combatesse diretamente da Igreja Católica, sabia que na verdade tanto os católicos como os protestantes criaram no em torno de Jesus, uma forma de controle, pelo medo e pela fé.

Já Rivail, quis nos revelar a simplicidade que teremos uma vida após a morte fisíca, qual vida, depende do que de fato somos aqui.

Nossos pensamentos, ele nos alinhou a Jesus como forma de nao esquecermos o que de fato Jesus em seu conteúdo quis dizer, somos o que queremos ser, seremos após a vida, o que plantarmos aqui, se voce vai cair com a cara na lama como fez André Luiz, é porque voce carrega a culpa, nao concedeu o perdao, até porque as fraquezas de André Luis quando encarnada eram iguais que 90% da populacao, crer, ter fé, depende da vida que voce leva, perdoar, vai de seu coracao, pare e pense se uma vida de 95 anos apenas, lhe dá o direito de conviver com o conteúdo Jesus em espírito, ou grandes espíritos.

Eu creio que nao, creio que seremos surpreendidos, e Rivail fala muito sobre isto, tem um problema a comunicao de Rivail é para poucos se realmente somos 150 milhoes de espíritas em todo o mundo, apenas uns 50 mil, em todo o mundo entenderam o que de fato foi Rivail, ele nos deu uma formula, nao da bomba atomica, nem de como viajar anos luz encarnado, mas de aceitar, que podemos ter uma vida espiritual, paralela, igual a temos aqui, como espíritos diferentes, ou iguais, depende do que for necessário.

Particularmente se seguirmos Rivail, temos que aceitar que neste momento ele pode estar neste planeta, reencarnado, pode estar lendo o que escrevo aqui sobre ele, pode estar envolvido em um novo projeto.

Certamente sobretudo no Movimento Espírita Brasileiro, tudo que o espírito da verdade e outros ensinaram a ele, está sendo rasgado, pois o MEB, mais parece uma filial da igreja católica ou as vezes até evangélica espírita, do que mentes abertas, ao livre pensar.

Podemos ter várias versoes de nós em várias dimensoes, sim podemos, o espírito é infinito, podemos nascer e renascer tantas vezes quanto necessário, sim podemos, o que nos espera, sinceramente, pouco importa, o que teremos pela frente serao na vida após a vida um seguir, um novo aprendizado, um comecar de novo, e se chegarmos lá sem conhecimento, voltamos ou aqui, ou em outro planeta.

Parabéns ao espírito de Rivail onde ele estiver, o conteúdo Kardec, apesar de modificado, nos deu a toda humanidade, uma esperanca, ou seja de fato existirmos, pois se tudo acabar aqui, nao passamos de animais que pensam, nao passamos de uma forma de vida improdutiva, como penso ao contrario, sigo e seguirei na canoa do Rivail, com seus ensinados ou seja com a bandeira do conteúdo de Jesus.


VIVA KARDEC, OBRIGADO RIVAIL, EM FRENTE... 

David Chinaglia, 66 anos, jornalista, radialista, espírita, pesquisador, divulgador da Doutrina Espírita condificada e ensinada por Allan Kardec, editor deste blog a 13 anos.















quinta-feira, 29 de agosto de 2024

O ABORTO E A PSICOLOGIA FETAL - POR NUBOR ORLANDO FACURE




Tem-se tornado comum a leitura na imprensa, de opiniões de médicos defendendo com equívocos a “normalização” do aborto. Colocam-se em defesa da mulher, de suas prerrogativas sociais e de seus direitos à saúde, dignas do reconhecimento de todos nós. Porém, parecem ignorar totalmente que a maior vítima do aborto será sempre a criança que está por nascer.

Numa análise superficial da evolução recente da Medicina, podemos notar uma seqüência de contribuições importantíssimas ocorridas na área da contracepção, para poder dispor a própria mulher da opção de engravidar ou não. Do ponto de vista social, a evolução foi também notória. O nível de informação da menina-moça de hoje é quase completo e desinibido.

Reduziram-se as pressões sociais contra a mulher solteira que engravida e as relações sociais que regem o “convívio afetivo” entre pessoas que se afeiçoam, estão cada vez mais liberais e criativas.

O caminho a percorrer, tanto na área Médica como Social, ainda deverá ser longo, até que toda questão da gravidez “não esperada” seja resolvida. Ainda teremos que redigir o “Estatuto da Criança que está por nascer” e a sociedade deverá compartilhar com a mulher-mãe, o compromisso da vida de maneira solidária.






Venho nos últimos anos estudando o “Complexo Cérebro-mente” procurando identificar como se processa esta relação entre os fenômenos físicos e sua transformação em respostas ou percepções psicológicas. Parece muito claro que o cérebro, por si só, não é capaz de justificar toda capacidade de Mente Humana e o conhecimento científico é muito limitado para alcançar as razões filosóficas da natureza humana e do seu destino.





Tenho uma visão espiritualista que me permite identificar a Mente como uma entidade corporificada que instrumentaliza o cérebro para se inserir na realidade física em que vivemos. A Mente Humana tem se aprimorado dentro do mesmo processo que forçou, pela seleção natural, a evolução das formas físicas dos organismos que vivificam o nosso mundo biológico.


Na semiologia neuropsicológica, freqüentemente se confunde a Mente com os nossos processos psicológicos, parecendo que estes às vezes são a causa e não o efeito.

A instrumentação neurológica de hoje só nos permite identificar os fenômenos psíquicos através da semiologia grosseira de estímulo-resposta, provocando reações através do cérebro. Ainda falta muito para aprendermos a avaliar, por exemplo, o conteúdo da consciência, a extensão dos fenômenos intuitivos e o grau superlativo das nossas percepções interiores.





Para Freud, o “Aparelho Psíquico” de cada um de nós, começa a se estruturar apenas após o nascimento através da atividade motora. O gesto da criança que toca o seio materno vai lhe inspirando segurança e, com os movimentos do corpo, ela vai se relacionando com o mundo exterior. A partir daí passa a fazer identificações e expor suas inclinações.

A Neuropsicologia de hoje está, no entanto, antecipando cada vez mais o aparecimento de expressões do Psiquismo no ser humano. Bem antes do nascimento, as manifestações de vivência agradáveis ou não da mãe, já imprimem na mente da criança que vai nascer, reações que logo após o parto podem ser semiologicamente confirmadas.

Análises com figuras ou retratos mostrando, por exemplo, o rosto da mãe, podem ser estímulos eficazes para o recém nascido que, se supõe, pode até distinguir um rosto com um sorriso de outro que expressa seriedade. Estímulos sonoros correspondentes à voz humana também podem ser discriminados pelo recém nascido, especialmente quando se trata da voz da sua própria mãe. Nos congressos de neuropediatria já estão incluídos em sua temática a apresentação de trabalhos sobre o Psiquismo Fetal. Esta é uma área tão intrigante como foram as revelações sobre o Inconsciente após os estudos de Freud. Antes dele ninguém podia suspeitar de uma ligação materno-infantil tão fortemente ligada à sexualidade, nem se poderia compreender as paixões que o Complexo de Édipo esclareceu. É claro que continuamos com perguntas fundamentais aguardando novas revelações.





Qual é a essência do “Psiquismo Fetal”, quando ele se inicia e qual a sua interdependência com os pais.

Parece que estão certos os orientais que começam a contar a idade de suas crianças pela data da concepção.

A confirmação de um “Psiquismo Fetal”, intimamente ligado ao “Psiquismo Materno”, implica mais um motivo para nossa meditação quando falamos de aborto.




Nubor Orlando Facure, 84, é médico, neurologista, espírita, escritor, amigo e médico de Chico Xavier com quem conviveu durante 50 anos, é presidente do Instituto do Cérebro em Campinas, foi como médico diretor, da Unicamp, o primeiro a falar de Espiritismo, autor de vários livros, viveu o chamado milagre de Uberaba com Chico Xavier, e colabora com este blog desde 2011, atende sobre este tema no ifacure@uol.com.br 














quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Simplismos, Achismos e Falácias: quando as especialidades em áreas do mundo são incapazes de versar sobre assuntos espirituais - Por Marcelo Henrique

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Recomendável é que pessoas dotadas de conhecimentos vagos e ideias generalistas (não raro, também, preconceituosas) não realizem críticas de prejulgamento e de depreciação de pessoas ou instituições, sobretudo quando relacionadas a expressões de fé e religiosidade, sejam ou não religiões.

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Vez por outra, vários de meus contatos têm me enviado vídeos em que certas personalidades do ramo “coach”, palestrantes de renome, autointitulados de professores ou filósofos tecem considerações sobre vertentes da prática espiritualista no Brasil. E, muitas vezes, o “alvo” das opiniões – e não são nem mais nem menos que isso, apenas opiniões – são as chamadas condutas espíritas, associando suas falas a eventos, fatos noticiados pela mídia ou pessoas vinculadas a atividades ou instituições espíritas.



Devo salientar, primeiramente, que não sou contrário à manifestação de opinião, nem poderia ser, tanto por minha trajetória como jornalista, quanto na de jurista. Sob a égide da Constituição Federal brasileira, vigente desde 1988, o direito à livre expressão e à livre manifestação de opinião acha-se assegurado, garantido e qualquer tentativa de obstáculo ao livre pensamento manifesto é punível na forma da lei.



Óbvia e obrigatoriamente, a mesma espada que concede a prerrogativa também ceifa os excessos, punindo abusos e desrespeitos, bem como as ofensas à moral das pessoas envolvidas, prejudicadas em face da opinião manifesta por outrem, quando a Justiça se utiliza da balança que coloca em equidade os polos opostos e em confronto jurídico. Aí estão, portanto, os dois símbolos da deusa Têmis (Themis), que representa a Justiça para o mundo moderno e contemporâneo, remontando aos gregos, originariamente, e aos romanos, ainda que, entre esses últimos, a deusa se chamasse Justitia.



Não é o mote deste artigo falar diretamente de situações específicas em que estivesse sob ataque e desrespeito a honra de pessoas ou instituições ligadas a correntes espiritualistas e, dentro destas, ao Espiritismo.



O mote deste ensaio se dirige ao “direito” de qualquer um se achar “especialista” e, como tal, assenhorear-se de matéria que não conhece, não domina, não se aprofunda, interpretando apenas e tão-somente fatos do cotidiano e atribuindo-lhes valorações, pressupostos, causas e consequências.



A imensa maioria destes “catedráticos” que se ocupam de temas ligados à Espiritualidade – e, muitos deles, evidentemente, pertencentes ao segmento e ao campo de seitas ou religiões – costuma se basear em “juízos comuns”, em apreciações do “vulgo”, que se distanciam tanto da essência quanto da natureza, em grande parte das situações, de questões voltadas ao Estudo do Espírito.



É fato que a Humanidade, mesmo em tempos imemoriais e primitivos, dos quais só temos parcos registros rupestres ou em afrescos artísticos, sempre se interessou pelo sobrenatural, pelo espiritual ou pelo transcendente. Naturalmente, em face da condição de precariedade de conhecimentos e incipientes culturas, praticamente vinculadas ao sobreviver junto à natureza. Época e cenário perfeitos para o mítico e o místico, com a presença efetiva de indivíduos dotados de alguma sensibilidade espiritual – que, em nomenclatura espiritista, se diz MEDIUNIDADE.



Pajés, curandeiros, caciques, entre outras denominações, foram, a seu tempo, os protagonistas na explicação dos “mistérios” entre a Terra e o Céu, tratando do império e da atuação das forças espirituais sobre pessoas, coletividades e raças. E, não raro, obtendo benefícios de variado matiz, entre glórias, honrarias, presentes e valores, inclusive financeiro-monetários.



Um elemento importante que é o nexo e o vínculo entre as situações espirituais e os humanos envolvidos é o interesse. Para quê? Por quê? Como? Quais as consequências? Estas e outras perguntas devem estar sempre na pauta quando o contexto for o de inter-relacionamento entre pessoas para tratar de questões afetas à espiritualização ou espiritualidade.



Estabelecidas essas premissas, voltemos ao tópico principal que nos motiva a escrever este ensaio.



O que é o Espiritismo? O que é a Mediunidade? Todos os que mantêm algum contato ou intercâmbio com os Espíritos são espíritas? Existe um único “modo de ser” ou “modo de entender” o Espiritismo?



Evidentemente que não. Livros e religiões, seitas ou filosofias não existem de modo absoluto. São estáticos e amorfos. Existem enquanto tese. Se resumem aos escritos e recomendações feitas por alguém, em determinado intervalo da História da Humanidade, passando, a partir daí, a ser interpretados e “postos em movimento”, por meio de ações (humanas).



Em essência, há católicos, protestantes, evangélicos, espíritas, budistas, maometanos, hinduístas, etc., que são intérpretes e acreditam nos pressupostos das filosofias ou religiões de que se constituem seguidores, fiéis ou adeptos. E, como o viés interpretativo é pessoal e único, quem será o melhor intérprete? Quem estará agindo fidedignamente em relação aos pressupostos ideológico-filosóficos de uma religião, em todas as situações?



Perguntas de difícil resposta...



O que os “especialistas” citados no início deste texto mais fazem é interpretar “facetas”, “detalhes”, “condutas pessoais”, “nuances”, “exemplos isolados”, dando-lhes o caractere de generalidade e, por consequência, o de oficialidade ou de natureza ou essência.



Um pequeno exemplo. Durante décadas, o pessoal do “showbusiness” brasileiro visitou um médium (do tipo “curandeiro”) para receber informações do “Além” ou realizar procedimentos de atendimento, auxílio ou assistência a dores físicas ou espirituais (psíquicas). No entorno, entre os espíritas vinculados a instituições regulares – que nós chamamos de “movimento federativo”, nacionalmente estruturado e que congrega centros ou instituições espíritas em todo o país – havia um misto de curiosidade, de admiração e respeito, e algumas manifestações de desconfiança, em função de informações egressas da mídia, em reportagens escritas ou de vídeo, em programas de audiência nacional.



Quando, um certo dia, ocorreu o escândalo, decorrente de investigações policiais e judiciais sobre a conduta (humana) do aludido médium, divulgando-se a sucessão de crimes por ele cometidos, inclusive no âmbito sexual, a imensa maioria dos espíritas, vinculados a grupos, centros ou federativas, assim como responsáveis por meios de difusão espírita (sites, blogs, listas ou grupos de comunicação), se arvoraram em “juízes não togados” e se apressaram em dizer: - Ele não é espírita! – Ele nunca foi espírita, mas espiritualista! – O fato de ser médium e interagir com desencarnados não significa ser espírita! – O Espiritismo não endossa suas práticas! Entre outras manifestações...



É ou não é? Quando é e quando passa a não ser mais? Quando pode ser “enquadrado” como espírita e quando não pode? Outras perguntas quase sempre sem respostas válidas e pertinentes...



Como não é necessário abordar os contornos da situação acima – até porque à época já escrevemos acerca dos fatos públicos – mas tratar de forma objetiva e pontual as “falas” dos tais “especialistas”, que se arvoram em críticos e em conhecedores da “religião espírita” brasileira, pretendemos enumerar alguns elementos, para, ao final, concluirmos nossa análise.



É o que faremos.



1) O Espiritismo, enquanto filosofia ou doutrina originária, é obra da organização de um homem, cujo nome (pseudônimo) é Allan Kardec, que foi responsável pela redação e publicação de todas as obras ditas espíritas (trinta e duas ao total) e que coordenou pessoalmente as ações e atividades do primeiro centro espírita do mundo, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas;

2) Àquela época (1857-1869), centenas (talvez milhares) de instituições de motivação espiritualista-espírita apareceram e vigoraram na França, em outros países da Europa e em outras partes do mundo. Receberam, pois, material, correspondência e orientações de Kardec, que jamais interferiu ou disciplinou condutas, apenas realizando recomendações e sugestões;

3) O Espiritismo não é, jamais foi ou, na vontade de Kardec, não seria uma religião. E este é o elemento que deveria ser levado em consideração pelos “críticos”, “especialistas”, “comentaristas” e “opinólogos” (sim estou criando um neologismo para destacar, uma vez mais, que as “análises” são desprovidas de qualquer lastro de essência e conteúdo, representando meras opiniões de quem se assume como julgador de condutas alheias);

4) Por não ser uma religião, nem formalmente nem na sua constituição prática – embora seus adeptos assumam, em identificações de registros, formulários e documentos que possuem uma religião, a espírita, e, em regra, não estejam vinculados a nenhuma das religiões oficialmente estruturadas e organizadas como tal – não há que exigir-se conformações e padronagens, isto é, não é possível dizer (da mesma forma como os espíritas se manifestaram após os escândalos com o conhecido médium) que TUDO é Espiritismo ou NADA é Espiritismo. Sob pena de enquadrar-se “tudo” como sendo, ou de deixar de lado aquilo que “não lhe parecer ser”;

5) O sentido natural de uma ideia, em qualquer área do conhecimento humano, é a de ser acessada (lida, em regra, mas também podendo ser ouvida) e, depois, ser entendida e interpretada. É por isso que, acima, falamos da filosofia ideal, originária, expressa em livros e documentos, “neutra” e que requer “materialização”, objetividade e realidade, na atuação de um ou mais indivíduos;

6) Neste sentido, há modos de ver o Espiritismo, modos de o sentir e o expressar, alcançando, portanto, uma infinidade de atitudes e condutas, todas elas interpretativas. E cada uma delas representa a forma de interpretação com base no entendimento que decorre do nível intelectual-sensorial-sensitivo de cada ser, individualmente falando;

7) O Espiritismo também não possui um “órgão central mundial”, uma espécie de “vaticano”, de onde seriam emitidas normas de comportamento e a quem se delegaria o poder de censura e julgamento sobre atitudes de pessoas ou de instituições. Este é um ponto claro que diferencia o meio espírita das demais conjunturas religiosas do Brasil e do Mundo, em que todas as demais se acham estruturadas sob regras rígidas e dependentes de uma autoridade (individual ou coletiva), em caráter religioso;

8) Para o Espiritismo, o que importa são as intenções (no agir) e as consequências de cada ato humano. Para além da mera forma, vige a essência e ela é responsável pela preocupação na disseminação do bem e pela prática do amor nas interrelações pessoais;

9) Obviamente que o Espiritismo, enquanto filosofia, possui princípios e fundamentos que decorreram das próprias experimentações e vivências de seu fundador-criador-organizador, Allan Kardec, e das obras que ele escreveu – estas, contendo, como se sabe, informações obtidas mediunicamente e reputadas a inteligências invisíveis em condições espirituais superiores às dos humanos (encarnados) –, que são, ao mesmo tempo, estruturais em termos da configuração filosófico-doutrinária espírita, quanto prescritivas, no sentido de recomendações de boas práticas (isto é, aquelas condizentes aos objetivos do próprio Espiritismo); e,

10) A manifestação individual de qualquer adepto – mais ou menos conhecido, famoso ou anônimo, local ou nacionalmente – é, apenas e tão-somente, a expressão individualizada de UM entendimento (pessoal, particular) acerca do Espiritismo, seus pressupostos e fundamentos e suas bases lógico-racionais. O intérprete, assim, não é “mais” nem “menos” espírita que ninguém e nem a sua manifestação ou ação pode ser reputada “ao” Espiritismo, como se o representasse.



Este contexto é significativo, inclusive, para evitar que pessoas dotadas de conhecimentos vagos e ideias generalistas (não raro, também, preconceituosas) realizem críticas de prejulgamento e de depreciação de pessoas ou instituições. Em muitos casos, também, é bastante comum as confusões interpretativas em que se “misturam” práticas do Espiritismo (Kardecista) com outras “linhas” de atuação, sejam elas compostas de sincretismos religiosos diversos, adotando-se práticas que não estão na “liturgia” originária de Kardec, ou conciliando-as com crenças e atavismos individuais ou coletivos. E, ainda, a “confusão” entre Espiritismo e Espiritualismo, entre Espiritismo e Umbanda, entre Espiritismo e Candomblé, ou, até, em instituições que se utilizam de ornamentos, adereços, objetos, vestes e rituais de uma ou mais religiões conhecidas.



Por isto tudo, é sempre recomendável prudência. Primeiro em relação ao que não se conhece. Segundo em relação ao respeito às expressões de fé e crença, que ultrapassam as meras convenções e entendimentos de quem não professa a mesma ideologia. E, terceiro, para tratar com equidade e fraternidade, sem estabelecer comparativos ou eleição de superioridade/inferioridade em relação a culturas, etnias, filosofias, crenças e religiosidades.

E, em tudo, que cada um possa fazer o que melhor lhe caiba, para a difusão da tolerância e da boa conviviabilidade!



Marcelo Henrique, é jurista, professor, escritor, jornalista, um dos grandes pesquisadores espíritas do Brasil, e segue Allan Kardec, é colaborador deste blog,
desde 2012, quando o saudoso Alámar Régis, no deu a oportunidade de nos unir a estre mestre do direito, grande amigo.
Marcelo é um dos fundadores, do ECK, Espiritismo com Kardec, escreve em vários segmentos do espiritismo, hoje em uma de suas páginas vimos e lemos o original, e ele nos cedeu gentilmente, esta importante reflexao que todos espíritas devem fazer, e atentar nas redes sociais, o que é desta doutrina e o que é fantasia, além de nos permitir pensar no que seguimos nas redes, em nome do espiritismo. (David Chinaglia, editor deste blog desde 2011.)



*** A imagem cedida a ECK, é de Robert Nillson por Pixabay

VOLTAMOS!

 

Estamos de volta, em instantes reabriremos as publicacoes, a todos que nos pediram, o afastamento foi motivado por problemas técnicos e de saúde, meus agradecimentos a todos colaboradores deste humilde blog, que fala sobre o espiritismo, movimento espírita, e que tem sua bandeira firme nos ensinamentos de Jesus, e nos de Allan Kardec, qualquer outra base, está fora pelo qual motivo esta doutrina foi revelada, apesar de todos a aceitarem como religiao, nao era isto que Kardec pretendeu, e nem era para ter sido, mas, aqui no Brasil, se tornou.


De qualquer maneira o que serve para as igrejas, serve ao Movimento Espírita, o espíritismo nao é falho, quem é falho sao os homens e mulheres que tentam as vezes exercer um tipo de professorado de Deus, sinceramente nao creio que ele anda com tempo lá em Júpiter.

Aos que me seguem, sabem porque citei o criador em Júpiter.


Obrigado pelas preces, e sigo em frente, com a única ferramento que posso, se é que posso divulgar esta amada doutrina e seus fatos verdadeiros, sem alucinacoes .




David Chinaglia, 66 anos, jornalista, palestrante, divulgador do espiritismo de Kardec,é editor deste blog fundado em 2009 por Rogério Sarmento e por ele tocado deste 2011, com objetivo de divulgar fatos e comentar o Espiritismo, demonstrado nas 32 obras escritas por Allan Kardec, sim o professor escreveu 32 obras e nao somente cinco, ou quatro.